Nélson Jobim foi ministro da Justiça de FHC. À época as dificuldades para a privatização da VALE estavam nas liminares concedidas pela então juíza federal Salete Macalóes, Como estava marchando o processo a VALE não seria privatizada, pelo menos nos termos definidos pelo governo de Fernando Henrique.
Jobim foi indicado para o Supremo Tribunal Federal com a tarefa de contornar essas "dificuldades". Em seu discurso de posse sem o menor pudor se disse "líder do governo nesta Casa". Não me consta que no STF o governo tenha que ter líder, a oposição também, pelo contrário, a Corte constitui-se o topo do Poder Judiciário, independente, com a dever de fazer com que as leis sejam cumpridas.
Resolver as demandas, desembargar os embargos de acordo com o que determina a lei, desde a Constituição, passando pela legislação complementar, ordinária, enfim, todo o aparato legal do Estado. Nem pró e nem contra o governo. Pela lei. Pela justiça.
Uma das primeiras providências de Nélson Jobim foi conseguir a transferência do processo sobre a privatização da VALE para outro juiz, retirando-o das mãos de Salete Macalóes. Violentou um princípio jurídico, mas todos ficaram quietos, a mídia principalmente. A VALE foi privatizada, um juiz federal dócil anulou as decisões da juíza - hoje desembargadora.
Jobim tem antecedentes. Confessou - a vaidade é uma das suas características - que alterou o texto constitucional depois de votado, a redação, modificando alguns artigos, para então enviá-lo à publicação. Isso em 1988.
Sua trajetória política é errática. Inexplicavelmente afastou-se do STF e virou ministro da Defesa de Lula. Em 2010, publicamente, mas sem pedir demissão, confessou seu voto em Serra e Lula o manteve, como negociou com Dilma sua permanência. Saiu após tentar se sobrepor a presidente, se acreditar comandante em chefe das forças armadas.
Gilmar Cachoeira Dantas, que também atende pelo nome de Gilmar Mendes, foi Advogado Geral da União (cargo com status de ministro) no governo de FHC. Conduziu com toda a equipe boa parte das privatizações.
Indicado para o STF pelo ex-presidente tucano, teve sua indicação contestada até por aliados como ACM - estava vivo - e foram expostas várias irregularidades que praticara, parte de seu currículo. A própria mídia manteve-se cautelosa e chegou a comentar as críticas a Gilmar Cachoeira Dantas.
Foi protagonista de um episódio vergonhoso para o Judiciário. Os dois habeas corpus concedidos a Daniel Dantas, que também participou diretamente das privatizações no governo FHC.
Forjou uma gravação em seu gabinete atribuindo-a a ABIN (Agência Brasileira de Informações) tendo ao lado o senador Demóstenes Torres e VEJA deitou e rolou em cima do fato, isso no esquema Carlos Cachoeira, transformando delegado, hoje deputado, Protógenes Queiroz em réu de um processo administrativo e provocando a queda do diretor geral da ABIN, delegado Paulo Lacerda.
Lula, à época, não foi para o confronto, preferiu ceder e demitir Paulo Lacerda.
O encontro com Jobim não foi e nem pode ter sido marcado sem uma consulta aos aliados mais próximos, àqueles que influenciam e participam da mesa de Lula. O ex-presidente está se recuperando de um câncer e não iria a Brasília para encontrar-se com Jobim, exclusivamente. Exceto num fato maior, mais grave, envolvendo o seu ex-ministro.
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Para Lula ir a Jobim, marcou uma visita a Jobim, ou foi convidado, algo havia a ser conversado. Se Gilmar Cachoeira Dantas por lá apareceu não foi coincidência. Jobim é um camaleão, serve a interesses políticos que não são nem os do Brasil e nem os dos brasileiros. Ele e Gilmar jogam no mesmo time, têm o mesmo perfil e a única diferença é de estilo. Jobim tem ares de nobreza e Gilmar é cangaceiro, anda cercado de capangas, etc e tal.
Gilmar Cachoeira Dantas controla a ferro e fogo a cidade de Diamantino no Mato Grosso, seu irmão já foi prefeito. Decisões judiciais já foram tomadas beneficiando seu grupo na cidade. Tem um canal de televisão na cidade, onde um apresentador sugeriu transformar crianças de ruas em matéria prima para sabão, eliminá-las. Gilmar Cachoeira Dantas esteve em Berlim com Cachoeira e com Demóstenes Torres, nos apuros sempre contou com Demóstenes ostensivamente e Cachoeira por trás dos panos, enfim, é algoz de Lula e isso ficou claro em cada processo que tinha importância política no STF, a partir dos seus votos.
Tem um instituto de estudos jurídicos que recebe verbas públicas em Brasília, mantém jornalista da GLOBO contratado e estreita ligação com a rede e o grupo Marinho. E todos têm interesse que a CPMI do Cachoeira vá para o brejo.
O estouro é grande. Cachoeira é uma ponta. O que vem por trás disso é todo o processo de corrupção que envolve corruptores e corruptos. Mostra o perfil da maioria dos deputados e senadores sob controle de banqueiros, empresários e latifundiários, logo, uma investigação isenta, séria e preocupada em estabelecer a verdade desmancharia o castelo do clube de amigos e inimigos cordiais, a maioria nos três maiores partidos com assento no Congresso Nacional, PT, PMDB e PSDB. E os acessórios, tipo PPS.
Investigar para que? Para expor os financiadores de campanha? Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Daniel Dantas, Sérgio Cabral, Marconi Perilo, Agnelo Queiroz, chegar a Aécio que nomeou uma sobrinha de Cachoeira para um cargo em seu governo, provar a corrupção generalizada no esquema de José Serra, esbarrar em Daniel Dantas?
Ora, é entregar os que compram e acabar com a compra que rende polpudas aposentadorias, como a do ex-governador José Roberto Arruda, de Brasília, quase vice de José Serra.
E José Dirceu, dono do PT? É o acionista majoritário no partido. As poucas vozes que restam com a história do PT estão deixando o barco ou se calando diante de desmandos e cumplicidades nessa política de alianças.
Não importa se Lula falou, o que falou, como deixou de falar, importa que o ex-presidente fez, visitar Jobim numa reunião que saberia que Gilmar Cachoeira Dantas estaria - é o óbvio, ninguém é bobo e se bobo existe é Lula, cair numa armadilha dessas. Ou foi consciente? Aí é pior, dana tudo.
Patetice completa. Não se pode dizer, nem dando o benefício da dúvida, que Lula iria acreditar na conversão de Gilmar Cachoeira Dantas, pior ainda, diante dos fatos acontecidos em seu governo, um mínimo de vergonha o ex-presidente sequer estenderia as mãos a Gilmar, conhecendo, como conhece, o envolvimento dele com quadrilhas do crime organizado no País.
Com isso, a CPMI vai para o brejo, os corruptores vão ficar impunes, breve Cachoeira estará solto, Demóstenes vai tentar salvar o mandato - deve sair para deixar um exemplo de atitude de um Senado que entrega anéis para não entregar ou perder os dedos - e Lula se estrepa, pois a Procuradoria já quer representar contra ele. Perde politicamente, que para ele é o que importa.
VEJA ganha fôlego e essa gente toda acha que somos idiotas, ou patetas como Lula.
O que ex-presidente fez foi jogar boa parte de sua história fora - já jogou quase toda - e permitir aos bandidos sair de cena impunes.
A democracia no Brasil é isso. Farsa, um jogo de comadres como se diz em Minas. Termina nas mãos de Nélson Jobim, Gilmar Cachoeira Dantas e Luís Inácio Lula da Silva.
E aí? Fora das ruas, o povo nas ruas, não há saída e breve, a continuar como está, uma baita entaladela, onde a alternativa de sobrevivência vai parecer transparente a todos, A busca nas ruas, nos movimentos populares por um novo modelo político e econômico, capaz de evitar a frase atribuída a De Gaulle - "o Brasil não é um país sério".
E pateta irresponsável nessa história é Lula. Jobim e Gilmar são raposas.