Na perspectiva do paradigma clássico, a natureza não passava de um palco onde se desenrolava o drama humano, pela ótica conservadora, e onde se travavam conflitos sociais, pelo ângulo progressista. Embora o palco fosse a fonte de matéria e de energia como também o depósito de lixo, em si, ele era considerado objeto para uso da humanidade.
Foram os ecologistas que revelaram a condição de sujeito de História e de Direito do palco. Sem desmerecer os conflitos sociais pela apropriação do palco, eles advertiram que o palco carecia de respeito e de cuidados especiais para o bem da própria humanidade. Mas esses pensadores, situando-se no plano da reflexão filosófica, não se contentaram em diagnosticar a crise. Eles também formularam um ambicioso projeto apropriado de civilização para os limites do planeta. Para tanto, era preciso promover uma grande mudança, já que a crítica se dirigia de forma contundente ao capitalismo e ao socialismo. A estratégia estava bem formulada. Como se tratava de uma luta ingente contra sistemas fortemente arraigados, as táticas exigiam paciência. Devia-se contar com a ação para a mudança e com os elementos aleatórios.
A educação, norteada por este novo paradigma, desempenharia um papel significativo, conquanto não soberano. Ela funcionaria tanto como uma das táticas quanto como uma arma estratégica. A compreensão do mundo não poderia ser mais fragmentada, como até hoje acontece na educação, porém transdisciplinar, para reunir conhecimentos de forma sistêmica.
Liberais e progressistas fizeram críticas impiedosas à proposta ecologista. Os primeiros acusavam-na de ser atrasada por contestar o desenvolvimento convencional. A esquerda, representada principalmente por João Bernardo, Maurício Tragtenberg e Gildo Magalhães, disse que se tratava de uma ideologia pequeno-burguesa, o último obstáculo à marcha triunfal do proletariado rumo ao socialismo-comunismo. Na década de 1980, os liberais renderam-se à realidade e formularam uma proposta moderada, que se denominou desenvolvimento sustentável. Também os marxistas reconheceram que a crise ambiental tinha fundamento e propuseram a teoria da justiça social.
Da dimensão filosófica, passou-se à dimensão teórica. Não que esta seja dispensável. A reflexão filosófica é que é imprescindível. Os sociólogos de esquerda acusaram, com justeza, a infiltração biologizante na educação ambiental conservadora. Mas, atualmente, passou-se do biologismo ao sociologismo. Os biólogos que se inclinam para a educação ambiental são massacrados pela politização do campo e passam a ter vergonha da biologia ou a esquecem. Nos anos de 1970, defendia-se a sociologização e a politização da biologia, por um lado, e a biologização da sociologia e da política. Era a proposta da transdisciplinaridade. Entretanto, as ciências sociais e as ciências ambientais não conseguiram se entender, voltando-se, de certa forma, ou não se saindo, da monodisciplinaridade. Cientistas sociais ignoram noções fundamentais de ciências ambientais e cientistas ambientais ignoram também noções básicas de ciências sociais.
Assim, a transdiciplinaridade deu lugar à transversalidade. Em vez de uma transdisciplina inserida na grade curricular do segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio, optou-se por distribuir a temática ambiental por todas as disciplinas. Em vez de uma disciplina que organizasse o conhecimento sobre a crise ambiental, este foi pulverizado por todas as disciplinas, o que não contribui para nada, isto quando é ministrada. Os educadores ambientais não estão nas escolas, mas teorizando e escrevendo artigos e livros nas universidades, encastelados em gabinetes governamentais e em encontros... de educadores ambientais, sempre com um projetinho embaixo do braço.
Do palco sem vida, passou-se ao palco concreto, dentro do qual as classes sociais lutam por sua apropriação. A natureza deixou de ser o terceiro elemento com o qual se pretendia fechar um contrato de sobrevivência. Esquerda e direita continuam sustentando que o homem é o ser mais nobre da natureza. Diante deste retrocesso, volto a defender serenamente uma abordagem em todos os níveis de ensino que propugne por uma nova civilização. Volto a defender a instituição de uma transdisciplina chamada educação ambiental, que possa organizar o conhecimento e estabelecer conexões com as outras disciplinas, sempre que possível.