Avatar sem girassol
Em que o vácuo da claridade prepondera:
O reino da contraluz,
Ao subjugar-nos com o seu viço
De leonina fera,
Faz com que tenhamos o insólito poder
De não estacarmos a nossa visão
Na dimensão da epiderme do oculto,
Mas de forçarmos o olhar
A viajar para muito além
Das vísceras da cratera,
Jacentes ainda no átrio do mundo.
Confinado na órbita
Do breu de orvalho,
O pensamento deixa
De ser a inane rocha
E passa á condição de fluxo:
Eterna queda d'água harta
Em mágico plenilúnio.
Leve e sem abrir mão
Da sua índole inconsútil,
O pensamento, ao despir-se
Da armadura enclausurada
No dna do universo fabricado,
Deixa pulular,
Em seu solo recém libertado,
A flora do Nirvana da razão
Quando sob o soberano jugo
Da óptica betúmica imensidão.
Então, sob o manto do visual negrume,
A percepção apura-se
Pois se dissolvem as onipresentes mentais brumas
E a verdadeira cromática da claridade,
Triunfante, assoma e todo o córtex invade
Como se fosse a glória da metástase!
HORAS NOTURNAS
Quando bate a modorra,
reluto incançavelmente
para não sucumbir á efêmera morte diária
a que me impõem os contínuos breus dormentes,
os quais me fazem jazer sobre a cama
do esteio da velha solitude teimosa
que comigo aporta nesta alcova nova.
porque quero muito ficar
ao sabor do fraternal masoquismo
dum recente relicário
de rios que inexplicavelmente sem sentido se esfumaçam:
afinal sem saber-se refluentes.
Sem saber se exatamente poderão talvez um dia desses
voltar á sua congênita forma.
No entanto, eu bem sei: eles não são molas!
Ah, me pego subitamente
afogando-me nas águas profundas do divagar
onde alfobram o titanismo
e seus devotados miasmas garridos.
Entretanto, uma vez mais,
para o quarto retorno. Me fixo na janela
a contemplar o fluir e o refluir das relíquias fraternas
que, na estrada saudosista da memória, perpassam lépidas.
Sim, então, sob o peso da dor, sobre o leito, desmaio.
Com efeito, sob o peso das águas que não jorram,
no catre, eu mortamero cansado!
Cansado de olhar o rio que corre. Corre cheio de desapego:
desapego ao passado ainda tão claro.
E ONTEM EU QUIS UM POEMA QUE NÃO PUDE CONCEBER
(ODE TOSCA A IBERÊ CAMARGO)
Ontem a paisagem
Do aroma da noite
Fecundou em mim
Um tênue fluxo dum poema.
Este fluxo carregava nas casamatas do ventre
A estrada para uma humilde hossana
A Iberê Camargo:
O mestre máximo do pincel
Que reinterpreta visceralmente
A visual realidade
Que, á primeira análise,
Se mostra vivente, a inconteste claridade incólume do sempre!
Ah, ontem á noite,
O meu ser de remendo
Quis enaltecê-lo,
Reverenciar-lhe o apurado e peculiar olhar
De transcendente acuidade,
Lançado sobre o aparente cenário em equilíbrio:
Para o geral ver,
Cegado pela síndrome de Narciso,
Completamente equacionado
Pela Matemática do humano tempo conciso.
Ah, como idolatro este olhar
Congênere da Ametista
Pois dirime a embriaguez:
Embriaguez que a insidiosa superfície
Do mundo externo impõe á vista
De um modo que bloqueia
Tão sutil e plenamente
O livre perceber que brota das mentes hominídeas,
Porque estas ancoram,
Embora inconscientemente,
Seu alado veleiro
No indestrutível porto da sageza
Do ecumênico solar desejo!
Então ele fita claramente
O incessante novelo de conflitos
Progredindo-se por debaixo da derme
Do onipresente embuste eloqüente, corrosivo!
E depois que se alimenta deste drama,
Um universo em contínuo colapso,
Vivenda em chamas,
Devolve-o íntegro, desprovido de sofismas:
Rebento do incorruptível imaginário antropofágico!
Sim, a AMETISTA EXPRESSIONISTA
Faz com que o rosto da verdadeira humana estética
Seja revelado:
Sem o adorno da airosa flor do eufemismo
E sem a indulgência que emana
Da mão estendida pela cênica sensatez residida
No alegre tremular da bandeira da trégua
Entusiasticamente anunciada, bramida!
Ah, entretanto,
O poder de captação de Iberê
É muito mais ancho:
É capaz de nos expor
Toda a densidade da latitude
Contida na pungência da tristeza,
Escondida na álacre corpulência
Do rosto de uma pessoa-oceano.
Não, eu não pude compor o tão sonhado poema:
Melancolicamente,
Naufraguei-me no mar da cara empresa.
Ah, tenho raiva, tenho pena
de não ter podido seguir a sua feérica estrela:
Não erigi versos brancos
Nem versos que sorvessem
Da fonte onde deitam
A rima pobre e a opulenta.
MEU NOME É JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA. NASCI EM JUNHO DE 1982, NA CIDADE DO SALVADOR,
BAHIA, PARAÍSO ONDE AINDA RESIDO.
QUASE NO PÔR-DO-SOL DE MINHA ADOLESCÊNCIA, DESCOBRI QUE O MEU DESTINO ERA
CAMINHAR TROPEGAMENTE PELAS ALAMEDAS DA POESIA. E, HÁ CERCA DE DOIS ANOS,
PUBLICO REGULARMENTE EM DIVERSOS SITES LITERÁRIOS.
DADOS BIBLIOGRÁFICOS:
50° VOLUME DA ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS, ORGANIZADO PELA CÂMARA BRASILEIRA DOS JOVENS ESCRITORES. O POEMA PUBLICADO CHAMA-SE
ESCRIBIR EN CIELO DE AMARGURA.
51°VOLUME DA ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS, ORGANIZADO PELA CÂMARA BRASILEIRA DOS JOVENS ESCRITORES. O POEMA PUBLICADO CHAMA-SE
FÁBRICAS DA MORTE. LANÇAMENTO 31 DE JANEIRO DE 2009.