Depois de muito usada, a expressão educação ambiental se desgastou, assim como aconteceu com desenvolvimento sustentável. No princípio, a educação ambiental tinha por objetivo compatibilizar desenvolvimento econômico com proteção do ambiente. Na década de 1990, ela se desdobrou em várias tendências, como mostra o livro “Identidades da Educação Ambiental Brasileira”: educação ambiental crítica, educação ambiental transformadora, ecopedagogia, educação ambiental libertadora, alfabetização ecológica, educação ambiental conservadora etc.
Diante desta proliferação de linhas, há quem diga, atualmente, que bastaria apenas a palavra educação. Se agredimos o ambiente, dizem alguns, é por falta de educação. No Brasil, principalmente, a taxa de analfabetismo, de semi-alfabetismo ou de educação não aprimorada leva as pessoas a menosprezarem o ambiente e a desrespeitá-lo. Uma pessoa verdadeiramente educada – dizem os defensores da palavra educação pura e simples – não cometem atentados à natureza.
Pois defendo postura completamente oposta. O que conta não é a taxa nem o grau de educação, mas o paradigma educacional. Não se pode dizer que graduados em diversos cursos superiores, professores, pós-graduados, mestres, doutores, pós-doutores não tenham sido educados. No entanto, são eles os que mais desprezam e agridem a natureza. O desrespeito ao ambiente é ensinado e aprendido na escola de todos os graus. O paradigma educacional ainda vigente pode se bifurcar em duas linhas. A primeira se funda no humanismo. Nesta vertente, aprendemos que o “Homem” é o ser mais importante do planeta. Pela educação religiosa, esta concepção se sustenta no fato de o “Homem” ser a criatura dileta de Deus, escolhida por ele para reinar e dominar a natureza. Pela educação laica, não é preciso enfatizar nossa condição de filho preferido de Deus. Basta acreditar que o “Homem” é o mais inteligente dos animais, aquele que se separou da natureza e fundou o reino da sociedade e da cultura. A outra linha é a tecnicista, que aplica impiedosamente os mandamentos do humanismo.
Esta ótica cria guerreiros contra a natureza. Na minha vida acadêmica, observo como existe, entre professores e pesquisadores, uma profunda ignorância acerca do ambiente. E não falo apenas de professores conservadores, como também dos progressistas. Todos ou quase todos, a sua maneira, pensam na sua vidinha, na sua carreira medíocre, na sua carreira repleta de títulos, em cargos etc. A maioria deles considera a crise ambiental uma falácia e debocha dos que se preocupam com a destruição da natureza. A maioria não sabe nem quer saber da questão. A maioria diz que esta não é a sua especialidade, como se alguém pudesse se furtar do tema atualmente. Num mundo de especialistas, não é possível dominar matemática, física, química, ciências sociais em profundidade. Mas exige-se um mínimo de conhecimento, como se exige saber ler e escrever.
Assim, um conhecimento e uma atitude mínimos em relação à questão ambiental devem fazer parte de todos, mesmo dos intelectuais de esquerda. De tanto se bater nesta tecla, conhecimentos e atitudes supérfluas têm sido incorporados pela nossa educação, tais como urinar durante o banho para não gastar água com descarga de vaso sanitário, não jogar papel de bala na rua, tratar bem os animais, dar comida a pombos e tantas outras futilidades. Dentro de suas especialidades, o especialista é profundo. Saindo dela, cai no senso comum. Um ameríndio não aculturado tem educação muito mais aprimorada para o ambiente que um dos nossos, como mostra o diálogo que Jean de Léry manteve com um velho índio tupinambá no século 16.
A educação ambiental ministrada nas escolas é deplorável. Consiste em colocar penduricalhos na educação clássica – religiosa, humanista e tecnicista. Além de continuar a enaltecer a magnificência do “Homem”, ela ensina a plantar mudas de árvores e outras baboseiras mais.
No final dos anos de 1970, entendi que a questão estava na mudança profunda de paradigma em todos os aspectos da civilização. Que o alvo era o capitalismo e o socialismo na sua versão pragmática, as duas faces e as duas facas da Modernidade, a crer que a natureza era inesgotável na entrada e na saída. Que o problema estava na concepção (meio hipócrita) destes dois sistemas quanto à importância da humanidade e da simplificação da natureza. Hoje, o alvo se volta apenas para capitalismo, com seu desvario consumista, que não incorpora a complexidade da biodiversidade, da destruição de ecossistemas, da liberação de gases do efeito estufa para a atmosfera. Chamei a este enfoque de ecoeducação e, até hoje, continuo a crer nela.