Especialistas militares da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte) afirmam que sem uma presença maior de tropas e armas no Afeganistão a guerra está perdida. O governo da China propôs aos Estados Unidos a retirada pura e simples de suas tropas naquele país levando em conta exatamente a impossibilidade de vitória militar. A proposta chinesa inclui um diálogo entre as várias forças políticas afegãs e a constituição de um governo de unidade nacional sob subordinação da ONU.
As dificuldades para um processo de paz entre palestinos e israelenses crescem a cada momento em função da intransigência do governo de Israel quanto às terras palestinas ocupadas. Israel não admite a realidade de um estado Palestino e muito menos dentro dos marcos definidos para os dois estados em 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Essa dificuldade aumenta se se levar em conta o fator Jerusalém.
O controle da cidade santa das três religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – por Israel dificulta qualquer acordo de paz. Grupos de judeus ortodoxos (fundamentalistas) atacaram no domingo a principal mesquita e um lugar santo para os muçulmanos em Jerusalém. Foram apoiados por policiais de Israel. Essa é uma realidade permanente em que convicção religiosa serve para produzir fatos políticos pela lógica da dominação. São vinte e sete anos dos massacres nos campos palestinos de Sabra e Chatila, onde homens, mulheres e crianças foram decapitados com a cumplicidade direta de Ariel Sharon.
Entregue à própria sorte o continente africano naufraga na fome e na indiferença das nações ricas do mundo, interessadas tão somente nos negócios e nas riquezas dos países da África.
As eventuais divergências entre a Comunidade Européia e os EUA se referem apenas e tão somente aos negócios. Desde que a Rússia resolveu por fim ao processo de ocupação de países da antiga União Soviética por bases militares norte-americanas o sinal laranja foi aceso. A resposta russa na Geórgia obrigou a OTAN e a Comunidade Européia a reexaminar as suas ambições na região. São dependentes do gás da Rússia e Putin já mostrou que tem ciência do seu poder. Não significa que os objetivos de dominação tenham sido abandonados. Foram apenas revistas táticas e estratégias.
A crise com o Irã é fabricada. Tal e qual as armas químicas e biológicas que serviram de pretexto para a invasão do Iraque e que Saddam não tinha. Não há uma única palavra dos governos dos EUA, ou da Europa de condenação a Israel pelas freqüentes violações de direitos humanos contra palestinos, ocupação de terras palestinas, saque de riquezas palestinas e posse de armas nucleares e armas químicas e biológicas.
O governo golpista de Honduras valeu-se dessas armas (químicas e biológicas) para intimidar o presidente deposto Manuel Zelaya, abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Não há dúvidas e nem Israel negou, da presença de agentes do MOSSAD em Honduras, como em boa parte da América Latina.
Para a América Latina os norte-americanos intentam manter o controle da América Central, fustigando governos de esquerda como o de Cuba, Nicarágua, El Salvador e eventuais mudanças na Guatemala, da base que mantêm em Honduras. Foi ali que no governo Reagan se montou a guerra dos contra para abortar a revolução sandinista na Nicarágua.
Na América do Sul controlam o governo da Colômbia e do Peru. A instalação de sete bases militares na Colômbia reforça a política de controle da região Amazônica como um todo. O alvo ou alvos são os governos da Venezuela, do Equador e da Bolívia, enquanto esperam uma definição do Brasil para os próximos anos. Uma eventual vitória do candidato de direita José Serra (ou mesmo Aécio Neves e Ciro Gomes) desloca esse eixo para o nosso País. Viramos Colômbia.
Há uma preocupação que remonta à ditadura militar de controle da chamada tríplice fronteira. Na prática quatro países. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. São vários os objetivos, todos eles fechando no controle absoluto da América do Sul e questões estratégicas como as reservas de água do Aqüífero Guarani, a quinta maior reserva subterrânea de água doce em todo o planeta.
Os dois grandes desafios das forças populares na resistência a esses projetos e processos de recolonização começam pelo desafio da comunicação e lógico, o da organização.
Os governos neoliberais instalados em países estratégicos como Brasil e Argentina (FHC e Menem), entre outras coisas acentuaram o controle da comunicação (rádio, tevê e jornais) por grupos estrangeiros associados a nacionais e vendem a verdade única desde os tempos da ditadura militar.
O brasileiro, como argentino, o uruguaio, os povos latinos de um modo geral são induzidos a pensar e a sonhar o modo de vida dos EUA, mesmo que não sejam nada além de zumbis gerados pela ideologia do consumo no fetiche do espetáculo.
Quando o apresentador do principal veículo desse modo de pensar, William Bonner, definiu o telespectador padrão do JORNAL NACIONAL como Homer Simpson, apenas externou o que qualquer um com o mínimo de discernimento sabe.
Ou sintetizou o projeto neoliberal. Alienação total. Um par de tênis vale mais que um caráter ou um conteúdo humano mínimo.
Há cerca de três dias, um casal de classe média hondurenho tomou conhecimento através de fotos na internet dos massacres promovidos pelo exército daquele país contra resistentes ao golpe. Ficou chocado. Rádios e tevês veiculavam apenas as versões oficiais. O estado de sítio decretado e agora suspenso pelo presidente golpista Roberto Michelleti serviu tão somente para que fossem fechadas uma rádio e uma tevê contrárias ao movimento militar. O casal, ao lado dos fatos, não sabia nada do que de fato acontecia.
O presidente Barack Obama não tem o controle do governo dos EUA. Tem divergências com a secretária de Estado Hilary Clinton que, por sua vez, é rejeitada pela diplomacia do país, em sua imensa maioria comprometida com as políticas intervencionistas e golpistas do governo anterior, o de George Bush.
Obama fala numa direção e a máquina diplomática se movimenta noutra, alinhada com o Departamento de Defesa inteiramente sob controle dos republicanos. Ali o presidente continua sendo Bush, o vice Dick Chaney.
As dificuldades do presidente dos EUA não são apenas na política externa. Não tem o controle da mesma máquina governamental no plano interno e dia desses no programa do jornalista David Leterman confessou sua impotência em implantar os projetos políticos definidos em campanha.
Disse com todas as letras que a rejeição ao projeto de saúde de seu governo parte de setores privados (planos de saúde) subsidiados pelo dinheiro público. Foi amargo e cínico ao declarar que se sentiu mal em ter que ajudar bancos e grandes empresas como a GENERAL MOTORS, dinheiro que poderia ser aplicado em saúde, educação, outras melhorias na condição de vida de 90 de milhões de norte-americanos em dificuldades, muitos deles vivendo na linha da miséria.
Sem qualquer tipo de assistência ou apoio. Não citou o crescente número de despejos no país como conseqüência da crise. O número de moradores de ruas, em barracas, trailers, etc.
O problema é que o presidente dá sinais de ter se rendido a essa realidade e parece ter vestido definitivamente o avental de garçom a servir cerveja na Casa Branca. Uma volta por cima fica cada dia mais difícil e cada dia parece diminuir a vontade de Obama. Resigna-se a ser o resultado de um bem sucedido projeto de marketing político e já corre o risco de não ser reeleito em 2012.
O caso da Colômbia é ilustrativo das políticas norte-americanas para os países que Lula chamou de “do terceiro mundo”, resgatando a expressão. Álvaro Uribe, presidente colombiano, vai partir para um terceiro mandato em manobras de bastidores e um referendo de cartas marcadas, ainda que o Departamento de Combate a drogas nos EUA saiba e já tenha denunciado que Uribe é financiado pelo narcotráfico e integra os grandes cartéis da droga. Essas manobras de bastidores implica e inclui assassinato de lideranças de oposição e criminalização das FARCs e do ELN (guerrilhas que controlam um terço do país).
Para esse tipo de política que os EUA pratica isso é detalhe sem importância.
Na foto um dos irmãos de Uribe com latifundiários e traficantes do grupo de Pablo Escobar. A foto é de 1985 o que mostra que os vínculos com o tráfico são bem antigos.
Manuel Zelaya que foi deposto sob a acusação de pretender um novo mandato – mentirosa – ao contrário do presidente golpista Roberto Michelleti ou do general comandante do exército de Honduras, não tem nenhuma ligação com atividades criminosas. O general comandante do exército de Honduras já foi preso e condenado, quando major, por chefiar uma quadrilha de ladrões de automóveis de luxo.
É exatamente esse tipo de gente que interessa ao governo dos EUA. Os que vendem alma, mãe, tudo o que signifique poder e dinheiro. É por isso que apostam em José Serra no Brasil, como apostaram em FHC.
O que Zelaya pretendia com o referendo era unicamente saber se os hondurenhos desejavam uma nova constituição.
Este é o modelo da cédula do referendo que Zelaya pretendia realizar. Não há uma palavra só sobre novo mandato, reeleição, apenas consulta sobre se os hondurenhos desejavam uma assembléia nacional constituinte. Vê-se por aí como mente a GLOBO, como mente Alexandre Garcia, como mente Miriam Leitão ao afirmarem que Zelaya foi deposto por querer um novo mandato.
A América Latina é apenas uma parte do mundo onde se trava uma guerra pelo controle absoluto e pleno exatamente de todo o mundo. De um lado EUA e o que significam (empresas, bancos, latifúndio, sionistas, aliados de um modo geral), associado a elites venais de cada um dos outros países – a nossa inclusive – e de outro o cidadão objeto, ora consumidor, sempre trabalhador explorado num processo de acúmulo de poder e riqueza jamais visto em toda a história da humanidade.
É luta de classes nada além de luta de classes. E com requintes de perversidade que não deixam nada a desejar aos mais brutais ditadores de todos os tempos, ditadores e conquistadores, colonizadores, apenas um pouco mais sofisticados nos métodos.
Tanto se valem de figuras como Kátia Abreu (senadora, latifundiária e corrupta), sobrevivente do período jurássico, como de José Serra que poderia tranquilamente chamar-se Álvaro Uribe, Roberto Michelleti, ou qualquer fantoche em qualquer canto do mundo a cumprir as ordens de Washington e Wall Street.
E Obama, tudo indica, resolveu aceitar o jogo, entrar no jogo, equilibrar-se nessa corda bomba. O instinto de sobrevivência política.
Pagamos o preço de tudo isso.
O desafio é mais que resistir. Honduras, mais próxima da gente, é um símbolo, transcende a Zelaya. O desafio é acordar desse torpor – os hondurenhos mesmo cansados de tanto lutar estão deixando essa lição, dando essa lição – e buscar formas de resistir seja pela sobrevivência de cada uma das nações latino-americanas, ou do terceiro mundo como diz Lula, mas também pela sobrevivência da própria espécie humana como espécie racional.
Sabe aqueles filmes de zumbis, vampiros, etc? Quem prestar atenção verá que não é uma realidade tão distante assim. Holllywood vende isso com o sarcasmo do dominador. Vale dizer, estoure as bilheterias, perceba-se no papel de Homer Simpson.
É por aí que rolam as coisas.