Sobre o Lulu:
Todo mundo sabe que os homens tem grupos privados no facebook para falar sobre mulheres que eles já comeram/querem comer/conhecem/etc. Todo mundo sabe que homens falam sobre isso quando estão juntos, dando nota, avaliando, etc. Todo mundo sabe que os homens cantam mulheres na rua, desrespeitam, passam a mão, agridem, espancam, humilham, estupram, forçam sexo com a namorada, fazem chantagem, controlam, assassinam, etc. Todo mundo acha isso normal e não fala nada sobre, não vejo um milhão de postagens sobre o desrespeito que as mulheres passam todo dia no facebook, páginas e mais páginas para isso, enquanto temos páginas e mais páginas com fotos de adolescentes nuas, com vídeos pornos gravados por namorados abusivos, com gente dizendo que "mulher tem que se dar ao respeito", meninas que se matam por terem vídeos e fotos colocados na internet, milhões de comentários dizendo que tem que se matar mesmo, agredindo, xingando, humilhando, desrespeitando, etc. Nenhum, nenhum comentário sobre homens. Nenhum falando sobre a responsabilidade deles nisso tudo, nada.
Derrepente, surge um aplicativo feito por mulheres para mulheres que serve para falar sobre homens, comentar se eles são "fofinhos", "lavam a louça", "querem ter filhos", etc. E junto com ele uma porrada de gente reclamando do aplicativo. Porque? (coisas que ouvi essa semana):
É objetificação.
É desnecessário.
É pagar na mesma moeda.
É misândria.
É feio, chato, bobo, falta do que fazer.
É desrespeito.
E daí eu me pergunto, será que essas pessoas não percebem que esse aplicativo é (parafraseando a Ane) um respingo da bosta que vocês jogam nas mulheres o tempo todo? Será que é mesmo tão desnecessário? Ou será que não serve, pelo menos, pra gente por a mão na consciência e perceber quanta bosta estamos compactuando com, mas temos necessidade de falar de uma coisa tão ridícula quanto um aplicativo bobo desses SÓ PORQUE ele é feito por mulheres? Orgulho de ser hétero é brincadeirinha, LuLu é absurdo, desnecessário, bobo, horrível, pagar na mesma moeda, absurdo, desrespeito. Como se o facebook INTEIRO não fosse isso também, como se o MUNDO não fosse absurdo, desnecessário, horrível, violento, etc.
Não foi pra esse mundo que eu me inscrevi, família espiritual, por favor venha me buscar porque não aguento mais.
Aerys O Touro
Gente, eu nem ia falar nada não, MAS EU PRECISO!! É muito homem tristinho no meu face, eles precisam ser consolados. Então... eu fiquei refletindo profundamente sobre a hipocrisia e o ego infantil masculino. Aí me aparece um tal de app Lulu e desencadeia a revolts dos iuzôme. Amigos, parecemos imbecis? Vocês não afirmam que já vivemos numa sociedade com direitos iguais: nós mulheres votamos, já podemos frequentar as universidades, ocupamos altos cargos empresariais, temos a tal liberdade sexual (opa, podemos até fazer filminho pornô pras suas punhetas noturnas ¬¬) e olha que até temos privilégios sobre os homens, afinal, vocês abrem a porta do carro, pagam a conta do motel e nós ainda temos descontinho na entrada de bares e baladas!! (pros desinformados, deixa eu avisar que estou sendo irônica). Feminismo pra que? Mas aí surge um app 'inconstitucional' (sim, eu li isso) e boatos de que ele teria como função expor homens à avaliação de seus - OH!! - pintos!! Opa, aí iuzôme reclamam que o feminismo deve zelar pela 'igualdade', e que a brincadeira tá ficando sem graça porque tá "incitando a violência a seres humanos", "expondo seres humanos ao ridículo" etc e mimimi. Ok, pelo que me informei, o app não serve pra isso (já podem relaxar o cuzinho parcialmente), foi apenas boato, mas e se fosse esse o objetivo do Lulu? Quer dizer que existe sim, a tal igualdade quando ela é conveniente, porque quando os corpos de vocês correm o risco de serem objetificados (bom, só isso me soa muito ingênuo e patético) expondo-os em seu desempenho sexual, suas brochadas e o tamanho do seu pau, aí já é 'satanismo, é ridicularização e exposição' de quem?? De SERES HUMANOS.
Homens cis heterossexuais TEM SIM, conhecimento do discurso e atos violentos que eles afirmam e propagam. Eles só se doem quando pisam em seus calos, eles, os "seres humanos que estão sendo expostos". Mulheres, homossexuais, negros, transexuais, crianças e outros grupos ditos 'minorias' são expostos desde sempre, ridicularizados e violentados de inúmeras formas 24h de seus dias, durante toda uma vida. Cadê iuzôme cis heterossexual revoltados protestando contra isso e não propagando o ódio? Ou não somos também "seres humanos", amigos? Ora, poupem-me de infantilidades, chiliques, fricotes, vocês não correm o risco de serem estuprados, agredidos, expulsos de seus empregos, mudarem de cidade, ou se suicidarem por causa de um app. Mas valeu o susto. Quem sabe agora vocês consigam imaginar 1% da pressão que vocês exercem com seus machismos. Olhem pros seus rabos (e como estão sujos!) e poupem-nos desse "vitimismo" (expressão essa, inclusive, que vocês mesmos adoram usar quando querem calar a voz das minorias).
Agora, que tal se a gente comparar a avaliação que fazem dos caras no Lulu, com as histórias da página Cantada de rua - conte o seu caso? Vocês REALMENTE acham que colocar umas tagzinhas #éfofocomamãe ou #bebezão é alguma coisa válida se a gente comparar com a REAL objetificação das mulheres? Com um cara chamando você de gostosa e falando que 'te lambia inteira' sem nem se importar ou levar em consideração quem você é ou o que você faz... Ser chamado de #bebezão ou falarem que vc #respondesmsrápido é tão desumanizador quanto o assédio de rua sofrido pelas mulheres?
Eu raramente vejo machinho reclamando ou levantando o peito pra defender mulher quando é assediada, mas vejo MILHÕES de pessoas, inclusive essas que tão mimizando por causa do Lulu, dizendo que "se tá de saia curta mereceu ser assediada, da próxima vez se dá mais ao respeito pra isso não acontecer".
Vocês que tão reclamando da objetificação "dozomes", tão comparando uma coisa que MILHARES de mulheres passam todos os dias, independente do que elas falam ou fazem, uma coisa que MATA e violenta mulheres todos os dias, com um app mega infantil tipo rodinha de conversa de menina de 12 anos falando de tal menino beija bem ou mal.