Nossa sociedade adotou como modelo primário para o transporte de pessoas e cargas os veículos acionados por motores de combustão interna (a gasolina, diesel, gás natural ou álcool). Transportar pessoas e cargas é um trabalho que consome energia. Manda a razão que a energia seja empregada com critério, tendo em vista que algumas de suas fontes são finitas e/ou agridem o ambiente em que todos vivemos.
Há, no Brasil de hoje, cerca de 25 milhões de automóveis e 4,5 milhões de veículos de transporte coletivo de passageiros e de carga. Ter um carro tornou-se uma “necessidade” para as parcelas mais bem aquinhoadas de nossa sociedade. Criou-se a mentalidade de que usar transportes coletivos é humilhante ou “coisa de pobre”.
No transporte de cargas, a matriz brasileira privilegia o setor rodoviário com 61% de participação, contra apenas 20% do ferroviário e 14% do aquaviário, estes dois últimos sabidamente mais eficientes e baratos.
O rendimento ou eficiência de qualquer máquina térmica - como os motores dos veículos – é a relação entre a energia de produzida por ela e a energia cedida a ela pela liberação de calor provocada pela queima do combustível. Via de regra, o rendimento térmico dos motores a gasolina não ultrapassa os 60%. Há que se considerar ainda o rendimento mecânico dessas máquinas, dado que os motores a combustão interna transformam energia térmica em trabalho mecânico ou movimento. O rendimento global desses motores é uma combinação de seu rendimento térmico com seu rendimento mecânico. No final das contas, o rendimento dos motores dos veículos raramente ultrapassa os 30%, ou seja, desperdiça-se 70% da energia inicialmente cedida a eles.
Grande parte desta energia se perde como calor liberado para o ambiente. Nos motores de nossos carros, caminhões e ônibus, uma parte da energia se perde porque o combustível não é completamente consumido. Outra parte se perde nos gases quentes que saem pela tubulação de escapamento. Perde-se, ainda, calor por radiação no próprio bloco do motor. Ademais, há perdas mecânicas por atrito entre as diversas partes móveis dos motores, no sistema de transmissão e nas rodas, todas contribuindo para a redução do rendimento mecânico da máquina.
Nossa análise culmina pela observação desse quadro no dia-a-dia. Em qualquer grande cidade deste país vê-se com clareza, nas horas do “rush” – pela manhã e no início da noite - milhares de veículos engarrafados, em sua maioria carros particulares, gastando horas em percursos que poderiam ser feitos em minutos, caso houvesse um pouco mais de racionalidade nesta questão. É ainda mais caótico o panorama quando se percebe que cerca de 80% dos veículos transportam apenas uma pessoa, quando foram projetados para transportar 4 ou 5. De novo, apenas 20% da capacidade desses veículos é aproveitada, o que reduz ainda mais a já reduzida eficiência dos seus motores.
Não se pode concluir esta avaliação sem afirmar que nada é mais burro e ineficiente que o modelo de transportes brasileiro, especialmente a ênfase dada ao transporte individual, fruto da maciça propaganda bancada por mamutes transnacionais fabricantes de veículos, pneus, autopeças, acessórios e produtoras de petróleo e derivados.
- Argemiro Pertence
- Argemiro Pertence