Nossos amigos íntimos de todo o dia

Muitas vezes não sabemos nem o primeiro nome dos nossos "amigos íntimos", mas eles estão presentes em todos os lugares que costumamos frequentar, esbanjando sorrisos e amabilidades.

Sempre alegres, parecem estar eternamente preocupados com tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, zelando pela nossa felicidade.

Anjos da guarda que vivem na periferia de nossas vidas, participam ativamente da nossa existência, chorando conosco as nossas tristezas, sorrindo estrondosamente com as nossas alegrias.

Poderiamos dizer que essa turma faz parte do bloco de amigos anônimos que temos, caso eles não estivessem tão visíveis e próximos de nossas vidas. 

Eles surgem em nosso dia a dia logo nas primeiras horas da manhã, em todos os dias da semana.

Ao sair do apartamento encontro um dos meus "amigos íntimos", que estava fazendo a faxina no andar.

"Tudo bem Zé?"

"Tudo... acordando mais cedo hoje hein ?"

Enquanto aguardava a chegada do elevador veio a pergunta:

"Onde anda aquela sua namorada de olhos grandes ?"

Fiquei pensando de qual mulher ele estaria falando.

"Até hoje tenho aquela revista que ela me deu sobre a floresta amazônica", disse ele.

Eu não tinha a mínima idéia da ecologista que ele estava falando.  O elevador chegou e eu simplesmente disse que "qualquer dia ela iria aparecer".

"Sei como é...", disse ele bem baixinho, num tom bem íntimo e confidencial.
 
Já na rua, fui tomar o café matinal com o pão na manteiga no bar de sempre, e alí também tinha outro "amigo íntimo".

"Vai para Friburgo? Deve estar frio lá, leva suéter."

"Vou para Macaé".

"Então não precisa de agasalho, mas de roupas bem leves, beba muita água, e tome cuidado com o sol de lá."
 
"Com certeza", respondi.

O jornaleiro também fazia parte dos meus "amigos íntimos".
 
"Como eu gostaria de poder ir para a serra hoje com você...você é um felizardo...sua mãe está bem? De Um abraço nela".
 
Ele nunca havia estado com a minha mãe. Agradeci e peguei o onibus até a rodoviária. Já tinha visto o cobrador e o motorista, mas eles não eram íntimos, como era a dupla que me transportava todo o dia para o trabalho.
 
Ao chegar na Rodoviária Novo Rio, fui para os guiches da companhia que me levaria a cidade de Macaé.

Entrei na fila cujo bilheteiro era um "amigo íntimo" meu. A empresa "1001" tinha dezesseis guiches para vender passagens, dos quais apenas uns oito estavam abertos.

Já era melhor que nas agências bancárias, que quando tinham vinte guiches num local de trabalho, apenas uns dois funcionavam.

Se eu entrasse em outra fila, e comprasse a passagem com outro bilheteiro, o meu "amigo íntimo" ficaria muito chateado. Seria uma ofensa.
 
Quando ele me viu deu um baita sorriso, e gesticulou alegremente. Umas oito pessoas estavam na minha frente. Todos olharam para mim.
 
Depois de um bom tempo cheguei no guiche e o meu amigo já estava com a passagem tirada, e foi dizendo:

"Poltrona 2, Friburgo."

"Puxa vida Zé, eu hoje não vou para Friburgo, vou para Macaé", disse eu meio sem jeito.

"MACAÉ ?, gritou ele num espanto total, e num tom autoritário me fuzilou :

"Vai fazer o que em Macaé ?"

"Eu simplesmente vou para Macaé", falei sorrindo.
 
"Mas porque não vai para Friburgo? Se vai para Macaé, é porque você deve ter um motivo muito forte. Ninguém vai para um lugar sem motivo algum. Sei disso porque trabalho a vinte anos vendendo passagens", falou ele, baseado na sua experiência como bilheteiro.
 
"Minha mulher tem uma casa lá", respondi.

"Mulher ? Não sabia que você tinha uma mulher em Macaé" falou ele, parecendo estar completamente perdido.

"Não sabia, mas tenho".
 
"Porque não arranjou uma mulher em Friburgo?".

"Porque eu gostei da de Macaé", respondi já meio contrariado.
 
O pessoal que estava atrás de mim na fila já começava a ficar impaciente. O sujeito ao meu lado resmungou: "Que papo de maluco". Uma mulher olhou para mim e disse "acho melhor você arranjar uma mulher em Friburgo, porque senão a gente não vai sair daqui.

Um outro falou "Sujeito abusado e metido. Eu dava um sopapo nele".

"Vai abandonar a sua mãe que mora em Friburgo?" perguntou o bilheteiro.
 
"Lógico que não...vou sempre a Friburgo também", respondi.

"Mas nunca mais irá com a mesma frequência lá.Bom, já vi que vou ter de trocar mesmo a passagem, mas é bom que se lembre que lá para Macaé os onibus estão sempre cheios, pois tem muito petroleiro indo e vindo. Vou te arranjar a poltrona 18".

"Obrigado Zé...lamento estar indo para Macaé, mas eu ainda vou de vez em quando lá para Friburgo".

"Já falou isso", dise ele meio aborrecido.
 
"Você é de Friburgo Zé ?", perguntei.
 
"Não..sou de Macaé !"

A fila inteira deu uma gargalhada !

 

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