Algumas mentes pouco arejadas insistem na solução de que é necessário roubar ainda mais terras dos índios do que já foram roubadas nesses últimos 500 anos. Justificam mais este assalto pela existência de importantes reservas de metais estratégicos nas atuais reservas indígenas.
Ora, ninguém se incomodou quando o "branco" Eliezer Batista controlou pessoalmente, através de empresas estatais sob seu comando, durante os 21 anos de ditadura militar, todo o minério de ferro de Minas Gerais e todo o minério de manganês do Amapá, deixando enorme herança para seu filho Eike, hoje o homem mais rico do país. Eliezer pode, os índios, donos da terra há milênios, não podem! A mente pouco arejada dessa gente conduz a uma brutal falta coerência.
Hoje quem explora o ferro em Minas Gerais é a Vale, empresa privatizada em 1998, no governo Fernando Henrique, por R$ 3,3 bilhões, valor que correspondia, à época a somente 25% do lucro da empresa no mesmo ano - R$ 12,5 bilhões. Pode parecer brincadeira, mas não é.
Sem me ater a decisões políticas ou jurídicas, prefiro ir à lógica.
Instalados nestas terras há milênios, os indígenas veem, de repente, seu espaço ser invadido - o termo é este mesmo: invadido - por europeus que os agridem, infestam-nos com doenças mortais para eles e expulsam-nos de suas casas.
Se hoje são apenas 600 mil índios, a causa desta redução está, principalmente, no genocídio praticado por europeus contra eles e, em menor parte pela miscigenação com brancos e negros. O reduzido número de indígenas não é culpa deles. Por favor, não podemos inverter os fatos. O reduzido número de indígenas é resultado da ilegal, desleal, desumana e estúpida atuação do branco europeu.
A chamada civilização ocidental baseia-se no direito de propriedade desde priscas eras. No entanto, esse direito foi roubado aos nossos índios, como foi roubado também aos primeiros habitantes de nossa sofrida América Latina (em especial aos maias, astecas e incas) e aos "peles-vermelhas" da América do Norte.
Pelo genocídio praticado contra os peles-vermelhas na até hoje violenta América do Norte nasceram heróis nacionais como Buffalo Bill e o general George A. Custer. Os de cá receberam o apelido de "bandeirantes" e muitos de nós aprendemos seus nomes na escolas, sendo também citados como heróis. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
O que está havendo no "civilizado" Brasil não passa de um golpe contra uma minoria. Nossos índios merecem um pedido formal de desculpas que eles aceitariam se quisessem. A usurpação de que foram vítimas permanece.
O tempo não pode apagar crimes destas dimensões. Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler, Augusto Pinochet, o presidente dos EUA Harry S. Truman que ordenou o lançamento de duas bombas atômicas sobre o povo do Japão já derrotado e rendido, dentre muitos outros jamais serão apagados da História.
E chega de inversão dos fatos!
A. Pertence