Nestes tempos de aquecimento global, cada um de nós precisa avaliar conscientemente sua parcela de culpa nesse fenômeno e descobrir com agir para reduzir o impacto de seu comportamento.
Há no mundo atualmente cerca de 600 milhões de veículos trafegando pelas ruas e rodovias do mundo em que vivemos todos. Admitindo que a absoluta maioria deles seja composta por veículos de passeio, que um veículo, em boas condições mecânicas, percorre, em média, 14.400 km por ano (40 km por dia) e consome, também em média, cerca de 1 litro de gasolina a cada 10 km percorridos, a frota mundial despeja na atmosfera a fantástica cifra de 28 milhões de toneladas de gás carbônico por ano. Agregue-se ainda que o mundo produz cerca de 100 mil veículos novos por dia ou 36 milhões de veículos por ano
No Brasil, embora o número de veículos per capita de veículos seja ridículo quando comparado ao de países como os EUA, Japão, Alemanha e Austrália, nossos números também assustam. Há no Brasil de hoje cerca de 24 milhões de veículos em uso. Aplicando o mesmo raciocínio usado acima, a frota brasileira agride o ar que respiramos e amplia o “efeito-estufa” com cerca de 1,2 milhão de toneladas de gás carbônico por ano
Para agravar ainda mais o quadro, se observarmos esses veículos no trânsito de nossas metrópoles carentes de planejamento de transporte e super-povoadas, perceberemos que cerca de 90% deles transporta apenas uma pessoa, embora sejam projetados e construídos para transportar 5 pessoas.
Entretanto, não termina aqui o problema. Os motores de combustão interna – como são tecnicamente os motores desses veículos – foram inventados há mais de 150 anos e, neste período, incorporaram muito poucos avanços em termos de eficiência ou rendimento energético.
Cabe aqui uma explicação: rendimento de uma máquina é a relação entre a parcela de energia realmente aproveitada por ela para realizar trabalho útil e a energia total disponível para ela. Por mais absurdo que possa parecer, os motores desses veículos, mesmo os mais avançados, têm um rendimento energético de apenas cerca de 30%. Ou seja, 70% da energia gerada pela queima do combustível é desperdiçada, sob a forma de atrito entre as partes móveis do veículo, calor liberado pelo sistema de exaustão de gases do motor, calor transferido ao sistema de arrefecimento ou lançado no ambiente. Apenas 30% da energia gerada é empregada para realizar trabalho útil, a saber, movimentar o veículo.
Se combinarmos essas duas situações – o número de passageiros transportados por veículo e o rendimento energético dos motores – descobriremos que nenhum sistema de transporte é mais ineficiente, mais agressivo ao ambiente e burro do que o transporte individual.
Desafortunadamente para todos nós, é este o modelo de transporte que o sistema em que vivemos apostou e não se cansa de incentivar. Cada cidadão, em qualquer parte do mundo, com um mínimo de capacidade de consumo, é bombardeado diuturna e sutilmente por uma enxurrada de mensagens publicitárias que associam o fato de ter um desses veículos e o sucesso pessoal.
Enquanto esses valores predominarem, não haverá solução para alguns dos maiores problemas que afetam a humanidade e o meio ambiente. A crítica ao modelo é vista como excentricidade ou radicalismo. Todavia, radical mesmo é passar horas num trânsito engarrafado, dentro de um veículo que estimula o egoísmo e movido (quando é possível) por uma máquina ultrapassada tecnologicamente e altamente ineficiente.
- Argemiro Pertence
- Argemiro Pertence