(A família do futuro)
Para celebrar a compra da Pixar, a Walt Disney Pictures fez uma homenagem ao seu criador. Convidou Stephen J. Anderson para dirigir sua primeira animação. Este colocou num liquidificador industrial de última geração um pouco de Metropolis, de Fritz Lang, uma pitada de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, uma colher de Jurassic Park, de Spielberg, uma dose de O Exterminador do Futuro, de James Cameron, uma xícara cheia de A Família Robinson, um cheiro de Guerra nas Estrelas, de George Lucas etc. Para que esta miscelânea fizesse sentido, Michelel Bochner escreveu um roteiro com base livro A Day with Wilbur Robinson, de William Joyce. Assim, nasceu A família do futuro (Meet the Robinsons, EUA, 2007).
Para distinguir-se das animações desenhadas e feitas com peças filmadas quadro a quadro (stop motion), as animações computadorizadas vêm recebendo o qualificativo de 3D, ou seja, em três dimensões. É só maneira de falar, pois elas continuam em duas dimensões, como os desenhos e a técnica stop motion. Em todos os casos, as duas dimensões criam a ilusão de três, ainda mais nesta nova animação da Disney, produzida em técnica digital estereoscópica.
Um menino recém-nascido é abandonado pela mãe num orfanato. A criança é recolhida por Mildrad. De pequeno, já fazia coisa de sarapantar, manifestando uma rara inteligência para inventar. Seu nome é Lewis e ele fica num quarto com outro menino que gosta de beisebol, mas joga mal por não conseguir dormir direito com a agitação insone de Lewis. No futuro, os dois se reencontrarão de forma inesperada.
Na tentativa de encontrar sua mãe, Lewis inventa um escâner de memória, espécie de máquina do tempo que o levará ao momento em que sua mãe o abandonou no orfanato. Na hora de apresentar sua invenção genial numa feira de ciência, o Bandido do Chapéu Coco, vindo do futuro, provoca nela uma falha que inviabiliza seu funcionamento. Em socorro de Lewis, aparece Wilbur Robinson, que irá conduzi-lo ao futuro. Lá, ele entra em contato com a louca família Robinson.
Em torno do complexo Robinson, as plantas são cortadas de modo a adquirirem formas semelhantes às encontradas no desenho animado Alice. O meio de transporte usado são naves que sobrevoam o espaço urbano em três dimensões. Que me lembre, o primeiro cineasta a filmar o espaço tridimensional dos aviões no ar foi Fritz Lang, em Metropolis, de 1926, depois tantas vezes imitada. As forças do mal enviam um tiranossauro rex, bem ao estilo de Jurassic Park, para capturar Lewis. As viagens de Lewis, de Wilbur e do Bandido do Chapéu Coco ao passado e ao futuro, com alterações no fluxo histórico, remetem a O Exterminador do Futuro e Guerra nas Estrelas. Trata-se de uma animação cheia de referências que só os adultos cinéfilos percebem. Tais remissões acabam sendo absorvidas pelo próprio roteiro do filme quando visto por crianças.
Mas, sem dúvida, A família do futuro é uma homenagem a Walt Disney. Basta dizer que, antes de começar o filme, o espectador tem de quebra um desenho com Mickey, Pato Donald, Pateta e Minnie, além da famosa marca registrada do castelo encantado com Sininho aspergindo seu pozinho mágico. Contudo, nota-se que as animações norte-americanas estão esgotando sua originalidade.