O uso da imagem de Luís Carlos Prestes e de Olga Benário no programa do PC do B foi um típico ato de deslavado oportunismo político e que, neste momento, soa como canalhice.
A carta da filha de Luís Carlos Prestes e Olga – Anita Prestes – protestando contra essa atitude é um documento simples, singelo, mas definitivo de quem a exemplo dos pais vive a vida em conformidade absoluta com suas convicções e seus ideais, sem necessidade desse tipo de atitude.
A carta de Anita Prestes pode ser lida em
O PC do B é uma dissidência do PCB e se materializou na década de 60 no século passado, em discordância com as posições adotadas pelo partido que tinha, à época, como secretário geral, Luís Carlos Prestes.
Os caminhos de PCB e PC do B foram distintos desde esse momento. Boa parte dos dirigentes dos dois partidos foi executada pela ditadura militar e os que sobreviveram o fizeram no exílio ou na clandestinidade. Em 1979, em desacordo com a posição revisionista de grupos do PCB, Luís Carlos Prestes abandonou o partido.
Em 1989 o PCB lança a candidatura do deputado federal Roberto Freire à presidência da República. O Partidão, como é conhecido, neste momento tem o comando daquele deputado, busca os caminhos de uma frente ampla para a democracia, tenta adaptar-se à nova ordem mundial e abandona ideais marxistas leninistas. Deixa de ser um partido revolucionário o que é em sua essência, um partido classista.
Majoritário na cúpula partidária o grupo liderado pelo deputado Roberto Freire, num congresso relâmpago, no qual tiveram direito a voto não filiados, cria o PPS. E tenta manter a sigla PCB sob seu controle. Encontra oposição em figuras como o arquiteto Oscar Niemeyer e vários intelectuais, artistas e trabalhadores, decididos a manter a bandeira marxista leninista.
Se Roberto Freire, através de um golpe de mão e por ter a maioria na cúpula consegue seus objetivos, a militância deixa o novo partido – hoje um apêndice do PSDB e à direita – e busca manter a sigla PCB que Freire queria guardar como sua propriedade. Uma batalha judicial garante aos militantes comunistas o direito de manter a sigla e reestruturar o partido.
Freire entregou a REDE GLOBO todo o patrimônio documental do PCB num ato de traição inominável. E noutra atitude inaceitável e que só o desonra, à revelia de muitos militantes, transfere filiações do PCB para o PPS viabilizando seu golpe.
O grupo que recupera a essência do PCB realiza uma crítica à política implementada por Freire e o PCB – Partido Comunista Brasileiro – volta a ser um partido revolucionário e classista. Traz para a luta política a busca da revolução socialista.
A essa altura do campeonato, fora desse processo, o PC do B já largara o ideal marxista-lenista, torna-se um braço do PT e em determinados municípios chega a fazer alianças com partidos como o antigo PFL. Descaracteriza-se em todos os sentidos – a despeito de poucos militantes que ainda acreditam em ilusões, ou relutam em aceitar a realidade de partido/empresa, que é a de hoje.
Resgatado em sua história e seus objetivos o PCB tem como secretário geral Ivan Pinheiro, está organizado em quase todo o Brasil e a despeito de sua ainda pequena presença na vida política – tomando por base a representação a partir de eleições – resgata os ideais de Prestes e Olga Benário. Não há lugar para revisionismos político/ideológicos no PCB.
Luís Carlos Prestes e Olga Benário nada têm a ver com o PC do B. É o contrário. Os dissidentes do PCB que saíram do partido e fundaram o PC do B são aqueles que discordaram das resoluções de uma conferência quando Prestes ainda era o secretário geral.
O uso da imagem do líder e sua mulher Olga foi um ato de vilania política e como disse Anita Prestes em sua carta ao Comitê Central do PC do B, oportunismo político num momento em que o partido se vê às voltas com acusações de práticas políticas corruptas – caso do ministro dos Esportes, Orlando Silva. E o que não era o caso de Prestes e muito menos de Olga.
Ou seja, o PC do B tentou vincular a imagem de um líder íntegro em todos os aspectos que se queira examinar, um dos vultos da nossa história e uma das grandes mulheres dessa mesma história, entregue a sanha dos nazistas pelo governo Vargas, na tentativa de confundir a opinião pública, de uma forma que só o torna, cada vez mais, náufrago de suas próprias contradições e do descarado oportunismo político.
Isso, em qualquer tipo de atividade tem um nome – mau caratismo. Foi o que o PC do B fez. Ao invés de tentar seguir as palavras do ministro Orlando Silva, que exige provas de corrupção, vale-se de expedientes indevidos, baixos, o que aumenta as suspeitas em torno do assunto, pois evita uma discussão clara, como teme que uma investigação mais ampla – é lamentável que isso tenha que ocorrer com um partido de figuras como João Amazonas – mostre que o PC do B é uma grande empresa partidária. Só isso.
O jornalista Flávio Tavares, escritor e editor de ÚLTIMA HORA ao tempo do golpe militar de 1964, preso político, um dos trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em artigo em um jornal do sul do Brasil, fala de velhos comunistas e sua integridade, seus exemplos, para concluir que no PC do B, os que antes se chamavam de camarada – o soldado PM que denunciou o ministro é da base do partido - hoje se chamam de bandidos.
A imagem de Prestes, o legado de Prestes, de Olga Benário não pode ser conspurcado por esse tipo de prática política. O PCB não tem nada a ver com o PC do B. Não se misturam, são como água e óleo. O PCB é um partido comunista, revolucionário e classista e o PC do B uma grande empresa em forma de partido político.