O hercúleo esforço empreendido pela Petrobrás, a partir do primeiro choque do petróleo em 1973, visando tornar o país menos dependente de petróleo importado resultou num êxito ímpar.
Naquela ocasião, o consumo nacional somava cerca de 300 mil barris/dia, ao passo que a produção interna mal chegava a 60 mil barris/dia, oriundos basicamente de bacias terrestres na Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte. Com o choque de preços provocado pela reação árabe ao apoio do Ocidente a Israel na Guerra do Yon Kipur - em outubro de 1973 - o preço do petróleo quintuplicou, saindo de algo próximo de US$ 3 por barril para US$ 15 por barril em questão de semanas.
Tornou-se grande a insegurança no Brasil quanto ao suprimento de óleo cru, não apenas por depender de fontes de importação pouco confiáveis, mas, sobretudo, pelo preço a ser pago pelo óleo importado. O gasto nacional com a importação de petróleo que, até então, era de US$ 260 milhões por ano, saltou para mais de US$ 1,3 bilhão anuais.
Em 1974, em meio à crise mundial, a Petrobrás descobre o campo de Ubarana, na bacia de Potiguar e o campo de Garoupa, na Bacia de Campos (RJ), feitos que marcariam o início de uma nova fase da Petrobras, aquela em que a empresa se diferenciaria pela exploração do petróleo em águas profundas e ultra-profundas. Maciços investimentos em desenvolvimento de tecnologia, formação e treinamento de técnicos tornaram-se prioridade. Em função desta orientação, ampliaram-se as descobertas na Bacia de Campos. Em 1982, a produção petrolífera brasileira chegava aos 180 mil barris/dia, para um consumo de cerca de 400 mil barris/dia, fruto dos investimentos na Bacia de campos.
Em 2006, com uma produção diária de 1,8 milhão de barris de petróleo e gás equivalente, a Petrobrás deu ao Brasil a tão almejada auto-suficiência no setor, sendo que mais de 90% desse volume é produzido no mar, em condições que somente a Petrobrás tem condições técnicas para fazê-lo.
Hoje, dentre as cerca de 20 bacias petrolíferas exploradas no país, a produção ultrapassa 1,9 milhão de barris/dia. Atualmente, a Petrobras detém o recorde mundial de perfuração exploratória no mar, com um poço em lâmina d'água de 2.777 metros. Exporta a tecnologia de exploração nesses ambientes para vários países, inclusive para países do chamado “Primeiro Mundo”.
Notáveis avanços têm marcado a ação da empresa. Até aqui, o predomínio da Bacia de Campos tem sido total. Entretanto, novas áreas nas bacias marítimas de Santos e do Espírito Santo têm-se mostrado bastante promissoras e, em breve, incorporar-se-ão à produção nacional ou até mesmo para a exportação.
A lamentar, resta o fato de que boa parte do petróleo produzido no Brasil é composta por petróleo pesado, isto é, de seu processamento resultam menores quantidades de produtos de maior valor de mercado (gás, gasolina e óleo diesel), o que força a Petrobrás a exportar uma parcela da produção nacional para importar petróleos mais leves, objetivando atender o perfil da demanda do mercado interno.
Agregue-se a isto o fato de que a crescente produção petrolífera no Brasil ocorre num momento em que há uma consciência generalizada de que se faz inadiável a redução do consumo de fontes de energia fóssil, à vista de seus efeitos danosos ao meio ambiente.
- Argemiro Pertence
- Argemiro Pertence