Quem sou eu?
Um vulto apenas a caminhar sem rumo numa noite escura que se encontra tão longe da madrugada, que pode traduzir esperança.
Acho que descobri com muito pesar o que realmente sou.
Sou o resto do que sobrou daquele amor que ruiu levantando poeira, como um prédio implodido numa tarde sem brisa.
Ah, como me fez mal esse amor! Como agitou as águas antes tranqüilas do meu pequeno oceano, onde navegava barco sereno como se fosse de papel!
Você talvez nem possa avaliar o estrago que fez, o deserto que criou na fertilidade dos meus sonhos, transformando em simples miragem a cor verde das folhas das palmeiras, o oásis imaginário que atende aos sedentos de amor.
O que restou de mim, pobre andarilho das noites sem lua que tenta contar as estrelas para que o tempo passe mais rápido e a madrugada chegue logo trazendo talvez um pouco do sono perdido das longas vigílias atrás do que não sei e que talvez nem exista.
Você foi, mas deixou ruínas e um descompasso terrível para um coração que só tem como pecado: Amar o erro, se apaixonar pelo incerto e se apoiar no impossível de uma esperança.
O PINHEIRINHO
Luiz Gonzaga da Silva
Lá no vale dos extremos
Um pinheirinho existiu,
Que calado assistiu
As nossas juras de amor.
Em seu tronco escrevemos
Dois nomes em um coração.
Era um sonho, uma ilusão,
Que se transformou em dor.
Pois, logo você partiu,
Sua jura esqueceu,
Seu nome de junto ao meu,
Você riscou sem pensar...
E o pinheirinho sentiu,
Por me ver sofrer assim!
Talvez, com pena de mim,
Começou a desfolhar.
Hoje um tronco sem vida,
Lá na beira do caminho,
Seco, triste, sozinho,
É a lembrança que ficou.
Inda com a alma sentida
Fico horas a recordar
De quem mais me fez penar,
Que amei e não me amou!