Ou um par de seios e a manchete avisando que a mãe desalmada esquartejou o filho recém nascido. Colocou os pedaços num saco de lixo e deixou ali, bem próximo da casa onde mora.
Paga um real e vai sacolejando no trem ou ônibus enquanto lê que o grande problema do País é a recuperação ou não do zagueiro do seu time, a tempo de recompor a defesa para o jogo de domingo.
No duro esse cidadão é instigado a acreditar que por morar num fim de mundo, enfrentar os percalços que enfrenta, trabalhar feito um louco, almoçar almoço frio ou requentado, suportar patrão e no fim do dia voltar esbodegado para casa e ainda ter que ouvir a mulher e as reclamações do dia a dia dos filhos, tudo com o dinheiro na ponta do lápis, para garantir o ingresso do jogo e o macarrão com frango no domingo, repito, é instigado a acreditar que vive numa democracia e que tem peso no processo de decisão política.
Da mesma forma o outro lado da moeda, a mulher. Ou dona de casa, ou no trabalho, a mesma faina, a mesma luta, a mesma ponta de lápis.
O casamento do príncipe parece coisa de outro mundo, um dia ainda chego lá, dá a impressão que aqueles astronautas que pisaram na Lua de fato pisaram no satélite que gira ao redor da Terra, inspira poetas e guarda São Jorge e o dragão na esperança que Tia Nastácia volte um dia e torne a fritar bolinhos deliciosos.
"Pisaram nada, os americanos montaram isso com efeitos especiais, os caras desceram num deserto qualquer. Isso é filme".
A bunda imensa da capa do tablóide. O par de seios. A mãe desalmada. A recuperação do zagueiro ou o casamento do príncipe, transmitido ao vivo com exclusividade e detalhes do vestido da noiva, tudo isso para que as pessoas se sintam ávidas de saber o inteiro teor das gravações telefônicas feitas pelo tablóide inglês e como vivem os de cima, ou melhor, quem deita com quem, quem não deita, quem enche a cara e quem está comendo caviar, mas deve os olhos dessa cara.
Aí não quer nem saber do genocídio contra palestinos, terrorismo do Estado de Israel no saque e na pilhagem costumeira do nazi/sionismo.
Pouco importa o que pensam os iraquianos, afinal as bombas caem na Líbia e não por aqui.
Tudo isso é liberdade de expressão como os caras chamam.
O que Miriam Leitão fala no rádio ou na tevê não dá para entender. A moça em questão fala de coisas distantes, a impressão que dá pelo tom raivoso e iracundo é que um meteoro gigante vai destruir o planeta nas próximas horas e a Bolsa de Valores vai se arrebentar por culpa do governo. Isso com excelente remuneração e uma diferença de um profeta que imagina que o mundo vá acabar dentro de três horas, cinco minutos e seis segundos (precisão britânica com relógio suíço). O profeta não tem a menor idéia de coisa alguma. Miriam Leitão fala o que mandam que fale. Os que pagam, os banqueiros e a dona vira referência para um objeto voador não identificado, a tal classe média.
Os que pagam tomam do cidadão da ponta cá embaixo, mas qualquer coisa o Faustão se indigna, o Luciano Huck procura a ex-mulher do governador Sérgio Cabral (pilantras de carteirinha) e legaliza sua casa ilegal em área de proteção ambiental, até rima.
Wikileaks? O cidadão está empenhado em saber qual a do ator Hugh Grant ao protestar contra as gravações feitas sem seu consentimento de conversas ao celular. Se há tanto empenho assim em protestar, alguma ele deve.
Como o tablóide fechou não há como saber. Exceto se... Quem sabe?
O que há é espetáculo de quinta categoria no processo de alienação absoluta. O ser objeto.
"Que isso cara, que mulherão e eu com aquele trem dentro de casa".
Preconceito embutido em cada linha de cada tablóide, na linguagem que não tem nada de popular, é diferente, é apenas chula e pobre.
Obama é um orgulho da raça, primeiro presidente negro dos EUA. O cara é branco, está engraxado e foi o político norte-americano que mais recebeu doações da NEWS CORPORATION do empresário Robert Murdoch, dono de um império midiático, inclusive por aqui, nesse império o tal tablóide e a liberdade de expressão. Segundo ele "sem fins lucrativos". Aqui ó! O cara é um tremendo dum safa.
William Waack de joelhos agradecendo a Hilary Clinton a chance de apresentar seu relatório sobre as eleições no Brasil. O outro o Bonner cortando notícias que "contrariam os nossos amigos americanos" e um monte de "democratas patriotas" escondidos atrás da lei da anistia na covarde vergonha da tortura e dos crimes ignominiosos cometidos durante a ditadura militar após o golpe de 1964.
O cidadão/trabalhador não imagina que dentro daqueles caminhões do jornal FOLHA DE SÃO PAULO estiveram corpos de presos políticos torturados até a morte, homens e mulheres, no melhor estilo esquadrão da morte, ou mãe desalmada, sendo desovados em estradas e ruas para simular atropelamento.
É liberdade de expressão do monopólio da mídia no Brasil, das famílias que controlam a informação e acham que você, eu, qualquer um de nós, ou temos que suportar Miriam Leitão e a chegada do meteoro destruidor, ou acordar com a Mulher Melancia avisando que fez plástica e colocou mais não sei quanto de silicone.
Está tinindo, o telefone é esse aí na tela, o michê aumentou.
Vai daí que o espetáculo que a mídia monta e dirige com perfeição, ilude, engana, é mentiroso, o brilho é ilusório, a notícia é inventada e distorcida, mas o efeito é igual.
Querem que cá embaixo todos nós tenhamos a convicção que isso é liberdade de expressão e que temos uma mídia livre.
Podre seria melhor. Ficaria mais adequado ao caráter e à natureza dos comandantes desse sórdido negócio.
Luciano Huck não bate laje na casa ilegal legalizada na bandidagem corrupta do governador do Rio e sua ex-mulher. Cada um de nós bate a laje dele quando assiste aquele monte de besteiras que transforma bicicleta em carro de corrida.
E todos pagamos banqueiros no abjeto ofício de judiar nos juros. Vem cá, entra, tem um monte de atrações e suspense sobre a recuperação do zagueiro, mas há liberdade de expressão.