"Amor confessado" - Rondel
Amar, jamais será erro ou pecado.
Emoção que nos faz loucos, febris.
Sentir, que não pode ser controlado.
Sensação boa, de ser bem mais feliz.
Jamais vou negar o que sempre quis.
Meu corpo, ao teu corpo estar atado.
Amar, jamais será erro ou pecado.
Emoção que nos faz loucos, febris.
Quero me entorpecer desse cassis.
No teu abraço, ter o medo dissipado.
Vem sussurrar teus anseios mais sutis
Deixe aflorar, esse amor já confessado.
Amar, jamais será erro ou pecado.
Glória Salles
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"Qualquer coisa assim..."
No silenciar dessa noite a alma chama.
Quando uma brisa gélida a pele arrepia.
Traz nas asas a melancolia que reclama.
A boca ardente e possessiva que inebria...
Delira ao lembrar do absinto, o gosto.
Tomando de assalto o coração indefeso...
Na penumbra, o olhar terno e exposto.
Revela um sentir alucinado e aceso...
Pensamentos perdem-se em fantasia.
Atrelando a cumplicidade da saliva.
Ao sabor imaturo da saudade baldia.
Que me confere submissa e cativa...
Entretanto, um soluço acromático resvala.
Como o mar pelo rosto navega, e a voz cala...
Glória Salles
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"Quietude..."
Quando em vez, o pensamento te traz na retina.
E cada pormenor conta deste sonho só meu...
Todo gesto é uma singular descoberta.
Que com avidez, olhos insaciáveis registram.
O peito arfante comprime a saudade arquivada.
De momentos meus jamais compartilhados...
E imersa nessa paixão solitária e tão minha.
Permito que sua presença, mansamente, venha...
Como se revira a lembrança, revirando o pensamento.
Que a cada instante traz detalhes conhecidos...
Da manha cálida incrustada num tempo palpável
Uma dessas surpresas, ao virar de qualquer esquina.
Não possuo o domínio de refrear minha emoção.
Que extravasa pelas frestas desta saudade contida...
Glória Salles
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"Apenas eu..."
Apenas eu conheço meus arroubos absurdos
E a incoerência, tento domar inutilmente.
Apenas eu sei o que movimenta meus surtos
E a causa desta insônia austera, indolente...
Apenas eu conheço os espectros desta cadeia
Que acorrenta meu caminhar embaraçado
Apenas eu sei da sofreguidão que permeia
Quando me olha, feito um passante desavisado...
Apenas eu sei adequar esta história cálida
Ao meu universo, ornamentando os tapumes.
Apenas eu sobrevivo a esta amabilidade pálida
Sustentando com altivez, meu orgulho incólume...
Somente eu sei ser festa em todos os teus momentos.
Ainda que insensível, eleja o som de outros ventos...
Glória Salles
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"Silencio nas palavras..."
Enche-me os olhos do brilho mais refulgente
Quando dos recônditos da minha fantasia
Tua imagem surge delicada, e calmamente.
Impregnada de lembranças daquele dia...
Meus olhos te leram como se fora um esboço.
Tomados de uma emoção quieta e controlada.
Jamais conhecerá a real dimensão do esforço.
Do gesto retido e da intenção camuflada...
É que a emoção era só minha só meu o alento.
Temi que percebesse minha indiscreta leitura
Que teu sentir, explorasse meu denso pensamento.
Então calei o sentimento numa cálida armadura...
Até mesmo hoje, quando te percebo achegado.
Silente leio teus olhos, desejando-te ao lado...
Glória Salles
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"O simples da vida..."
Por vezes, racional demais não via a perfeição.
Nem cedia ao pensamento a escolha de viajar...
Os muitos ais sustentados pela fria solidão.
E o cego coração poeta nem tentava visualizar...
Privado por indulgência da vida que pouco dá.
Ostentava o puído estandarte de não viver o que prega
Talvez por ser tão bucólico só no papel retratar
E abdicar do prazer que o simples sem dolo, entrega...
Renovando o objetivo, até pra melhor conviver.
Tive o olhar mais atento aos pormenores ao redor.
Colori com fartura o sépia que reprimia meu ser.
Bati o pó dos vazios, quis as minúcias perceber.
Hoje consinto a aragem, que dá mais vida à poesia.
Quero sentir com o tato, a vida toda num só dia...
Glória Salles
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"Clausura..."
De um tempo que é nosso algoz
E reprime todos os sentidos
Fazendo sonolenta minha razão...
Esperas que domam meus pés arredios
Trazem a dúvida de passos furtivos
Escraviza e atravanca minhas forças
Ruminam meu desconhecido predominante
Que estremecem o chão da minha alma...
Ainda que o silêncio lacônico e conciso
Abrevie as reticências, nos faça cúmplices...
Glória Salles
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"Assumo..."
Assumo que quando sem norte peregrinava
E nos tantos descaminhos era mero viajante.
A porta originaria da ilusão me abraçava.
Foi no teu olhar, que aportei contingente...
Assumo que meus pés feridos nos percalços.
Desta terra alheia, quando ainda peregrina.
Tuas mãos firmes e afáveis aliviaram o cansaço.
E teu colo o berço que me fez outra vez menina...
Assumo, ofereceu-me no teu peito, a paz almejada.
Foi na cumplicidade do olhar que achei meu cais.
E não sei calcular o calibre da emoção saboreada.
Quando mãos atrevidas foram balsamo aos meus ais.
Assumo ainda, que no aconchego do teu abraço.
Abandonei meus medos, segura, no teu compasso.
Glória Salles