(13 Homens e um novo segredo)
Caro apreciador de cinema, tudo começou em 1960, quando Lewis Milestone
lançou Ocean's eleven, titulado no Brasil como Onze homens e um
segredo. O filme reuniu um elenco da pesada, com Frank Sinatra no papel
de Danny Ocean, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford, Angie
Dickson, Richard Conte, Cesar Romero, Shirley MacLaine e outros mais.
Talvez você desconheça a maioria desses artistas. Eram tempos mais
calmos em que os ladrões usavam casaca. O que valia era a inteligência
e a elegância. Era um filme policial sem armas e sem violência.
Os tempos mudaram. Acostumamo-nos a vilões truculentos armados até os
dentes e capazes de façanhas corporais super-humanas. Foi-se o tempo de
arrombar cofres com estetoscópio. Agora, valem as bombas e a bazucas
combinadas com artes marciais. Os filmes policiais de hoje refletem as
mudanças sociais, o aumento da pobreza, a sofisticação das armas e a
tecnologia estonteante aplicada ao cinema.
É neste novo contexto que o versátil Steven Sodebergh resolve prestar
uma homenagem à velha guarda refilmando Ocean's eleven, em 2001. Como
seu colega Milestone, ele reuniu um elenco de primeira. George Clooney
faz o papel de Danny Ocean, que foi de Frank Sinatra. Sob sua liderança
estão os bons companheiros Brad Pitt, Julia Roberts, Scott Caan, Don
Cheadle, Matt Damon, Andy Garcia, Bernie Mac e outros nomes
consagrados. Percebendo que a fórmula nostálgica com ladrões românticos
funcionava em termos de bilheteria, Sodebergh atacou outra vez, em
2004, com Ocean's Twelve. Novamente, o grupo se reúne, agora com mais
um na quadrilha. As regras básicas da gangue são sempre as mesmas: não
ferir ninguém, não roubar alguém que realmente não mereça e seguir o
plano como se não tivesse nada a perder. Ladrões que roubam pelo prazer
de roubar. Verdadeiros artistas do crime. E o cenário é sempre Las
Vegas. O elenco é basicamente o mesmo, com a inclusão de Catherine
Zeta-Jones para embelezar o cenário. Pontas importantes são feitas por
Bruce Willis e Vincent Cassel, este também como um ladrão cheio de
magia no papel do típico francês François Toulour.
Como a fórmula saudosista funcionou novamente, Sodebergh parte agora
para Treze homens e um novo segredo (Ocean's Thirteen, EUA, 2007), o
terceiro da série e com mais um membro. Com o mesmo elenco básico, o
filme conta agora com o reforço de Al Pacino, representando o papel de
Willie Bank, o arquivilão a ser enganado por Danny Ocean e sua turma.
As mulheres desaparecem, ficando apenas a veterana Ellen Barkin
(Abigail Sponder) como braço direito de Bank. George Clooney, Brad Pitt
e Matt Damon afirmam-se como o trio principal do filme. O velho Elliott
Gould, como Reuben Tishkoff, tão diferente de sua época áurea, também
ocupa uma posição de destaque, pois é o motivador do novo ataque da
quadrilha charmosa contra o dono do maior e inexpugnável hotel e
cassino de Las Vegas. Quanto mais difícil o roubo melhor para o grupo.
François Toulour, o refinado (e também ludibriado pelos
norte-americanos) ladrão francês, está a serviço de Andy Garcia. A
ponta, desta vez, fica para a grande apresentadora de televisão Oprah
Winfrey, que representa a si mesma. Como diretor-geral e diretor de
fotografia nos três filmes, Sodebergh se diverte com estas brincadeiras.
Curiosa a carreira deste cineasta, que circula bem entre o cinema
comercial e o cinema de arte. Dele são os clássicos Sexo, Mentiras e
Videoteipe (1989), Kafka (1991) e Solaris (2002), bem como os premiados
Erin Brochvich (2000) e Traffic (2000). Credite-se, a seu favor, o
filme coletivo Eros (2004), em que Sodebergh está ao lado de Antonioni
e Wong Kar-wai.
Todavia, parece que o atual Ocean's Thirteen poderia encerrar a série.
Nele, foi feita uma justa homenagem a Frank Sinatra, e parece não caber
uma quadrilha refinada a se reunir mais uma vez, agora com 14 homens e
um segredíssimo.
