15 de maio: Nakba, Palestina, 1948

O dia seguinte à criação do Estado de Israel (1948) é lembrado pelo povo palestino como Dia da Catástrofe (Al-Nakba), ou Êxodo Palestino. Os relatos mostram que, em um único dia, as aldeias e cidades palestinas foram invadidas e incendiadas e 750.000 moradores expulsos, executados, submetidos ao “desaparecimento forçado” ou à condição de refugiados.

O embaixador palestino Suhail Akel (www.suhailakeljerusalem.com) relata o contexto histórico da criação do Estado de Israel. A doutrina do Sionismo, especialmente a partir de intelectuais e empresários judeus fixados na Europa, foi ao encontro dos interesses britânicos na I Guerra Mundial, que pretendiam vencer o conflito a qualquer custo e teve os sionistas como aliados. Em troca, a Grã-Bretanha apresentou a Declaração de Balfour, em 02/11/1917, com a promessa de criar um “Lar Nacional Judeu na Palestina”. Em 1919, o Acordo Feizal-Weizman estimulou a migração de judeus para a Palestina e seu imediato assentamento.

Assim, de dentro do colonialismo britânico, surgiu a primeira manifestação concreta para criação do Estado de Israel. O português Boaventura de Sousa Santos mostra a lógica inocultável: “a criação de Israel é um ato de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados” (www.cartamaior.com.br).

O holocausto praticado pelos nazistas na II Guerra Mundial é inegável e foi direcionado não só ao povo judeu, mas a outras nacionalidades minoritárias e militantes comunistas. O mundo não pode fechar os olhos para os crimes contra a humanidade praticados pelo imperialismo, em qualquer de suas formas particulares (como o nazismo). Vale lembrar que os EUA jamais assumiram qualquer responsabilidade pelas bombas atômicas sobre o Japão, provocando a morte instantânea de 220 mil pessoas.

O holocausto não justifica o terror. Suhail Akel diz que o Direito Internacional foi enterrado e se provocou a “indústria da culpa”, em que qualquer questionamento das violações aos direitos humanos provocadas por Israel é chamado de negação do holocausto.

Ninguém menos que Albert Einstein e outras personalidades judias mundialmente conhecidas publicaram, no New York Times de 02/12/1948, carta dizendo que “os dirigentes israelenses são fascistas” (www.rebelion.org), em que denunciam a ação de forças paramilitares judias na Palestina desde antes da criação de Israel. E mostram, como exemplo, a invasão da aldeia árabe Deir Yassim, em Jerusalém, em 9 de abril de 1948. Os camponeses não haviam tomado parte no conflito e inclusive firmaram um pacto de não-agressão. Ainda assim, os bandos terroristas do chamado Partido da Liberdade mataram a maioria de seus habitantes, 240 homens, mulheres e crianças, e mantiveram alguns com vida para desfilar com eles pelas ruas de Jerusalém. Os dirigentes não se preocuparam em ocultar o massacre. Expuseram os corpos e escombros aos correspondentes internacionais como ato de orgulho e intimidação. Hoje, Deir Yassim resta enterrada sob o bairro Kfar Shaul, subúrbio de Jerusalém Ocidental, e foi um dos 418 povoados palestinos sobre cujas ruínas se ergueram cidades israelenses.

Enquanto, do lado israelense, se comemora o “Dia da Independência”, os árabes, em especial os palestinos, celebram o Dia da Catástrofe (15 de maio de 1948), como um dia de memória, luto e resistência. A celebração incomoda: em maio de 2009, o parlamento israelense aprovou a pena de prisão para quem participar de atos comemorativos da Nakba.

Na virada de 2008 para 2009, a catástrofe se repetiu, com os bombardeios sobre a Faixa de Gaza. Mas não acabaram as violações. Os cidadãos de Gaza sequer podem reconstruir seus prédios, devido ao bloqueio econômico e militar na fronteira com Israel e no acesso marítimo. Milhares de ativistas da causa palestina estão nas prisões israelenses. Os palestinos que vivem em Israel são tratados com a pecha de “cidadãos de segunda classe”, submetidos à força policial de um Estado que não é o deles. No passado e no presente, é fundamental denunciar as violações contra o povo palestino, como parte da luta anti-imperialista.

Júlio da Silveira Moreira é Vice-presidente da Associação Internacional dos Advogados do Povo e professor de Direito Internacional. Site: www.direitodospovos.wordpress.com

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