No primeiro turno da atual eleição, pela primeira vez na vida votei tranqüilo em Marina Silva. Não porque ela é mulher, como Dilma Roussef vem dizendo. Não acredito mais nesta lengalenga de que mulher é mais sensível que homem. Basta ver os casos de Margaret Thatcher, de Angela Merkel, de Condoleezza Rice e de Hillary Clinton. Votei no seu programa e na sua seriedade. Se fosse um homossexual negro e evangélico a defender o mesmo programa com a mesma seriedade, ele teria meu voto.
Creio que Marina Silva fez uma campanha honesta, sem apelação, sem aceitar provocação, sem baixar o nível. Plínio de Arruda Sampaio acusou-a de ecocapitalista. No atual contexto capitalista, que presidente pode assumir o cargo sem fazer concessões ao capitalismo? Num regime representativo, não há lugar para discursos e ações claras de esquerda. Conheci Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Lula nos encontros anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nos anos de 1970. Os três, com Darcy Ribeiro e Antônio Callado, faziam fortes pronunciamentos de caráter político socialista. Era fácil, pois estávamos em pleno regime autoritário militar. Com a abertura, os gatos deixaram de ser pardos. Os socialistas foram para partidos diferentes e acabaram mostrando as unhas. Por mais que Lula tenha promovido uma certa distribuição de renda, trata-se de uma política favorável ao capitalismo e, o que é pior, ao consumismo.
De Dilma, sei apenas que foi guerrilheira e que se filiou ao PDT. Acompanhei sua postura pública como figura importante do governo Lula e sempre a considerei uma pessoa dura, produtivista, um verdadeiro rolo compressor. Com os vinte milhões de votos de Marina Silva, as questões religiosa e ambiental se impuseram. Não me preocupei com o fato de Marina pertencer a uma igreja evangélica pentecostal, o grupo mais escapista do cristianismo no Brasil. Repito que foi a questão ambiental, colocada com prudência, e a seriedade da campanha os meus motivadores.
A própria Marina não falou tanto acerca do aborto, do casamento homossexual, da liberação de drogas como Dilma e Serra. Considero demagogia das mais baratas Dilma assinar um documento condenando o aborto e o casamento entre homossexuais a pedido dos evangélicos. Nunca vi nada igual antes. Das mais baratas é também a participação de Dilma e Serra em igrejas, acompanhando missas e fazendo o sinal da cruz. Nenhum dos dois candidatos é confiável para mim. Não votarei no menos pior. Não quero mais este tipo de prática na minha vida.
Mesmo que os dois candidatos à presidência da república se comprometessem, por escrito, a tratar a questão ambiental como estratégica, nada garantiria que acontecesse o que aconteceu com Lula. Ele escolheu uma pessoa respeitável para o Ministério do Meio Ambiente. Depois, ele a isolou até levá-la a uma situação insuportável e a pedir exoneração. Da minha parte, como já escrevi por diversas vezes, a grande contradição do nosso tempo é representada pelo conflito entre desenvolvimento capitalista duro e/ou sustentável versus ambiente. Ele está intimamente ligado à questão social. Não é possível avançar para um sistema socialista num terreno devastado.
Não descuro do direito dos pobres, das mulheres, dos discriminados pelo tipo físico e dos homossexuais. Afirmo, apenas, que a questão ambiental é a mais grave, no meu entendimento. Daí o meu voto em Marina, com ou sem o PV. Seja qual for a posição de ambos para o segundo turno, eu paro por aqui, no primeiro.