O meu nickname é Paixão

Era uma tarde maravilhosa. Um sol esplendoroso queimava a pele. O mar estava lindo. As ondas deslizavam sorrindentes e calmas. Um ventinho suave rodopiava no ar, trazendo o gostoso cheiro da maresia. Casais jovens trocavam alegrias sem pensar no futuro. Curtiam a eternidade sem compromissos. Se entregavam por inteiro no abraço e no beijo do momento. Sem muito pensar no asssunto, viviam a “dolce vitta” da juventude.

Da varanda do bar onde eu me encontrava, aquela paisagem me extasiava. O mundo estava todo alí, na minha frente. Duas mulheres conversavam na mesa ao lado. Um casal idoso passeava abraçadinho no calçadão. A menina pulava corda. Um menino de rua pediu-me um trocado. O garçom, em pé, olhava para as mesas. Alguém saltou de um taxi apressado. O vendedor de bilhetes queria me vender a sorte grande. Uma buzina de carro sonolenta parecia querer avisar alguma coisa.

Um suco de tomate temperado com pimenta em pó, molho inglês, suco de limão e folha de hortelã, deliciava o meu paladar.

Fechei os olhos. Em lugar da paisagem, surgiu um pensamento cheio de saudades.

Meu coração apertou. Começou a pular descompassado, nervoso. Pedi que ficasse calmo. Ele disse que não podia. Precisava de ar puro. Olhar o céu. Sentir o sol. O vento e o mar. Falei que poderia se resfriar. "Besteira", falou. Fiquei pensando. Ele parecia querer explodir. Está certo. Vai. Mas fique onde eu possa vê-lo. Quando você sai, eu perco o controle sobre a sua parte emocional. Ao que ele me respondeu rindo:

"Você nunca conseguiu o controle sobre mim."

E lá foi ele em direção a praia. Abriu os braços, respirou fundo, senti o meu pulmão inchar. E mergulhou no mar. Engoliu um pouco de água salgada, quase engasguei. Ele saia de mim, mas o restante da turma ficava. "A água está fria", falou. "Vou apanhar um sol para esquentar". Vai se torrar, falei. Ele deu uma risada. "Eu não tenho pele como você", disse rindo.

"Nunca se esqueça de que eu agroa também não tenho pele. Nós somos uma realidade virtual", disse sorrindo para ele.

"Um coração andando por aí como eu faço agora é a coisa mais absurda do mundo. Se alguém conseguisse me ver pensaria que sou um ET", disse alegremente.

Deitou na areia, ao lado de uma atraente mulher, que pegava sol, sensualmente esparramada na sua cadeira de praia. Uma barraca protegia a sua bolsa do sol. O meu coração se inquietou. "Vou sussurrar no ouvido dela, e dizer que você quer lhe falar", disse ele.

"Não faça isso.Quero descanso", disse para ele.

“Puxa vida cara ! Essa mulher é ótima. Olhos elétricos. Uma coroa atraente e vistosa. Acabei de sussurrar no ouvido dela, pedindo para que olhasse um cara de óculos rayban, sentado na varanda do bar do hotel. Falei que você tinha um recado da Milene, a filha dela. Ela está espantada, mas vai aí. Aliás, já está indo. E eu já estou voltando para você. Deixa eu entrar. Você sem mim não é ninguém.”

Agora estava convencido de que meu coração era um doido.

Alguns instantes depois ela estava na minha frente, participando do diálogo do absurdo segundo os incrédulos, e confirmando ao mundo que "fora da loucura, não há salvação".

-Oi ! É um negócio meio maluco, mas uma voz dizendo que era um coração falou que voce tinha um recado da minha filha.

-Sim...eu sei...era o meu coração.

-Seu coração? Meu Deus, abriram a porta do hospício, disse rindo.

-Ele gosta de tomar ar no mundo real às vezes.

-Que loucura! Deve ter bisbilhotado a minha carteira para descobrir o nome da minha filha, disse nervosamente.

-Com certeza! Senta aí e toma alguma coisa...um chopp.

-OK.

-Sou um homem virtual, e meu nickname é Paixão.

-Você não é real ?

-Vamos dizer que no momento estou virtual.

-Posso tocar o teu corpo ?

-Não vai conseguir.

-Ela estendeu as mãos e descobriu que não tinha nada para tocar. Seus dedos atravessaram a minha imagem.

Eleonora ficou espantada. Tinha vontade de sair correndo, mas aquele homem-imagem, e toda aquela situação, a estava fascinando.

-Você TC de onde? Isto é, você existe em algum lugar do planeta?

-Sim! A minha realidade mora muito longe. Mas depois de muitos anos eu consegui dominar o espaço virtual. Como o meu tempo real é diminuto, venho a praia virtualmente.

- Nossa! Isso é inacreditável. Mas adorei você. É diferente.

Vai começar tudo outra vez, pensei.

-Você acredita em amor, Paixão?

-Lógico. Ele pode existir depois da paixão.

-Vou poder tocá-lo algum dia?

Quando eu chegar na minha casa, me conectar, e depois te encontrar no mundo virtual, você poderá sentir o meu corpo, a minha pele, minhas mãos, minha quentura, meu sangue latejante, enfim, todos os meus sentidos estarão atentos em você.

-Não estou entendendo nada, disse ela com ar desiludido.

-Eleonora, na realidade eu não estou aqui...

-Meu Deus! Que loucura. Mas nós vamos teclar ?

-Vamos sim! Agora eu tenho que ir. Me dá o seu telefone. Quando chegar em casa eu ligo para você.

Um semana depois de começarmos a teclar e nos encontrarmos pelo telefone, eu e Eleonora estavamos perdidamente apaixonados.

Eu nunca mais voltei aquela praia !
*

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