Energia e transporte

O transporte de pessoas e cargas tem ocupado as preocupações da sociedade humana desde a invenção da roda. E é inútil pensarmos na roda sem que consideremos a disponibilidade de energia para movê-la.

De novo, ao cogitarmos de energia para mover qualquer veículo, é mandatório que se considere a eficiência da máquina que consome a energia para produzir o movimento, dado que esta eficiência tem impacto significativo no custo do transporte. Ora, no capitalismo as empresas não têm despesas. Elas têm custos e esses são repassados ao consumidor. Ou seja: nós pagamos a conta da ineficiência das máquinas de transporte de qualquer empresa.

Infelizmente, o Brasil, sua sociedade, seus governos e seus empresários optaram pelo sabidamente ineficiente modelo de transporte rodoviário para pessoas e cargas.

Apenas para quantificar, no caso de caminhões truques com capacidade de 15 toneladas - por exemplo um modelo 1620 da Mercedes, muito utilizado no Brasil - o consumo de diesel para transportar uma tonelada de carga é de 1 litro para cada 52,6 quilômetos percorridos, considerando um desempenho médio de 3,5 quilômetros por litro.

Por outro lado, para se ter uma noção da eficiência das modernas locomotivas diesel-elétricas usadas nas ferrovias, por volta de 1980, 1 litro de óleo diesel movimentava, em média, uma tonelada de carga por 86 quilômetros de ferrovia. Em 2001, a mesma quantidade de combustível passou a transportar, em média, uma tonelada de carga por 149 quilômetros - cerca de 183% a mais que um caminhão!

O Brasil tem apenas 29.000 quilômetros de ferrovias contra quase 1,9 milhão de quilômetros de rodovias, apesar de suas dimensões continentais. Para agravar a questão, o Brasil dispõe hoje de menos 9.000 quilômetros de ferrovias do que mantinha em 1950 .Em todo o mundo, países de grande ou pequena extensão sempre deram muita importância ao transporte ferroviário. A Alemanha, que é 23 vezes menor do que o Brasil, tem 45.000 quilômetros de ferrovias. A Argentina exibe 34.000 quilômetros de estradas de ferro; a Índia, 63.000; a Rússia, 87.000 e os Estados Unidos, campeões no mundo, quase 200.000 quilômetros de ferrovias.

Embora o quadro seja tão claro, não se pode esperar que ocorram alterações significativas no panorama nacional de transportes.

O poder de convencimento da indústria automobilística já se provou maior que toda e qualquer disposição governamental para alterar nossas opções de transporte. Toda a lógica dos meios de propaganda está calcada no tranporte rodoviário – individual, coletivo ou de cargas.

Por toda essa inércia e ineficiência pagaremos todos nós sem que nos seja dada opção. Pagamos o custo das empresas com o frete rodoviário embutido no preço de tudo que compramos. Pagamos o custo das empresas com o desgaste dos veículos que trafegam por rodovias mal conservadas. Nas grandes metrópoles pagam os brasileiros que se movimentam diariamente nos ônibus pelas congestionadas vias de nossas capitais, desperdiçando precioso tempo que poderia ser gasto de maneira mais nobre e útil.

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