A GUERRA CIVIL EM SÃO PAULO

Polícia é uma instituição civil. A existência de uma polícia militar com as características das que sustentam a patente de coronel transitório – digamos assim –, ou comandante em chefe, dos governadores de estados de uma suposta Federação, é uma herança do velho coronelismo político que sucedeu ao império, mas vem de longe, desde os tempos dos capitães do mato e seus superiores, os viscondes, barões, condes, marqueses e duques. Na prática o embrião desse corpo estranho ao processo democrático começa quando Cabral chega.

Há um aspecto muito peculiar de nossa Federação de fancaria. Não existem nem polícias e nem judiciários municipais. Municípios ficam presos, na questão segurança, ao poder das polícias que são estaduais e, por sua vez, a Polícia lato senso, ou seja, a instituição que é civil, tratada a ferro fogo pela crônica falta de vontade política dos governos dos estados, ao contrário das policiais militares, instrumentos de repressão pura e simples, com uma estrutura típica de exércitos, mas uma boçalidade sem tamanho. E corrupção.

Vale dizer que nessa ótica, o combate a movimentos populares, quaisquer que sejam, permanentes, ou episódicos (protestos contra aumentos de tarifas de transportes coletivos), tem prioridade sobre outro combate, o que deveria ser feito ao tráfico de drogas, quando não, cumplicidade.

O caso das UPPs no Rio de Janeiro, modelo que se pretende espalhar para todo o Brasil , é um exemplo típico desse fenômeno. A pacificação é superficial. O tráfico permanece intocado e se beneficia desse processo. Não existe uma ação profunda, planejada e constante de combate ao tráfico de drogas, como não existem políticas de recuperação dos viciados. E tampouco um sistema prisional que enseje a recuperação de condenados. É o contrário, as prisões e penitenciárias são fábricas de criminosos.

Incapacidade de mudar o modelo? Não. Submissão dentro de um processo político e econômico que transforma gradativamente o Brasil num entreposto do capital internacional, com alguns vagidos de capital nacional. Uma estrutura falida, um institucional corrompido e a nação, cada vez mais, tomando o formato de conglomerado, ou de sociedade anônima. O sistema financeiro, os grandes conglomerados empresariais, o latifúndio e agora a força das igrejas evangélicas (neopentecostais) detêm o controle das ações do Estado, da máquina pública e moldam instituições ao sabor de seus interesses nos três poderes.

Não se bate um prego sem estopa em cada uma das atribuições do Estado instituição, é só olhar a decisão do governo Dilma de privatizar/conceder a exploração de portos e aeroportos a empresas privadas, ou de privatizar a administração dos hospitais universitários.

A destruição dos serviços públicos pela famigerada terceirização, um jeito simples de transformar em fator de lucro os direitos dos cidadãos eximindo-se dos deveres do Estado. E tornar o País cada vez mais manco. Estamos próximos de recorrer às bengalas.

A falência do sistema.

A violência em São Paulo toma aspectos de guerra civil seja por conta dessa estrutura, seja pelas características da cidade de São Paulo e de todo o seu entorno, como pela incapacidade do governo de Geraldo Alckmin de lidar com o problema.

De extrema-direita, ligado a uma das seitas terroristas da Igreja Católica, a OPUS DEI, que hoje governa o Vaticano, Alckmin é uma espécie de rato que foge correndo de situações que não pode enfrentar, enquanto garante o poder das elites, que em São Paulo podem ser definidas como o complexo FIESP/DASLU, associação de uma das mais retrógradas entidades empresariais do País e a um grupo de contrabandistas que veste, por exemplo, Dona Lu Alckmin.

É claro que a principal organização criminosa de São Paulo não tem compromissos revolucionários, nada a ver com a luta popular por melhores condições de vida, por mudanças estruturais na política e na economia, mas veste essa capa junto às populações excluídas. tanto quanto a polícia militar reprime estudantes e professores, semeia terror nas áreas de exclusão, onde vivem os excluídos.

A conseqüência é, entre elas, a criação de milícias, grupos criminosos formados por policiais e bandidos, para a “proteção” dos negócios. Os tais vigilantes que assassinam assaltantes, pequenos traficantes (são ligados aos grandes) na mesma medida que disputam o controle do crime organizado.

O resultado é esse número absurdo de mortes em menos de uma semana, a explosão da violência em níveis assustadores que faz com que o cidadão tenha medo de ir a uma padaria comprar pão. Pode ser vítima dessa guerra.

Esperar que o governo paulista tome alguma atitude, ou formule um plano de segurança para a garantia do trabalhador, do cidadão, é besteira. O crime organizado, noutra dimensão, com cetim e seda, começa no Palácio do Governo.

Se espalha pelo sistema financeiro (“o que é um assalto a um banco diante de um banco?”), chega aos grandes conglomerados empresariais, encontra abrigo nos latifundiários e paga dízimo nas igrejas de Edir Macedo e outros que exploram a fé ingênua dos desesperados. Se materializam nas decisões do judiciário (maioria) e do Poder Legislativo.

É mais que uma questão de segurança, é a resultante do capitalismo, de um sistema político e econômico onde o ser humano é detalhe e mesmo assim enquanto for capaz de ser força produtiva para o capital. Esgotada essa capacidade vira pasta de almoxarifado nas aposentadorias e pensões míseras que os governos pagam. E que Dilma quer privatizar.

Quando há alguns anos atrás uma senhora moradora de uma favela de São Paulo declarou a jornalistas que “eu prefiro o INSS do PCC, lá eles pagam a consulta e dão os remédios, o do governo não faz nada”, estava decretando, sem saber, a falência absoluta do modelo.

À época da discussão e votação da Constituição atual as polícias militares de todo o Brasil se rebelaram e constituíram um dos mais fortes lobbies junto ao Congresso Nacional Constituinte, contra o preceito que estabelece que prisões só em flagrante ou com mandado judicial. Queriam o direito de continuar a barbárie que é característica dessas corporações aliadas á corrupção e aos privilégios.

As policiais civis são eternas bruxas do sistema, a despeito dos problemas que enfrentam e geram.

A letra constitucional é morta. A barbárie e a violência permanecem, seja em São Paulo, seja contra camponeses, contra índios, pois são forças, as policiais militares, do poder e da repressão e ganharam um status que se mantém desde a ditadura militar.

A violência em São Paulo tem suas raízes na exclusão social (Pinheirinhos por exemplo), nos incêndios criminosos em favelas para favorecer a especulação imobiliária, no caos gerado nesses anos Kassab (na capital) e nos anos tucanos no governo estadual.

Tem causas no processo político de privatização do Brasil que se foi agudo no governo de FHC, permanece intocado e se ampliando desde o governo Lula e agora no governo Dilma.

Essa balela de distribuição de renda é só balela mesmo. O que há é administração da miséria. Para o governo federal, um coronel eleitoral, o bolsa família. Para os governos estaduais, vários coronéis e suas tropas na borduna de cada dia sobre o trabalhador.

A guerra civil em São Paulo é a falência do Estado no aprendizado em Haiti, em Medelín, em Honduras, onde o capitalismo treina seus cães fardados para manter intocado o sistema capitalista. As políticas propostas pelos governantes (que fazem parte do corpo de funcionários dos donos) são apenas repressivas e não tratam do câncer real que afeta a quase extinta nação brasileira. São Paulo é a face visível neste momento.

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS