Aleatoriamente
Até para quem resiste
Peremptoriamente?
O que constitui
O âmago dum sentimento
E a tudo substitui
Seja qual for o momento?
O amor insiste
Inexoravelmente
Até para quem dele desiste
Desalentadamente?
O que pode o pensar
Contra o flagelo do sentir
Sem desmotivar
Tudo que leva o ser a agir?
Viagem infantil
Arruma a mala, menina malaMais calcinhas, menina mimada
Lembra das noites de calçola molhada
Pula alegre notícia de férias
Dança em zigue-zague
- Que isto, moleca?
- Quer ir para o internato de correção?
E a menina aquiesce
Viaja e não percebe
Responde não sabe o quê
Virou catatônica, será por quê?
Contraste
Membro fantasma percebido realmente
Pois tua mete disfarça no presente
Tal inexorável perda passada
Supondo tua existência fantasmada
Aberração outra é aquela do fulano
Possui o membro e o carrega adjacente
Porém constrói para si um engano
Só percebe como braço uma fria longa serpente
Esquema corporal, uma realidade subjetiva
Abstração representante que se tenta compatível
Ao acesso objetivo ao concreto adquirido
Percepções difusas de um mundo falado
Intercessão da linguagem no funcionamento
Oportunando falhas no entendimento
Agonia
Há de ser forte, paciente, prudenteEm meio à vida nos pântanos brutais
Tribulações as mais contundentes
Chovem intermitentes nas vias carnais
Pungente desconforto confundido com dor
Plangente choro sentido com ardor
Miséria de esperança a escorrer em pancadas
Denunciando a verdade destampada
Desvelada morte que ofusca os frágeis olhos
Delimita a gêmea vida com fervor – xifópagas
Acompanha o deprimido, trancando-o com ferrolhos
Paralisa o indivíduo – só, álgido, imóvel
De um repente vazio surge o impulso
Momentâneo usurpador vital
Das alegrias banais em ímpeto avulso
Venda os olhos ao limite capital
poEros
Um Certo PsicólogoUm anjo passou pela minha vista
Quando não conseguia ver mais o céu
Chamou-me a atenção
Lindo! Bênção de tesão!
Voava pelos meus olhares inebriados
A serviço do que eu ignorava
Dizia: “trabalho”; eu entendia:”bárbaro!”
Dizia: “dedicação”; eu entendia: “paixão!”
Movia o semblante ao ritmo de Mozart
Oferecia a voz como um gozo de sêmem
Despediu-se com um sorriso
Que bambeou meu inexorável siso
Eu Sou De Quem?
Papai amou mamãeMamãe amou papai
O amor gerou dois frutos
Um deles foi um bebê-menina
A menina cresceu, estudou, brincou
Fez traquinas como as outras meninas
Num piscar de olhos, viu-se adulta
Independente na lei civil e penal
Daí surgiu a dúvida:
Para que estou aqui?
Hei de algo fazer?
Mas o mundo adulto não é pai nem mãe
Cobra mais do que posso oferecer
Cobra habilidades que não possuo
Cobra sanidade pela qual luto
Nem ao menos vislumbro oportunidades
Azo pra ser gente, gente a que preze a sociedade
Assim caio no buraco fundo
Fundo sem fundo
E desando a estancar, decepção
Estanco como um defunto, sem aptidão
Concluo: sou do mundo
E do mundo preterida
Oxalá eu fosse dele querida!
A Vida Segue...Pois Que Não Cegue
A noite é uma viagem sem voltaUm dia talvez ela me guie
Pelos túneos obscuros de minha sina
Ou mesmo um dia eu a puxe pela mão
E a guie pelos mesmos turvos caminhos
Pois quem sabe do destino?
Negues, negues, mas não te mintas
Como a um néscio
Sabemos morrer escondidos do destino
Sabemos morte muito mais do que dizemos
Negues, negues, enquanto tens um Deus que te [protege
Mas não te esqueças da consciência
Do pensamento-ação,
Do livre arbítrio
Do vão martírio dos não-sãos
E rezes, rezes, por todos nós
Que pedimos uma mão
Vivência Mundana
Complicado reconhecer-me sob a pelePele que estranho e ojerizo
Tateia o mundo, sem fé
E não deixa sequer um sorriso
Como são vis os sentimentos
Tomam-me a alma e o corpo
Sem o menor comedimento
Nem me poupam o osso
O que é um laço social?
Por que não me acho no mundo?
Como será o desfecho fatal?
Que exterminará o que penso no fundo?
Saudades sinto do tempo passado
Aquele tempo quando eu não existia
Quando o sofrimento era riso e o riso era fado
Quando meu coração não batia e muito menos sentia
Berçário Brasil
Vida leviana, ingrataMandava pra mata
Ser nega do amo
Obrigada a dizer: - amo
Sonhava embuçada na lida
Peca, culpa, não grita
Pois reina da vida o instinto
E, saída outra; Ai! Assassino!
Agita ao hábito o dia
Passam anos, e o amo:
- Embrenhada maldita!
A conta aumenta do ano
Peito maldito, agora quer-lhe prenhe
Já cozinha e desnutre
Mas o fruto agora já supre
Na mata o amo – e geme...
O Agora
O momento é um sóPassado, presente, futuro
Existem apenas
Em interações
Não se deve contar
O que não se garante
Nem inventar certezas distantes
A dúvida é inerente à vida
Como a imprevisão
É inerente ao ser
Qual o melhor ou pior
Caminho a seguir
Só a humildade
Pode levar ao saber
Soneto Para Minha Morte
Sei que um dia morrereiComo, quando, onde, não posso saber
Um dia morrerei, eu sei
E não precisarei mais escrever
Nesse dia, não verei mais a luz do Sol
Não sentirei fome, sono, coisa alguma
Irei a todas as partes, mas a nenhuma
Conhecerei meu fado vital, o mistério mor
Morte, meu fim último, da vida consorte
Por obséquio, venha com suavidade
E, então, prometo-te: serei toda cordialidade
Morte, que chega a todos com certeza forte
Seja bem-vinda no momento oportuno
Beije este espírito em pedaços e o torne uno
Renúncia
Neblinas terríveis circundam meu serNão tenho mente, não tenho viver
Tenho tormento
Um corpo a apodrecer
Selvagem, desconheço amizade
Tremendo, não vislumbro futuro
Angústia, solidão, no peito arde
Como o condenado ao fuzilamento esperando o furo
Não sou benquista, não sou amada
Para que dar à vista uma alma que vale nada?
Não trabalho nem me adapto
Passa por mim sorrindo, o apto
Não posso mais
Não há por que viver
Sofrer, embalde, e só mais
Qualquer lenitivo será meu prazer
Palavra
Por que te quero, por que te busco?Por que me machucas, por que me foges?
Não sei qual é a tua
Sei que me dominas
Sei de tua habilidade crua
Só não percebo o que me ensinas
Se te uso, erro
Se te evito, erro
Se te troco, entrego-me
Por favor, mostre-me onde acerto
Mostre-me como mantê-la por perto
E não me deixe engolindo a seco...
...cada frio aperto
Encontros e Desencontros
Cheguei. O relógio marcou o ponto.Tu lá estavas, em paz perene, aconchegada.
Eu, triste, atormentada, desesperada.
Minha alma fatigada encontrando nosso espaço marcado.
O brilho do teu olhar, a luz que eu não alcançava.
Meus martírios por dizer...
... ao ser... do ser,,,
por ser... silêncio
Ao partir, nem o pranto de minha "desfala" te comoveste
É a realidade da divisão
A divisão unida da relação
No outro dia, tu segues tranquila, em paz
E eu, andando parada, na solidão do inalcance
Abaixo a face e tremo, na busca vã da redenção.
Psicanálise
Saber a maisSaber demais
Saber pecado
Saber a menos
Rompendo o eixo
Questionando em tento
Saber e mais
A menos que
Saiba demais
Saber ou mais
Sobre o que deseja
Saber a mais
Associações
Calma santa e ama a almaSente a pele quente – calafrios
Frio corrente rente à pele
Sensação ação de se sentir
Sentimento frio de se estar vivo
Vivo agente sujeito que sente
Age e sente por aquilo que lhe é presente...
...e consente