A população está tão carente de governo que não hesitaria, parece, em votar na Petrobras para prefeito. Pediu-se de tudo à empresa estatal: saneamento básico, hospital, escolas, segurança, emprego etc. Até a emancipação da Baixada foi pleiteada. O representante do CREA percebeu claramente as demandas e lembrou aos presentes a ausência e a omissão do governo municipal, no que foi muito aplaudido.
Quando da audiência pública do heliporto, lá estava o prefeito Sérgio Mendes, que exagerou acerca do número de empregos indiretos a serem gerados pelo empreendimento. Segundo seus cálculos, o Farol ganharia 300 postos indiretos de trabalho. Nada disso ocorreu. Os petroleiros entram e saem do heliporto sem colocar os pés no Farol para comprar uma bala sequer. Agora, que li o EIA, posso assegurar que o aeroporto não será tão diferente. Na fase de construção, que é passageira, a obra não exigirá trabalhadores tão qualificados. Mas, na fase de operação, permanente, deverá trazer de fora ou mesmo de dentro da Petrobras trabalhadores especializados.
Há mais razões para a decepção dos moradores do Farol. A infra-estrutura que eles esperam da Petrobras não virá. Pelo contrário, a empresa estatal vai usar a infra-estrutura existente, aumentando a pressão sobre ela. A água potável será fornecida pela concessionária Águas do Paraíba, que ampliará a adutora já existente. O esgoto do aeroporto passará por tratamento secundário e será despejado no Canal do Quitingute. Dali, rumará para a lagoa do Lagamar. O tratamento secundário elimina os sólidos e os organismos patogênicos, mas não o nitrogênio e o fósforo, que acentuarão o processo de degradação do Lagamar. O balneário irresponsavelmente criado dentro de uma Área de Proteção Ambiental deve declinar. Digo irresponsavelmente porque a prefeitura sabe de suas inadequadas condições sanitárias.
As escolas para os filhos dos trabalhadores deverão ser as escolas que eles já freqüentam. Nenhum hospital vai ser instalado pela empresa no Farol. Apenas um posto de atendimento dentro do aeroporto. Pacientes necessitados de internação ou de cuidados especiais serão encaminhados para a rede hospitalar já existente. O lixo passará por uma seleção prévia, mas deverá ser depositado nos sistemas já instalados no município.
O tráfego de automóveis, vans e ônibus vai aumentar consideravelmente. No entanto, não há previsão de novas estradas, sequer de desvios para desafogar o trânsito, por parte da Petrobras. Aumentarão os ruídos e o desconforto no Farol, não para melhor. Os estudos falam apenas de ampliação na arrecadação de impostos. Contudo, a julgar pelo abandono do local por parte do poder público municipal, estes recursos não reverterão em benefício do Farol e arredores.
Note bem, leitor, que não falo nas questões ambientais, pois você, certamente, não se interessa por elas, como ficou demonstrado na audiência pública. Toco apenas nos temas levantados pela população, que se ilude com os prometidos "progresso" e "desenvolvimento". Se os cidadãos deste município e de outros da região quiserem melhoria da qualidade de vida, que recorram ao governo municipal, principalmente o de Campos, que conta com um superorçamento oriundo dos royalties do petróleo. A competência de atender aos reclamos populares é dele, não de empresas que almejam o lucro puro e simples, embora estas também devam ter compromissos sócio-ambientais.