Japão - erros e acertos

Para um país como o Japão, conhecido pela sua liderança tecnológica, sua organização e seu poder econômico, o caos causado pela catástrofe de 11 de março pode parecer surpreendente. A insuficiência de medidas de segurança no projeto de suas centrais nucleares para enfrentarem um terremoto e um tsunami desta magnitude é, sem dúvida, um ato de irresponsabilidade. Por falhas de engenharia ou preocupação com a rentabilidade, os líderes japoneses colocaram a população em risco de uma forma inaceitável.

Um fato é claro: o arquipélago não estava preparado para um desastre desta envergadura, se considerarmos sua historia e seu estágio tecnológico atual. Contudo, antes que de buscar responsabilidades, precisamos enfocar a situação do atual estado de emergência. Contrariamente à visão que prevalece no exterior, ou seja, a imagem de um estado opaco que esconde a verdade de seu povo, o governo japonês fornece regularmente informações e não dissimula os riscos.

Entretanto, a sociedade japonesa nunca cultivou o senso de encenação da mídia tão comum nos estados ocidentais. As autoridades atuais estão imbuídas da missão de fazer o melhor. Qualquer governo confrontado com uma situação análoga procuraria não provocar pânico na população.

Há milhares de informações circulando na imprensa, na televisão e na Internet, muitas delas divulgando análises feitas a milhares de quilômetros de distância. Estas informações chegam a ser um outro devastador tsunami à sua maneira, porque em meio a toda esta confusão é impossível para um leigo explicar esses fatos.

Nesta catástrofe, os estrangeiros, obcecados pela questão nuclear, tendem a esquecer que o Japão está enfrentando sua pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de 700 mil pessoas foram diretamente afetadas; os deslocados para abrigos e aqueles que sobrevivem no que restou de suas casas sofrem da falta de água potável, de alimentos, de eletricidade e de remédios.

O atual governo do Partido Democrático (PD) está confuso e razões para isto não faltam. Os japoneses, porém, nunca cultivaram a ilusão de que poderiam depender completamente do Estado. Eles não vivem como cidadãos de um Estado-Providência onipotente do qual podem esperar tudo.

Os japoneses se organizam localmente com a ajuda de voluntários, médicos e enfermeiros vindos de outras partes do país. A solidariedade desta sociedade continua exemplar e admirável. É típica de um povo que ainda se lembra dos tempos terríveis porque eles não estão assim tão distantes; a riqueza recentemente adquirida não apagou uma memória coletiva dolorosa.

A "nuvem nuclear" não encobre o esforço humano, sua perseverança, dedicação e dignidade num ambiente adverso para homens e mulheres que lutam bravamente e com fervor. Não existem grandes estruturas humanitárias no Japão funcionando a plena carga, mas uma multidão de pequenas associações com pequenos meios de comunicação, mobilizadas por seus próprios recursos.

Amanhã, o Japão não será mais o mesmo. E o resto do mundo poderia aproveitar a oportunidade para se livrar de algumas ideias sobre esse país, se quiser compreender o que de fato está acontecendo.

Como resultado deste desastre, já é evidente a preocupação na Europa com sua matriz energética grandemente baseada na energia nuclear. Os governos da França, Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda e outros devem se preparar para responder aos questionamento de seus povos sobre a matéria e, caso necessário, buscar alternativas mais seguras.

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