CNFCN: trinta anos quinta-feira

Há um filme clássico de Louis Malle intitulado Trinta anos esta noite. Ele relata as últimas horas de um homem de trinta anos que se mata. Quinta-feira última, num auditório do CEFET, assistimos não a um suicídio, mas aos trinta anos de vida do Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza. Minha história está intimamente ligada a esta organização não-governamental desde sua origem.

O CNFCN nasceu por iniciativa de Renato Pinto Venâncio e Ronaldo Miranda Motta, estudantes secundaristas do Liceu de Humanidades de Campos. A contragosto, ingressei em seus quadros. Lembro claramente do dia em que Renato, no tatame de caratê de Tetsou Mizuno, convidou-me a ser um dos fundadores da entidade. Ele e eu havíamos apanhado muito naquele dia. De pronto, respondi que não aceitava, pois sabia como eram os campistas: volúveis, comodistas, conformistas e conservadores.

Mas, lá estava eu, logo depois, acompanhando a nova organização. Em mim, palpitava, desde a infância, o amor por aquilo que denominamos natureza. No início da década de 1970, escrevi uma carta à Embaixada do Peru oferecendo-me a integrar um grupo de cientistas e intelectuais que se instalariam no atol de Mururoa em protesto contra uma prova nuclear da França nesse local. Meu convite foi recusado com muita gentileza, mas o barco com os peruanos não seguiu seu destino e a França realizou o teste. Também em 1971, escrevi um livro de poemas-processo sobre a crise ambiental que ainda pretendo publicar após me aposentar, tamanha a atualidade dele.

Como sócio do CNFCN, impus-me duas tarefas: buscar fundamentos teóricos para melhor compreender a realidade e partir para o ativismo. Confinado nas salas-de-aula até então, eu chegava a ler 60 livros por ano. Do lado de fora, na tarefa de diagnosticar os problemas ambientais do norte fluminense, que, naquela época, compreendia também o noroeste, tive a impressão de perda. No entanto, eu estava fazendo uma leitura de realidade. Eu estava entrando em contato com ecossistemas, com pescadores, trabalhadores rurais, ruralistas, usineiros, políticos, cientistas. Era algo bem diferente da academia.

Tomei gosto pela militância, mas nunca deixei de estudar. Sofri grande influência de autores da linha ecologista, como Michel Bosquet, Rudolf Bähro, Jean-Pierre Dupuy, Dominique Simmonet, Laura Conti e outros. Estes pensadores emergiram dos movimentos de 1968, na Europa, e empreenderam uma crítica severa ao capitalismo e ao socialismo, por julgarem-nos contra-naturais. Ao mesmo tempo, apresentavam um outro projeto de civilização que ultrapassava os dois. Tratava-se de uma nova utopia, porém distinta das grandes utopias da modernidade, das utopias de longo prazo, que só pensavam num mundo feliz para a humanidade. O ecologismo colocava em evidência a importância dos ecossistemas como agentes de história.

Claro que as críticas a este pensamento foram duras. Dos capitalistas, ouvíamos que o ecologismo era contra o progresso, que pretendia paralisar o desenvolvimento e retornar ao passado. Os socialistas e anarquistas, mais cultos e teóricos, diziam que éramos pequeno-burgueses, elementos desempregados da classe média, ingênuos e o último obstáculo ao avanço do socialismo e à construção do comunismo ou anarquismo. Chamaram-me de melancia (verde por fora e vermelho por dentro), de homossexual e de sacerdote-mor de uma seita pagã. Isto sem falar em ecochato.

Nos anos de 1980, a oposição desenvolvimentismo de direita e de esquerda x ecologismo deu origem a uma postura intermediária que tentava esvaziar o conteúdo filosófico, teórico e político do ecologismo, entendendo a crise ambiental como resultante apenas de uma tecnologia defasada. Bastaria desenvolver, portanto, uma tecnologia que fosse aplicada ao modo de produção industrial, de forma a diminuir ou eliminar seu potencial agressivo às pessoas e ao ambiente. Assim nasceu o compatibilismo, sofisticado com o conceito de desenvolvimento sustentável. A terceira via, contudo, não absorveu, em forma de síntese, os desenvolvimentistas rudes e os ecologistas. Acontece que o ecologismo, enquanto proposta, perdeu força. Ele sabia articular muito bem os níveis local e global.

Daí em diante, surgiu o ambientalismo de resultados, com propostas bem pragmáticas. Os marxistas renderam-se às evidências da crise, reunindo Marx e o ecologismo na Teoria da Justiça Ambiental. Um outro grupo cresceu: o dos ecocientistas, que, nas suas pesquisas, concluíram que o aquecimento global existe e deriva de atividades humanas coletivas no planeta. Agora, o ecologismo volta a ganhar força.

O CNFCN teve membros de quase todas estas correntes. A ele sou muito agradecido por me proporcionar a maior aventura da minha vida. Parabéns.

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