O governo britânico acaba de convocar as empresas de petróleo para discutir a possibilidade de aumentar a produção no Mar do Norte visando conter a alta do barril. No mesmo dia, o preço do barril alcançou o recorde histórico de US$ 140. Está aí uma das razões que justificam o repentino apoio governamental à British Petroleum (BP) para participar da rodada de licitações a ter lugar no Iraque em breve. Além desta novidade, o governo britânico já deixou claro que vai tomar posse de cerca de 900 mil km2 no mar da Antártida para assegurar a exploração do petróleo que lá possa existir.
Porém, cabe a indagação: existe petróleo para continuar tocando as coisas me frente? A respeitada Agência Internacional de Energia prevê uma séria crise para daqui a 5 anos, forçando os preços ainda mais para cima e agravando a dependência do Ocidente dos países da OPEP..
As implicações geopolíticas da crise prevista para 2013 são imensas. O risco de novas intervenções militares no Oriente Médio é claramente elevado. As reservas provadas de petróleo são hoje de cerca de 1,3 trilhão de barris. Metade dos países produtores registrou queda na produção em 2006. A produção fora dos países da OPEP deverá alcançar seu pico e começar a declinar inexoravelmente. Esta queda deve ser debitada à crescente demanda da China e dos EUA, ao lado da queda de exportação do Iraque.
Há, evidentemente, saídas para este nó, só que nenhuma delas é digna de crédito. Embora tenham sido gastos bilhões na exploração de novas áreas, as grandes descobertas atingiram seu pico nos anos 60 do século passado. Para a frente, estão as areias betuminosas do Canadá, os petróleos ultra-pesados da região do Orenoco (Venezuela), as jazidas de xisto betuminoso e as reservas recém-descobertas em águas ultra-profundas no mar territorial brasileiro. Em todos esses casos há uma variável que foge a todo controle: o pequeno ganho líquido de energia, ou seja, a pequena diferença entre a energia obtida com a exploração dessas fontes e a energia gasta para sua extração, além do cada vez mais antipático efeito-estufa causado pela combustão desses materiais.
Todavia, mesmo que continuem existindo restrições no fornecimento em função da explosão de consumo chinesa especial e coincidentemente com a queda de produção dos não-membros da OPEP a crise que ser avizinha pode ser em muito amenizada se adotadas algumas medidas saneadoras do desperdício. É fato comprovado que metade da energia gerada no mundo de hoje é desperdiçada, que os automóveis mais modernos têm em seu motor um rendimento que mal supera os 20%, que os fogões domésticos jogam fora mais de 70% do calor produzido e que as termelétricas desperdiçam mais de 60% da energia que lhes é fornecida.
A questão, entretanto, é: que melhorias podem ser introduzidas na matriz global, na quantidade e no tempo necessários, para empurrar a crise mais para a frente? O que é mais inexplicável é que os grandes consumidores de petróleo não demonstram qualquer intenção de migrar de alguma forma para a energia renovável e permanecem lutando pelas reservas de petróleo cada vez mais limitadas?
Não bastasse a maciça presença de interesses dos EUA no Oriente Médio, por causa do petróleo, atualmente até a África Ocidental, detentora de modestos 66 bilhões de barris de reservas provadas, tornou-se palco de disputas. O simples fato de Angola ser o principal fornecedor de petróleo para a China fez soar o alarme dos vigias do G-7.