A terra é mãe parindo a dor e a cana
sob o canto de ferro dos facões.
O contingente infanto-juvenil
realiza ambições aristocráticas,
ao peso das taperas e dos trapos,
da cicatriz, do choro e da vergonha.
A terra é sorte dura e carrascal,
sustentando o progresso e a produção,
locupletando a burra desumana
do vil capitalismo dos soberbos,
cujo silêncio diante das procelas
revela a natureza das misérias
e as causas eficientes das tragédias.
Quantos cretinos dobram-se ao suborno,
negociando moral por bagatela,
negando ao desgraçado o pão da fome,
para engordar chacais capitalistas!
Tempo rudo, escabroso, primitivo;
insensibilidade sem fronteiras!
Propagando moral enegrecida,
resguardada em moirões apodrecidos,
esse tipo de gente assombra a História,
enquanto a insanidade vara o tempo.
Para aplacar a vida em desatino,
onde se encontra a chave dos mistérios?
Há quem despreze o sangue lucilante
vertido nos galpões da exploração
sobre a voracidade das correntes,
das máquinas dentadas das moendas,
das foices, das enxadas, dos gadanhos.
É o desdém da rotina patronal.
Em algum lugar, lamúrias noturnais
eclodem dos meninos explorados.
Escravos do silêncio e do abandono,
filhos do mundo triste da vergonha,
submetem-se ao látego da elite
que dilacera a carne e fere a honra.
As noites são cruas, desertas e frias,
concerto de ardis ao cansaço infantil.
O estranho cenário carcome as vontades,
entulha os desejos de sombra e receios,
enquanto ao relento fantasmas se aplicam
dançando ao tremor da luz débil do azeite.
Na procissão desesperada dos aflitos,
escorraçados pelo açoite das promessas,
segue a lamúria, segue a dor e segue o pranto,
na reza atônita que abisma as emoções.
Há ronda nua, tensa e impura pelos campos,
concretizando males, mortes, pesadelos!
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