Foto: papa.cancaonova.com
Nesta segunda-feira, 22, quando o papa Francisco desembarcou na base aérea do Galeão, os brasileiros puderam admitir: habemus papam (temos papa).
A visita de um papa é uma honra para qualquer país, ainda que por dois únicos motivos: incremento do turismo e visibilidade na mídia mundial.
O foco desta semana não deveria, em princípio, estar centrado no novo pontífice, e sim na Jornada Mundial da Juventude. Sabemos, entretanto, que o papado é um ícone, a única monarquia absoluta que resta no Ocidente, e revestida de uma sacralidade que não recobre nenhum outro líder religioso ou político da atualidade.
A vinda do papa Chico –como muitos jovens já se referem a ele– abre um leque de múltiplas expectativas. Nesta sua primeira viagem como pontífice para fora da Europa, ele proferirá uma dezena de discursos. Sua visão de mundo e o rumo que pretende imprimir à Igreja Católica haverão de transparecer. Os católicos concluirão se Francisco será um papa avançado como João XXIII, moderado como Paulo VI ou conservador como João Paulo II e Bento XVI.
Francisco chega para encontrar os jovens. Vem trazer-lhes uma Boa Notícia, o que os gregos antigos chamavam de Evangelho. Este é o objetivo número um da viagem. De fato, será o encontro de duas jornadas: a dos jovens católicos de diversos países e a da juventude brasileira que ocupou as ruas no mês passado e expressou seus anseios de mais cidadania e democracia.
Terão nossas autoridades coragem de acompanhar o papa nos contatos com os jovens ou preferirão se esconder em seus palácios como ocorreu no final da Copa das Confederações? E se houver manifestações, a polícia agirá com violência?
Frente a uma manifestação, não haverei de estranhar se o papa Francisco, homem nada afeito a protocolos, romper o cerco policial para cumprimentar os jovens. Afinal, eles são a razão de sua viagem. E neles reside o futuro da Igreja Católica, hoje abalada por escândalos sexuais e financeiros; pela insistência numa moral sexual anacrônica, como a proibição do uso de preservativo; e pela evasão de sacerdotes e fiéis em busca de uma espiritualidade mais amorosa e de uma religião menos clerical e autocrática.
* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais.
** Publicado originalmente no site Adital.
(Adital)