Entre a chuva e a seca

Não há dúvida de que as temperaturas do planeta estão se elevando. Mas há dúvida quanto ao agente causador do aquecimento. A maioria sustenta que ele deriva do acúmulo de gases do efeito estufa nas altas camadas da atmosfera, impedindo que o calor se dissipe no espaço. Uma minoria entende que ele é resultado de uma atividade ampliada do sol, algo normal na natureza, com tempo contado para terminar. Fico com o primeiro grupo, reunido no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e autor de um relatório bastante convincente. Mesmo que as temperaturas não estivessem subindo, só o fato de condenar as emissões excessivas de gases na atmosfera já justificaria seu trabalho. Os defensores do sol acabam contribuindo para absolver a civilização industrial dos seus pecados.

Quando das intensas chuvas que caíram no norte-noroeste fluminense entre 2006 e 2009, perguntaram-me várias vezes sobre o motivo de copiosa precipitação pluviométrica. Respondi que ela era causada pelo aquecimento global. Agora, com a longa estiagem de janeiro e fevereiro de 2010, fazem-me a mesma pergunta. E a resposta é mesma: aquecimento global. Perguntam-me por que o frio está tão intenso no hemisfério norte e a resposta é sempre a mesma: aquecimento global. As pessoas acabam desconfiando de mim, sobretudo por não ser meteorologista e climatologista. Sucede que leio, raciocino e me convenço das explicações fornecidas pelos especialistas.

A seca prolongada que a região atravessa agora se aproxima mais do quadro clássico do aquecimento global. As temperaturas estão muito elevadas. Talvez, 2010 seja o ano mais quente desde que medições precisas começaram a ser feitas, em 1860. A evaporação das águas continentais e oceânicas tem sido descomunal. Visite-se a região, como eu fiz, e verificar-se-á a aridez do solo e da vegetação. Intensos têm sido os focos de incêndio na cobertura vegetal. As águas acumuladas nas chuvas do verão passado secaram. Há muito vapor d’água no ar. Tanto no norte quanto no noroeste, grande é a presença de nuvens na forma de cúmulos e nimbos. Mas elas não se transformam em chuvas. O que está faltando? Segundo técnicos do Instituto de Pesquisas Espaciais, faltam massas frias para condensar o vapor d’água. Ainda acompanhando sua explicação, formou-se uma barreira entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro que retém as massas frias. Este diagnóstico explicaria também a grande precipitação pluviométrica no sul fluminense e nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

É certo que o fenômeno do El Niño e a grande evaporação hídrica da Amazônia estão contribuindo para o dilúvio no sul do Brasil. Ambos devem ter se estabilizado depois do grande aquecimento natural da Terra, entre 7 mil e 5.100 anos antes do presente. Mas esta explicação requer uma outra explicação: o El Niño e a evaporação na Amazônia estão se intensificando com o aquecimento global. O meteorologista se contenta com a explicação clássica. O climatologista está atento à transição de estruturas climáticas.

Como não podemos mais frear o aquecimento global repentinamente, ainda mais que os países não chegam a um consenso em nome do falso desenvolvimento que se instalou no mundo ocidental e ocidentalizado depois da revolução industrial do século 18, cabe-nos agir na Terra. Na nossa região, governantes e ruralistas continuam tratando as oscilações climáticas de forma atrasada e convencional. Os ruralistas choramingam muito, sempre se dizendo descapitalizados, suplicando dinheiro ao governo e clamando pela decretação de estado de emergência.

Até quando a economia regional vai funcionar na base do improviso e das ações emergenciais? Quando empresários e governantes vão tomar consciência de que foram flechados e procurar o atirador da flecha? Quando vão retirar a flecha do seu corpo e pensar no curto, médio e longo prazos, formulando planos amplos e estruturais? Creio que o pragmatismo e o imediatismo deles vão levá-los à extinção econômica e política. O que não seria nada mau.

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