O
eucalipto não é a melhor alternativa para o desenvolvimento do Noroeste
Fluminense. Ao contrário, ele pode agravar mais ainda a lastimável
situação da região, que, em 1500, tinha uma cobertura de 100% de mata
atlântica do tipo estacional semidecidual, ou seja, aquela que perde de
20% a 50% de folhas na estação seca. Isto porque, embora serrana, a
região apresenta baixas altitudes para reter as nuvens que se formam
sobre o mar e são sopradas pelo vento nordeste para o interior.
Uma
economia predatória se instalou nela e produziu um colossal
desmatamento de 99,5%. Restou a pífia cifra de 0,5% espalhada por
insignificantes manchas de vegetação nativa. Os responsáveis por esta
desastrosa supressão foram o extrativismo vegetal, a monocultura
predatória e extensiva e o gado. Atualmente, há também a extração de
pedras ornamentais na mesorregião de Santo Antônio de Pádua. Os
resultados foram catastróficos: erosão, assoreamento dos rios, lagoas e
brejos, poluição das águas superficiais e subterrâneas por agrotóxicos
e fertilizantes químicos, contaminação dos rios, lagoas e do lençol
freático por esgoto urbano, empobrecimento do solo e da biodiversidade,
falta de alimentos, êxodo rural. Não apenas o ambiente sofreu, mas
também a economia e a sociedade.
Quando a Aracruz Celulose
manifestou a intenção de expandir a monocultura do eucalipto para o
Estado do Rio de Janeiro, houve uma série de manifestações de protesto
no norte-noroeste fluminense que culminaram com encontros no Rio de
Janeiro e com a promulgação da Lei nº 4063/2003, de autoria do Deputado
Carlos Minc, hoje Secretário Estadual do Ambiente. A Aracruz pareceu
arrefecer em suas intenções. Todavia, ela apenas esperava um momento
oportuno para dar novo bote.
Parece que o momento chegou, logo
com o governador Sérgio Cabral, que afastou o casal Garotinho/Rosinha e
promoveu o retorno de uma equipe séria para a área ambiental. Pois é o
atual governador do Estado do Rio de Janeiro que enviou à Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro o projeto de lei nº 383/2007,
alterando a Lei Minc, que obrigava o governo estadual a promover um
zoneamento ecológico-econômico para todo o território estadual,
definindo as áreas onde o eucalipto poderia ser plantado. O projeto de
lei nº 383 altera significativamente a Lei para pior. O noroeste é uma
terra desolada. Ele precisa de ações governamentais para restaurar e
revitalizar as áreas de preservação permanente com espécies nativas;
para criar unidades de conservação, já que não conta com nenhuma, e
para promover a agricultura familiar diversificada visando a produção
de alimentos.
* Arthur Soffiati é professor da Universidade Federal Fluminense, Doutor em História Ambiental pela UFRJ e colunista/colaborador do Mania de Saúde.