Duas práticas predatórias explicam o declínio do pujante ramo da cultura polinésia numa ilha específica: a exagerada extração de pedra e o corte abusivo de palmeiras. Mas há uma terceira: os clãs guerreavam entre si e sua arma predileta era atear fogo na mata do vizinho. Assim, a exuberante floresta da ilha de Páscoa foi devastada. Em conseqüência, vieram a erosão e o assoreamento de nascentes, córregos e mar. O empobrecimento do solo abateu a agricultura e causou muitas mortes. A população reduziu-se em pessoas e em modo de vida. Se Páscoa tivesse o tamanho da Amazônia, o impacto causado por seus habitantes seria significativamente reduzido, pois a cultura pascoana não era tão diferente de tantas outras congêneres. Só que, praticada num universo pequeno e fechado, acabou causando grandes estragos e se voltou como bumerangue contra os que o atiraram.
Com a ocidentalização do mundo, pode-se dizer que a Terra, hoje, é como a ilha de Páscoa. Trata-se de um pequeno planeta isolado dentro do sistema solar, da Via Láctea e do Universo. E o que é pior: com uma civilização extremamente predatória e ecologicamente insustentável. Os pascoanos ainda contavam com a opção de abandonar a ilha. A humanidade também dispõe desta alternativa, só que ainda em caráter de ficção científica. Colonizar Marte exigiria criar as mesmas condições existentes na Terra.
Governos, empresários, sociedade e a maioria dos intelectuais não conseguiram ainda compreender a gravidade do problema, embora outras ilhas estejam nos alertando. Vejamos o caso de Nauru, ilha dotada de belas paisagens naturais e colonizada por ingleses, alemães, neozelandeses, australianos e japoneses. Com 21 quilômetros quadrados, ela se tornou independente há 42 anos. Rapidamente, o padrão de vida dos naurenses tornou-se comparável ao dos países ditos desenvolvidos: cerca de 20 mil dólares per capita. Turismo? Não. Com terrenos ricos em fosfato, Nauru ganhou dinheiro minerando e exportando seu próprio solo. O dinheiro ganho com a rapina permitiu ao governo isentar a população de impostos, garantir empregos públicos para 95% dos habitantes, gratuidade para saúde e educação. Os doentes mais graves eram transportados por avião para hospitais da Austrália. Os estudantes, ao concluírem o ensino médio, ganhavam bolsas para universidades no exterior. Qualquer economista e sociólogo de visão estreita diria que Nauru tinha um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) exemplar. Eis a falácia do IDH: ele pode alcançar níveis excelentes à custa da destruição da natureza e ser, assim, ecologicamente insustentável. É por isto que já se defende o IDH verde. Bom, hoje Nauru vive de ajuda externa, notadamente de suas antigas metrópoles. A festa acabou. No ritmo de rapina da economia de mercado, a festa da Terra também vai acabar.
Rebaixado o nível do seu território, Nauru tornou-se mais vulnerável à elevação do nível do mar pelo aquecimento global. Nesta situação, também se encontram as ilhas de Tuvalu, Vanuatu, Marshal e Kiribati. Recentemente, Anote Tong, presidente desta última, clamou à comunidade internacional para que sua população seja evacuada. Kiribati é uma jovem república formada por 32 atóis no Oceano Pacífico, totalizando 726 quilômetros quadrados. A elevação do nível do mar já engoliu Tebua Tarawa e Abunea, duas ilhotas do arquipélago, enquanto os coqueirais de Tepuka Savilivile morreram por salinização. Tong, formado na London School of Economics, não embarca na veneração intelectualóide às culturas tradicionais, quase sempre falsas: "Nosso povo não quer acreditar nisso", ou seja, no aquecimento global.
Agora, a Maplecroft, consultoria britânica especializada em análises de risco, realizou pormenorizado estudo sobre os países mais ameaçados pelas mudanças ambientais. Em primeiro lugar, estão as ilhas Comores, nas costas índicas da África. As ilhas estão dando o sinal de alarme para a ilha Terra, mas poucos querem ouvi-lo, como em Kiribati.