31 de Março de 1964, o dia da quartelada


Estamos na semana do 31 de março. Não vale a pena vermos de novo essa data, mas é sempre bom não esquecermos dela, e a tragédia que ela representou na história do Brasil.

Há muitos anos atrás, no dia 31 de Março de 1964, aconteceu em nossa terra, uma tragicômica quartelada, que iria colocar o Brasil nas mãos sujas dos gorilas militares, permitindo que eles fizessem o que bem entendessem com o País e todo o seu povo.

Desde o início dos anos 50, quando houve a eleição democrática de Getúlio Vargas, derrotando o brigadeiro Eduardo Gomes, que as elites brasileiras estavam tentando implantar no País um governo que as favorecesse.

Com o suicídio de Vargas em agosto de 1954, depois de muita confusão, tivemos a conturbada posse do vice-presidente Café Filho na presidência.

Logo após, o povo elegeu Juscelino Kubitchek, que iria fazer 50 anos em 5, e havia derrotado o candidato das elites, o general Juarez Távora.

Tentaram derrubar o Juscelino do poder, iniciando uma quartelada na selvas amazônicas, em Jacareacanga e Aragarças, lá pelo lado do Pará.

Mas o negócio era muito louco e não deu certo.

Por fim, em 1960, as nossas elites conseguiram eleger o seu representante para a presidência do País, um maluco chamado Jânio Quadros, o homem que iria “varrer” a corrupção doBrasil.

Por motivos ocultos, e segundo o mesmo, "pressionado por forças ocultas", o referido artista resolveu largar a presidência seis meses depois de eleito. Antes de entrar no navio que iria levá-lo para um exílio etílico na terra do wiskey, o ainda presidente Jânio Quadros, lucidamente, assinou alguns decretos que favoreceriam as multinacionais.

O vice-presidente eleito era o João Goulart, que personificava as classes trabalhadoras , logo, não pode ser empossado, porque os militares, que representavam as elites, não queriam.

Assim sendo, foi adotado o regime parlamentarista no Brasil.

Tempos depois, com o País voltando ao presidencialismo, João Goulart tomou posse. Mesmo sendo um grande proprietário de terras, ele assumiu um compromisso com as forças progressistas da nossa sociedade de levar avante todas as reformas de base.

No entanto, a sua visão política era muito limitada, e, ao invés de isolar os conservadores dentro de suas próprias contradições, o que fez foi unir todos eles contra sí.

João Goulart foi um dos políticos mais frágeis que o Brasil já teve, conciliador sem nunca conseguir conciliar nada, fraco nas articulações políticas, e um reformista que não soube conduzir a reforma.

Ele lutou pela reforma agrária e urbana, pela nacionalização do sistema bancário, não executou nenhuma política de achatamento salarial, e fez com que o Congresso Nacional aprovasse a lei que limitava a remessa de lucros para o exterior.

Mas tudo isto foi feito atabalhoadamente, e ao invés de unir as forças políticas em torno de si, conseguiu distanciá-las.

O capitalismo nacional, que estava surgindo, se uniu ao capitalismo internacional. Pelo temor que Goulart provocava, os empresários do campo se uniram aos da cidade.

E para completar o festival de inconpetência, rompeu com a hieraquia militar, comparecendo a um comício no Rio de Janeiro, patrocinado pelos sargentos.

Depois disto tudo, em 31 de março de 1964, aconteceu a quartelada, um golpe militar arquitetado e tramado pelas elites brasileiras, gerenciada pelo embaixador americano Lincoln Gordon, infelizmente, meu xará.

Como era unanimidade entre os militares, não foi necessário que se disparasse qualquer tiro, mas aconteceram alguns lances cômicos e rocambolescos.

No Rio de Janeiro, o filho de uma tradicional família de milicos, capitão na época, saiu da Vila Militar, cruzou a cidade a bordo de um potente tanque usado na Segunda Guerra mundial pelos USA, e foi estacioná-lo no palácio Guanabara, residência do governador golpista Carlos Lacerda, para defendê-lo de uma possível invasão que os fuzileiros navais, supostamente aliados de Goulart, iriam fazer, desembarcando na praia de Botafogo, vindos da cidade de Niterói.

Na praia de Copacabana, Posto Seis, o coronel do exército, conhecido por Montanha, depois de tomar alguns chopps no bar que fica ao lado do Forte Copacabana, acompanhado de alguns outros bêbados, resolveu invadir a fortaleza militar. Adentrando de peito aberto pela guarita, mostrou a sua carteira, tomou o fuzil do guarda, e determinou que a partir daquele momento o forte estava sob seu comando.

Os oficiais do forte estavam tomando banho, pois tinham acabado de jogar o habitual e cansativo vôlei de praia.

Ao mesmo tempo, partia de Minas Gerais, em ritmo de piquenique cívico, um grande comboio militar, comandado por alguns generais, que estavam a serviço do banqueiro Magalhães Pinto, governador do estado.

Dias depois, eles iriam se confraternizar num grande churrasco na cidade de Petrópolis, com as tropas do 1º exército, sediadas no Rio de Janeiro, supostamente leais ao presidente.

O grande “amigo” de João Goulart, General Amauri Kruel, tinha o comando do 2º exército. Alí estava o ponto mais importante do mapa militar brasileiro. Mas depois de umas conversinhas de bastidores, o referido general mudou de casaca, e colocou a sua tropa a serviço do embaixador Lincoln Gordon.

No sul, o histerismo inútil de Brizola, sempre foi de grande valia para a queda do presidente constituído. O grande caudilho nunca se deu conta naquela época, que já tinha passado o tempo em que o sujeito podia sair lá do sul, e vir amarrar o cavalo em algum monumento aqui no sudoeste.

Assim sendo, atolados nos seus erros de avaliação política, Goulart, Brizola, Arraes e todos os outros que defendiam as reformas de base na sociedade brasileira, foram obrigados a deixar o país, e entregá-lo nas mãos dos militares, que iriam dar início a era da tortura, da corrupção sem limites, do endividamento externo e interno, e da obra mais satânica da quartelada de 1964, que foi despolitizar toda uma geração, transformando os nossos jovens em almas sem nenhuma emoção cívica.

Toda esta podridão moral que vemos hoje em dia neste País, devemos a esta tragicômica quartelada de 31 de março de 1964.

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