A saída, onde está a saída?

Semana passada, o articulista Maycon de Almeida escreveu um texto bastante oportuno sobre o pensamento binário que impregna as questões econômicas e políticas dos municípios dos 22 municípios do norte-noroeste fluminense (de quase todos do Brasil). Diz ele, em resumo, que o pensamento conservador, detentor do poder político e econômico, defende com entusiasmo empreendimentos de grande porte, como o polo industrial-portuário do Açu, enquanto os ambientalistas, de outro lado, ao combaterem esses empreendimentos, acabam se limitando a admitir a estagnação econômica da região ou aceitando as atividades econômicas tradicionais, como a cana de açúcar.

Nos meus 32 anos de ativismo em defesa do meio ambiente, posso assegurar que esta atitude binária reina soberana nos poderes executivo e legislativo dos municípios. Os governantes municipais raciocinam da seguinte forma: ou a estagnação ou o desenvolvimento clássico, promovido por grandes empreendimentos. A prefeita de São João da Barra será capaz de vender a alma do município ao diabo para conseguir a implantação do complexo industrial-portuário do Açu. A prefeita de Campos, em balanço recente do seu governo, afirmou que está disposta a bancar o conjunto de obras previstas para Barra do Furado, caso ele não interesse à iniciativa privada. Além de desonestidade e incompetência dos poderes municipais, nota-se uma descomunal falta de criatividade.

No que me toca, não vejo estas três qualidades negativas no pensamento que chamo de ecologista. Sou um remanescente dos anos de 1970, quando uma plêiade de pensadores não apenas detonou uma crítica radical aos sistemas capitalista e socialista, por entenderem que eles eram contranaturais, como formularam também uma alternativa de desenvolvimento. Para eles, havia três opções: a estagnação tradicional, o desenvolvimentismo exponencialista e o ecologismo. Este último trazia embutido uma crítica às outras duas alternativas e uma proposta consistente de desenvolvimento que promovesse condições essenciais de vida a todos os humanos de forma ecologicamente sustentável. A parte da filosofia ecologista que trata do desenvolvimento recebeu o nome de ecodesenvolvimento, que não deve ser confundida com o conceito de desenvolvimento sustentável.

Antes de tudo, o ecodesenvolvimento se apoia em cinco pilares: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade social, sustentabilidade espacial, sustentabilidade cultural e sustentabilidade econômica. O desenvolvimento deve ser promovido por pequenas unidades produtivas na agropecuária, na indústria e nos serviços. Em vez de concentrador, ele propõe a descentralização e a autonomia. As atividades econômicas devem respeitar os limites da natureza, tanto no que concerne à obtenção de recursos quanto no que diz respeito aos resíduos resultantes do processo produtivo.

Por outro lado, esta economia ecologicamente sustentável estará a serviço da sociedade, atendendo às necessidades humanas básicas de alimentação saudável, saúde preventiva e curativa, trabalho ecossocialmente útil, habitação, ecoeducação, vestuário, tempo livre e ecoenergia. No plano geográfico, a descentralização desconcentraria o espaço, distribuindo melhor a população. Quanto às culturas locais, o ecodesenvolvimento vai no sentido contrário à globalização ocidentalizada e capitalista, na medida em que todo processo de desenvolvimento deve levar em conta as culturas locais e ser promovido com a participação coletiva.

Num nível mais amplo, esta proposta se apoia no tripé ecologia-socialismo-democracia. Desde o início dos anos de 1980, venho escrevendo sobre este novo projeto de civilização, que não se resume a combater os empreendimentos megalomaníacos, destruidores dos ecossistemas e geradores de pobreza. O último foi apresentado num congresso sobre utopias em Florença, no sentido mais nobre que a expressão utopia pode ter.

Ao capitalismo não interessa a proposta do ecodesenvolvimento porque seu objetivo não é o lucro, mas os poderes públicos poderiam começar a implementá-la nas áreas não invadidas ou abandonadas pelo desenvolvimento clássico. A grande área que os governos do Estado do Rio de Janeiro e do município de São João da Barra estão dando de mão beijada ao grupo EBX poderia abrigar perfeitamente uma experiência de ecodesenvolvimento, com apoio às atividades tradicionais a fim de lhes capacitar para as sustentabilidades ambiental e social. Respeitando a cultura local, este desenvolvimento não causaria impactos socioambientais como já está acontecendo com o complexo industrial-portuário, ainda nos seus primórdios: destruição de ecossistemas nativos, mendicância, prostituição, banimento de pequenos proprietários e posseiros, violência e narcotráfico. Mas esquerda e direita se dão as mãos quando se trata de promover o desenvolvimento.

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS