A grande questão do nosso tempo

A grande questão do nosso tempo
Arthur Soffiati
Ao longo da sua história, o mundo ocidental levantou e enfrentou várias questões. Durante toda a Idade Média, a principal questão foi a religiosa, a do Cristianismo tentando afirmar-se como religião universal. De fato, junto com o Budismo e com o Islamismo, o Cristianismo tem vocação universal por seu caráter missionário. Na visita que o papa Bento XVI recentemente fez à África, sua pregação pautou-se pelo universalismo do Cristianismo em meio aos particularismos culturais.

A partir do século XVI, o ocidente coloca outra questão em evidência: a do Humanismo. Mais do que o Cristianismo, o que conta é a dignidade humana. As denominações cristãs perdem força e o Humanismo alcança seu ápice com a ética laica de Kant, que se proclama universal tanto quanto o Cristianismo.

No século XIX, assoma a questão social. Os críticos das injustiças sociais geradas por todas as sociedades de classe – mas, sobretudo, pelo capitalismo – defendem a construção de uma sociedade sem classes sociais e sem injustiças. Marxistas, anarquistas e o que Marx chamou de socialistas utópicos também consideram universais os movimentos – mais lentos ou mais rápidos – que conduziriam à utopia universal.

No século XX, ativistas de esquerda observaram que, antes da exploração dos pobres pelos ricos, havia a exploração da mulher pelo homem. Constitui-se, assim, o feminismo, que acusa não apenas o capitalismo, como também o socialismo real, de serem machistas e sexistas. O movimento também ganha caráter universal, pois condena a submissão da mulher em todas as sociedades que não asseguram direitos a ela, conquanto já tenham sido capturadas pelo processo de ocidentalização e firmado a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Nota-se, também, que a ocidentalização foi obra de seres humanos brancos e que o domínio do mundo pela Europa e pelos Estados Unidos engendrou uma forte discriminação contra os povos nativos: negros, orientais e mestiços. Daí, a constituição do movimento racial. Os homossexuais se organizam e assumem a sua condição, considerando-se vítimas de preconceito por parte de homens e mulheres heterossexuais; de brancos, negros, amarelos e mestiços; de ricos e pobres. Sua luta reveste-se também de caráter universal. Há homossexuais em todos os países do mundo, ocidentais e ocidentalizados. Cumpre defendê-los.

No processo de globalização, na verdade, de ocidentalização, muitas guerras foram travadas pelo ocidente contra o resto do mundo. Elas eram justificadas, em grande parte, pela necessidade de levar aos "bárbaros" a civilização, os direitos do homem, a democracia, o socialismo, o respeito à mulher, às outras "raças" e aos homossexuais. Embora também universalistas, o Budismo e o Islamismo não lograram o mesmo êxito do ocidente em dominar o mundo porque lhes faltou a mola propulsora do capitalismo. Enfim, todo universalismo é um particularismo imposto. O ocidente vê os costumes diferentes como bárbaros, mas vê suas próprias misérias como normais. Israel, como sentinela avançada do ocidente no oriente médio, comporta-se como seu patrão.

Enquanto estes movimentos todos buscam avançar, não importa como, uma grande transformação está sendo urdida por dentro, por baixo e por cima do mundo ocidental e ocidentalizado. A natureza está sendo agredida pelo modo de vida ocidental praticado pelo ocidente e pelos colonizados, pelos ricos e pelos pobres (cada qual a seu modo), pelos homens e mulheres, pelos brancos, negros, amarelos e mestiços, por heterossexuais e homossexuais. Enfim, pelo modo universal de vida adotado no mundo todo.

Estas agressões passam por despercebidas por dois séculos, mas emergem. Algumas pessoas ocidentais e não-ocidentais, alguns homens e mulheres, alguns brancos, negros, amarelos e mestiços, alguns homossexuais registram a nova questão, esta sim, universal, embora fortemente crítica do modo ocidental de vida nas suas versões capitalista e socialista. Embora crítica do universalismo padronizador, para esta minoria, os estilos de vida dos povos pré-capitalistas encontraram equilíbrio com a natureza, ainda que alguns tivessem ultrapassado limites perigosos.

Esta é a grande questão. Mesmo que o processo de globalização cesse com a crise atual, como já advertem alguns pensadores, as fortes marcas do ocidente ficarão no mundo. Não se trata de desprezar as questões humana, social, feminista, racial e homossexual. Trata-se de redimensioná-las dentro da questão ambiental. Nenhuma delas pode mais ignorar esta realidade dramática. Ela afeta todos humanos e não-humanos. O aquecimento global, sim, é para todos sem discriminação, por mais que alguns possam se proteger melhor dele, enquanto a maioria lhe está exposta. As minorias, contudo, não vivem sem a maioria.

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