Aonde anda a onda?
Beijando a areia da praia,
Viajando nos meus olhos que marejam entre minhas mãos.
Anda onda, na onda dos meus orvalhos.
A andulante espuma espalha, pelo meu corpo,
Carícias imersa, emersa da minha universalidade,
Que desfila no fosco pensar do meu mar covarde.
Assim, navego no arrebol dos meus medos.
Onda, anda na espuma dos meus segredos!
Em seu caracol rolam os meus dedos,
Na onda gigante vão-se os meus sobejos.
Solto-me dos arrecifes afoita, querendo dominar-te.
Mergulho no cais da alma, sargaços;
Boiando nas correntes dos meus retraços,
Onde meu ser descama emoções inenarráveis.
Imerge-se do âmago a forte influência dos mistérios,
Largo-me dos desenganos no oceano profundo,
Sobrevivo às águas cristalinas e o seu lado mais escuro.
O sal de águas azuis andam nas ondas do verde mar
E os meus olhos acompanham os pescadores a marulhar.
De noite volto ao mar para buscar a lua,
Tão nua ,tão sua, juntas a me embriagar.
Silêncio nos meus olhos, sou amante desse delírio,
Sinto-me pequenino diante do imenso mar.
Anda onda arrebenta meus arrecifes,
Onda,anda, onde andas onda?
Por que não vens me buscar?
Ouço a velha canção do mar,
Anda...vens chegando,sinto.
No cair da tarde no canto do olhar,
O mar volta ao homem...
Com a boca cheia de peixes.
Ecila Yleus
Publicado no Recanto das Letras em 09/08/2008
Código do texto: T1120087
Lados Estreitos
Sombras da história,Insônia demente,
Pesadelos com gnomos,
Movimentos da terra
Despertam-me do sono.
Abro as janelas e a brisa não vem,
Durmo e acordo nas dobras da língua.
O rádio varre as décadas em vários ritmos,
Sons diacrônicos rompem o meu grito.
Não estou só, nessas paredes existo,
É necessário cantar entre o som dos meus gemidos
Minha alma animal mastigam pensamentos.
Somos tantos, somos quantos em um só momento.
Na espera da canção canta o galo do relógio
E os dragões ácidos queimam meu estômago.
Pedra, pau, vareta, guincho,
Portões de aço, grades e hospício.
Deixo rolar o lirismo das horas
Envolta as correntes que se soltam.
Falo em línguas palavras mortas.
Sou calidoscópio em preto e branco.
Largo os pedaços e saiu porta a fora.
De um lado ouço um riso frouxo
Do outro lado desfaleço, choro, padeço.
Na esquina da rua amoleço,
Nas curvas de mim anoiteço,
Assim, amanheço na porta do outro.
Cortada em retalhos,
Desbotada em mil lados,
Perdida e achada nas rugas do tempo,
Abro-me, leio-me nesse vão reverso.
Acho-me em transe entre braços, mãos, olhos
E no quarto dos minutos me policio,
Sou eu mesma não o outro,
Que alarde o silêncio por entre fios.
Olhos, bocas, ouvidos,ocos, idos.
Tudo numa tela escura,
Num quadro cru, no sul da nua insensatez.
São pontos vagos, marcas de passadas...
Sinais de vôos noturnos.
Largo-me do divã afando
Casa com janelas, portas com trincos
Cabeça ornadas de rosas formosas.
No pingo do meio dia amo amo amo
E volto a dormir como um anjo.
Ecila Yleus
Publicado no Recanto das Letras em 19/08/2008
Código do texto: T1135614