A Petrobrás e os rufiões

O diário francês “Le Monde”, em sua edição de 11 de junho deste ano, publicou um editorial com o título “La revanche du Sud” (A revanche do sul) onde aponta para algumas alterações no atual cenário mundial globalizado. O chamado “Sul”, na linguagem de hoje, não se refere necessariamente aos países do hemisfério sul, mas aos países excluídos do chamado G-7, composto pelos EUA, os ricos países europeus e o Japão. No “Sul” estão incluídas, inclusive, a Rússia, a China e a Índia

Pois o “Le Monde” aponta, não sem um certo ar de lamúria que, enquanto a China, a Índia e o Brasil vão crescer, em 2008, a taxas próximas de 6 ou 7%%, os EUA e os países ricos da chamada “zona do euro” terão crescimentos medíocres, na faixa de 1,5%, inferiores às suas taxas de inflação projetadas.

Empresas e fundos soberanos do sul estão se apropriando de grande parte do controle de empresas do Norte rico. Informa o “Le Monde” que, segundo dados do FMI os países do Sul investiram, algo como 1 trilhão de dólares nos mercados do Norte no ano passado. A título de exemplo, fundos estatais chineses detêm hoje parcela significativa do capital de dos dois dos maiores grupos financeiros dos EUA - o Citigroup e o Morgan Stanley.

É justamente neste contexto que cabe fazer uma avaliação do desempenho da Petrobrás, a maior empresa brasileira e uma das atuais gigantes do petróleo em âmbito global. É verdade que, aproveitando-se de sua atual alta rentabilidade em seus negócios, a Petrobrás tem investido no exterior, particularmente na América Latina, mas mui timidamente no Norte. Em contrapartida, assusta-nos a profusão de parcerias que a empresa vem aceitando nos seus negócios domésticos, especialmente no segmento de exploração e produção no mar.

Uma empresa séria procura parceiros, basicamente, por três razões: carência de capital ou de tecnologia e excesso de risco. A Petrobrás não se enquadra em nenhum dos três casos. Capital não é problema. Os lucros da empresa, nos últimos 10 anos têm sido astronômicos. Em relação à tecnologia, a Petrobrás, em seu campo, é líder mundial há décadas no desenvolvimento e domínio de tecnologias para exploração e produção em águas profundas e parte agora para mais um salto tecnológico ao descobrir áreas muito promissoras abaixo da camada de sal, na plataforma continental brasileira, em águas ultra-profundas. Quanto ao risco do negócio, a situação é idêntica. A Petrobrás foi progressivamente criando “expertise” e hoje suas chances de sucesso nesta nova fase são consideráveis.

Ainda assim, nas novas descobertas ocorridas, especialmente na Bacia de Santos, tomamos conhecimento que há parceiros do Norte que irão usufruir dos bônus que a parceria com a Petrobrás lhes confere. No caso da exploração e produção de petróleo e gás no mar brasileiro, a regra do jogo vigente é clara em ensinar que empresas na situação da Petrobrás deveriam dispensar taxativamente qualquer oferta de parceria. No entanto, a Petrobrás as tem. Durma-se com um barulho desses!

Esta análise simples demonstra que há algo de muito mal explicado na empresa. Entretanto, esta semana, mais uma vez, seu presidente foi a Nova York explicar os investidores do Norte como andam os negócios da empresa e informá-los quanto eles vão ganhar com isto.

Há algo de podre no reino da Dinamarca....
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