Impasses da educação ambiental no Brasil

Quando a crise ambiental global da atualidade mostrou seus contornos bem delineados, no início dos anos de 1970, seus mais lúcidos analistas perceberam, de imediato, que se tratava de um grande conflito entre os modelos econômicos construídos pela Modernidade – capitalismo e socialismo – e a natureza. Entendendo esta como o conjunto orgânico de ecossistemas que compõem a ecosfera, alertaram eles que ambos os estilos econômicos tocavam e violentavam os seus limites. Em outras palavras, entenderam que capitalismo e socialismo desejam crescer ilimitadamente às custas da natureza, que apresenta limites tanto no fornecimento de matéria e energia quanto na capacidade de absorver rejeitos.
Na perspectiva do paradigma clássico, a natureza não passava de um palco onde se desenrolava o drama humano, pela ótica conservadora, e onde se travavam conflitos sociais, pelo ângulo progressista. Embora o palco fosse a fonte de matéria e de energia como também o depósito de lixo, em si, ele era considerado objeto para uso da humanidade.

Foram os ecologistas que revelaram a condição de sujeito de História e de Direito do palco. Sem desmerecer os conflitos sociais pela apropriação do palco, eles advertiram que o palco carecia de respeito e de cuidados especiais para o bem da própria humanidade. Mas esses pensadores, situando-se no plano da reflexão filosófica, não se contentaram em diagnosticar a crise. Eles também formularam um ambicioso projeto apropriado de civilização para os limites do planeta. Para tanto, era preciso promover uma grande mudança, já que a crítica se dirigia de forma contundente ao capitalismo e ao socialismo. A estratégia estava bem formulada. Como se tratava de uma luta ingente contra sistemas fortemente arraigados, as táticas exigiam paciência. Devia-se contar com a ação para a mudança e com os elementos aleatórios.

A educação, norteada por este novo paradigma, desempenharia um papel significativo, conquanto não soberano. Ela funcionaria tanto como uma das táticas quanto como uma arma estratégica. A compreensão do mundo não poderia ser mais fragmentada, como até hoje acontece na educação, porém transdisciplinar, para reunir conhecimentos de forma sistêmica.

Liberais e progressistas fizeram críticas impiedosas à proposta ecologista. Os primeiros acusavam-na de ser atrasada por contestar o desenvolvimento convencional. A esquerda, representada principalmente por João Bernardo, Maurício Tragtenberg e Gildo Magalhães, disse que se tratava de uma ideologia pequeno-burguesa, o último obstáculo à marcha triunfal do proletariado rumo ao socialismo-comunismo. Na década de 1980, os liberais renderam-se à realidade e formularam uma proposta moderada, que se denominou desenvolvimento sustentável. Também os marxistas reconheceram que a crise ambiental tinha fundamento e propuseram a teoria da justiça social.

Da dimensão filosófica, passou-se à dimensão teórica. Não que esta seja dispensável. A reflexão filosófica é que é imprescindível. Os sociólogos de esquerda acusaram, com justeza, a infiltração biologizante na educação ambiental conservadora. Mas, atualmente, passou-se do biologismo ao sociologismo. Os biólogos que se inclinam para a educação ambiental são massacrados pela politização do campo e passam a ter vergonha da biologia ou a esquecem. Nos anos de 1970, defendia-se a sociologização e a politização da biologia, por um lado, e a biologização da sociologia e da política. Era a proposta da transdisciplinaridade. Entretanto, as ciências sociais e as ciências ambientais não conseguiram se entender, voltando-se, de certa forma, ou não se saindo, da monodisciplinaridade. Cientistas sociais ignoram noções fundamentais de ciências ambientais e cientistas ambientais ignoram também noções básicas de ciências sociais.

Assim, a transdiciplinaridade deu lugar à transversalidade. Em vez de uma transdisciplina inserida na grade curricular do segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio, optou-se por distribuir a temática ambiental por todas as disciplinas. Em vez de uma disciplina que organizasse o conhecimento sobre a crise ambiental, este foi pulverizado por todas as disciplinas, o que não contribui para nada, isto quando é ministrada. Os educadores ambientais não estão nas escolas, mas teorizando e escrevendo artigos e livros nas universidades, encastelados em gabinetes governamentais e em encontros... de educadores ambientais, sempre com um projetinho embaixo do braço.

Do palco sem vida, passou-se ao palco concreto, dentro do qual as classes sociais lutam por sua apropriação. A natureza deixou de ser o terceiro elemento com o qual se pretendia fechar um contrato de sobrevivência. Esquerda e direita continuam sustentando que o homem é o ser mais nobre da natureza. Diante deste retrocesso, volto a defender serenamente uma abordagem em todos os níveis de ensino que propugne por uma nova civilização. Volto a defender a instituição de uma transdisciplina chamada educação ambiental, que possa organizar o conhecimento e estabelecer conexões com as outras disciplinas, sempre que possível.
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