Tiradentes é mais um daqueles nomes famosos em nossos velhos livros didáticos de história, dos tempos de ginásio. Celebrado como um dos maiores heróis brasileiros, o Joaquim da Silva Xavier foi, como apontam recentes levantamentos, alguém usado por um grupo com interesses nada próximos da ideia de heroísmo em prol da libertação dos colonos das garras do império português. A conspiração dos mineiros teria sido, na realidade, um movimento de oligarquias, quando o nome do povo foi invocado apenas como justificativa, cujo objetivo não seria a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais. A própria veracidade dos fatos que envolvem a sua execução, via esquartejamento, não é comprovada, e estima-se ainda que outra pessoa, outro condenado, teria morrido em seu lugar, tese sustentada por testemunhas da época (que não reconheceram o enforcado como sendo Tiradentes), estudos grafológicos que apontam a presença dele em momentos posteriores ao suposto ano de sua morte (1792), e que, inclusive, este seria o motivo pelo qual a cabeça dele tenha desaparecido, com vistas a que não se pudesse mais identificar o corpo.
Mas inegável é o fato de que os mentores e apreciadores da República, logo após 1889 trataram de criar mitos e ficções com o franco objetivo de denegrir o império, principalmente a figura de D. Pedro I, desqualificando ou minorando o seu ato de independência. A criação do "Mito de Tiradentes" veio justamente para sobrepujar o valor heroico de Pedro I, para que o Brasil entrasse no século XX descrendo cada vez mais na monarquia, para enterrá-la de vez e sem chances de retorno. E ao passo que Tiradentes, um Alferes (posto similar ao de um Subtenente hoje em dia) que - numa análise mais apurada, vê-se que jamais teria condições de arcar e comandar os ilustres participantes da insurreição, onde haviam inclusive coronéis e desembargadores - embarcou vivo e protegido pela Maçonaria, rumando para Portugal onde viveria incógnito, os inventores de sua fictícia história heroica - os republicanos - viriam mais tarde a tecer livros, quadros e poesias para fomentar o clamor popular. Resumidamente, Tiradentes poderia ter sido quase um ninguém, um bode expiatório usado por poderosos que desejavam excluir Minas Gerais de ter que enviar os impostos em ouro (o chamado "quinto") à Portugal, e que cem anos depois caiu como uma luva nas mãos do Marechal Deodoro e do Marechal Foriano, no plano que traçavam para impingir uma nova história aos brasileiros, com heróis incríveis, despojados e desafiadores do império! Até mesmo a barba e os longos cabelos de Tiradentes foram inventados, para que ele se assemelhasse a Jesus Cristo, e assim amplificasse ainda mais a sua imagem de redentor, o que se deu com muito sucesso. Estimo que Tiradentes seja uma das maiores farsas da história brasileira, e que certamente não deve ser a única.
- Alberto Murteira