Existe uma tese subterrânea segundo a qual o aquecimento da Terra se deve a um ciclo do Sol, e não ao acúmulo de gases do efeito-estufa. No entanto, cada vez mais, a maior parte da comunidade científica se convence de que 1- o aquecimento se deve a ações humanas coletivas no planeta; 2- a terra se aquece mais nos continentes que nos oceanos; 3- o calor e a umidade aumentam; 4- as geleiras marinhas e continentais estão se derretendo e elevando os níveis dos oceanos; 5- as plataformas continentais e as florestas estão chegando ao limite de sua capacidade de absorção de gás carbônico; 6- os fenômenos extremos (muita chuva e muita seca) se acentuam etc. No mundo ocidental, a arrogância do humanismo concebeu cidades que ignoram o ambiente, ao contrário das cidades chinesas, por exemplo. Os ameríndios construíam suas aldeias em lugares altos, longe das cheias. No entanto, as cidades ocidentais se assentam em lugares perigosos. O Noroeste Fluminense não foge à regra. Os vales de rios (falo neles apenas porque não há lagoas no Noroeste) têm dois patamares: o leito de estiagem e o leito de cheia. Ambos são importantes para a pulsação das águas. O leito maior é ocupado com as cheias e representa uma segurança para a economia e para a sociedade.Examinemos cidades como Santo Antônio de Pádua, Itaperuna, Bom Jesus do Itabapoana, Bom Jesus do Norte, Cardoso Moreira e até Aperibé. São núcleos urbanos em grande parte construídos no leito maior dos rios, sejam eles grandes ou pequenos. Os núcleos originais podem estar acima do leito de cheia, mas a expansão levou as cidades para áreas de risco, quer para dentro do leito maior, que para encostas sujeitas a deslizamentos.Os casos de Itaperuna e de Cardoso Moreira são exemplos do que não deve ser feito, muito embora outras cidades da região tenham cometido os mesmos erros. Itaperuna estrangulou o rio Muriaé e desmatou encostas para galgá-las. A cidade está sujeita tanto a inundações quanto a deslizamentos. Já Cardoso Moreira tem cerca de 80% de sua área dentro do leito maior do rio Muriaé. Qualquer chuva pode afetá-las profundamente. E de nada valerá a construção de diques para protegê-las.Se, de fato, o aquecimento global aumentar as precipitações pluviométricas, as cidades do Noroeste Fluminense tornar-se-ão extremamente vulneráveis.
* Arthur Soffiati é professor da Universidade Federal Fluminense, Doutor em História Ambiental pela UFRJ e colunista/colaborador do Mania de Saúde.