Interligando as lagoas de Cima e Feia, o rio Ururaí já é referido no Roteiro dos Sete Capitães. Na segunda viagem dos fidalgos, em 1633, a viagem de batismo dos acidentes geográficos, o capitão Antonio Pinto proclamou a seus colegas: "Já temos dado apelido a outros lugares, é necessário ir dando a outros também, pois estamos em um país inculto, que está em uma escuridade, é necessário que nós lhe demos a luz da aurora, para os nossos vindouros e para a sua civilização." Seus companheiros concordaram prontamente com esta linguagem bíblica. Assim é que, topando com um rio que formava um pântano cercado da palma raraí, decidiram emprestar este nome ao curso d'água. Por sua posição, tudo leva a crer que se trata mesmo do rio Ururaí.
Noutra passagem do controverso documento, escreve-se que "... seguiu a campina e atravessou alguns lagos, direito a um alto que lhe demos o apelido do Retiro, por estar no centro desse alto não muito longe de um riacho d'água que fica ao sudoeste à beira de um mato, vai em direitura à grande Lagoa-feia; desta beira à sua margem da parte norte, por não podermos atravessar a grande Lagoa-feia, até apanhar a barra do rio dos Macacos, vizinho do Ururaí." O rio aparece de inopino, sem ter sido nomeado antes.
Pode-se supor que raraí seja palavra usada para designar outro rio e que os sesmeiros conservaram a expressão Ururaí — em tupi, água de jacaré —, tanto quanto se pode presumir que o documento seja apócrifo, como o considerou Vieira Fazenda.
Examinando outros autores, veremos Couto Reis, mais de um século depois, explicar que o rio Ururaí esgota as águas da lagoa de Cima para a lagoa Feia, descrevendo um trajeto com grandes meandros, o que tornava a navegação enfadonha. Aires de Casal observa que ele cumpre o papel de desaguadouro da lagoa de Cima. José Carneiro da Silva ressalta que o rio Ururaí nasce na lagoa de Cima e deságua na lagoa Feia, enquanto Pizarro e Araujo limita-se a dizer que ele fermenta na lagoa de Cima. O Major Bellegarde também o menciona rapidamente, explicando que "deriva-se da extremidade oriental da Lagoa de Cima, e vem por junto da Serra do Itaoca, fazer barra na Lagoa Feia, com seis léguas de curso. Antonio Muniz de Souza, sempre tão observador, não vai mais longe que seus predecessores. Por sua vez, Teixeira Mello repete Bellegarde apenas substituindo as seis léguas por 52 quilômetros.
A Serra do Mar, no Norte-Noroeste fluminense, sofre uma brusca interrupção nas imediações da garganta por onde passa o rio Paraíba do Sul. Os rios que nascem na vertente interior da Serra deságuam todos eles no maior rio da região. Os que nascem na vertente atlântica correm para a bacia da Lagoa Feia ou diretamente para o mar, com exceção de um: o rio Preto. Seu curso o conduz ao rio Paraíba, no qual, outrora, desaguava, como explica Alberto Ribeiro Lamego. Com as cheias deste, porém, seu curso era obstruído e desviava-se para o rio Ururaí, do qual atualmente é tributário, mantendo, porém, uma foz facultativa fixada por ação do Departamento Nacional de Obras e Saneamento, que pode funcionar também como tomada d'água. Couto Reis diz que ele se bifurca, fazendo barra no Paraíba e lançando um braço limitado para o Ururaí. Casal entende-o como uma grande curva do Ururaí que se aproxima do Paraíba, podendo comunicar-se com ele através de um canal. A tendência natural das cheias e o rio Preto demonstram a íntima ligação entre as bacias do Paraíba e da lagoa Feia.
- Arthur Soffiati
- Arthur Soffiati