Enquanto isso, a Agência Nacional de Petróleo promove o leilão para a venda do Campo de Libra, que permitirá aumentar a produção de petróleo com sua extração na camada pré-sal. Só há um candidato: um consórcio formado pela Petrobras, uma empresa francesa, uma anglo-holandesa e duas estatais chinesas.
E o motorista continua rumo ao precipício. Em alta velocidade, ele passa por um transeunte que lhe faz sinal tentando preveni-lo do perigo. Mas, com os vidros da janela fechados, ele não escuta nada. O automóvel conta com todos os requisitos da tecnologia mais avançada. O motorista se sente bastante confortável no ar condicionado.
Enquanto isso, a Agência Nacional do Petróleo leiloa jazidas para extração de gás de xisto em vários lugares do Brasil. Os Estados Unidos são pioneiros na extração deste gás, não obstante cientistas de todo o mundo e até mesmo a agência governamental norte-americana de ambiente tenham advertido do perigo que a extração desse gás representa para a natureza.
De volta ao motorista, lá vai ele, alegre, acompanhando com assobio uma canção que sai da sua sofisticada aparelhagem de som. Outra placa o adverte do perigo iminente. Mas ele não crê e não reduz a velocidade do veículo.
Leio, nos jornais, que um grupo de empresários pretende construir um porto em São Francisco de Itabapoana. Com ele, haverá uma sequência de quatro portos próximos: na Restinga de Marobá, em São Francisco de Itabapoana, na Praia do Açu e em Barra do Furado. Agora, chega a notícia de que se pretende construir mais um porto na Praia do Barreto, em Macaé, na área de amortecimento do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Assim, ao todo, serão cinco portos numa costa completamente imprópria para este tipo de empreendimento. O efeito sinérgico negativo será desastroso para a região.
Mas o motorista prossegue na sua marcha alucinada em direção ao abismo. Mais um passante lhe faz sinais, chegando quase a entrar na estrada. Ao volante, o homem se mostra confiante. Ele não acredita em catástrofes futuras. Ele é egoísta, individualista e imediatista. A tecnologia deixou-o cego.
Nelson Mandela morreu. Ele foi maior do que a África do Sul, mas não é maior do que o planeta. Governantes do mundo todo o homenageiam pelo grande feito de acabar definitivamente com o regime de apartheid. Já na Europa Ocidental, os habitantes da Ucrânia, que integrou a União Soviética, desejam que o país participe da União Européia, por mais que a crise campeie entre seus integrantes. O governo russo pressiona o governo ucraniano para não ceder aos reclamos populares. O império czarista russo continuou a assombrar a União Soviética, e esta sobrevive na Rússia atual. Não tenho notícias do movimento ucraniano Fêmen, formado por mulheres que mostram os seios nus por qualquer motivo. Descobriu-se que, por trás do movimento, existe um homem.
O motorista continua seguro em seu carro. É seu mundo. Um mundo sem passado e sem futuro. Agora, ele passa por mim em alta velocidade. Não o advirto quanto ao perigo. Ele não acreditaria em mim, e eu estou muito descrente dos motoristas.
Os países integrantes do ultrapassado Conselho de Segurança da ONU aceitam os acenos de paz do novo presidente do Irã. Seus líderes pedem que Israel não atrapalhe as negociações. Não deixa de ser um golpe de mestre do Irã, que pode isolar Israel no Oriente Médio. O passo, porém, não levará o motorista a frear o carro no pouco espaço que lhe resta. No extremo oriente, o regime ditatorial da Coréia do Norte executa o tio do ditador sob acusação de traição e corrupção. Michelle Bachelet, que terminou seu primeiro mandato com a popularidade em baixa, é eleita novamente presidente do Chile. Por mais que um governante seja progressista, ele é sempre prisioneiro do desenvolvimentismo.
Ouvi um forte estrondo. Corri até a margem do despenhadeiro. O luxuoso automóvel estava em chamas lá embaixo. Em seguida, explodiu. Os bombeiros nada puderam fazer. Algumas adolescentes usaram celulares para tirar fotos suas, tendo o desastre ao fundo, a fim de postar no Facebook.