Alguns analistas de meia tigela, daqueles que só veem as coisas e os acontecimentos pela aparência, chegaram a afirmar que a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer tratava-se de uma grande virada ideológica.
QUE IDEOLOGIA É ESSA?
Afirmação dessa natureza só poderia vir de alguém que esteve ausente do planeta nos últimos 13 anos e meio. Alguém que não viu Luiz Inácio assinar a “carta aos brasileiros”; que não viu o gerenciamento petista dar prosseguimento ao de Cardoso na condução da política de subjugação nacional; que não viu a dívida pública saltar de cerca de 600 bilhões de reais para mais de três trilhões de reais; que não viu a promessa de reforma agrária ser substituída pelos acordos com o agronegócio; que não viu a desindustrialização e a primarização da produção nacional; que não viu a educação superior ser entregue a grupos privados, inclusive, internacionais; que não viu a cooptação das centrais sindicais com sua corporativização para possibilitar a perda de direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores; que não viu a armadilha consumista do crédito fácil para favorecer a indústria automobilística e da linha branca, transnacionais, em detrimento das reais necessidades do povo; que não viu as empreiteiras serem favorecidas com megaprojetos de interesse de mineradoras, principalmente, em prejuízo de populações indígenas, camponesas e quilombolas; etc...
O PRISMA DA LUTA DE CLASSES
Desde quando a sociedade dividiu-se em classes antagônicas que o posicionamento ideológico dos indivíduos e dos partidos correspondem aos interesses de um ou de outro lado das classes em luta.
Sendo a característica principal do Estado o uso da força para submeter as classes dominadas, o que dizer do discurso de Dilma inaugurando uma “Unidade de Polícia Pacificadora” (UPP) no Rio de Janeiro, ocasião em que ela disse estar encantada com as UPPs, dizendo que as implantaria em todo o país? E mais, o que dizer do envio da “Força Nacional de Segurança” para reprimir e matar os indígenas em luta e os camponeses, como ocorreu no gerenciamento da petista Ana Júlia Carepa no Pará, entre 2007 e 2011.
O prisma da luta de classes, objetivamente, é o definidor da posição ideológica de indivíduos e partidos. Assim, não precisa ser “cientista político” (talvez melhor não sê-lo) para examinar os procedimentos relacionados acima e concluir que os dois lados dessa pugna jogam água no moinho do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo. Estão, pois, em total consonância com a ideologia burguesa.
Diz o dito popular que ninguém pode servir a dois senhores. Supondo, como querem os analistas de meia pataca, que tenha havido uma virada ideológica: como justificar a presença de Henrique Meirelles, agente do FMI, presente em dois mandatos de Lula e agora estando como “superministro” de Michel Temer?
Em se tratando dos interesses fundamentais do povo e da Nação brasileiros, que diferença pode ser apontada diante da comparação do gerenciamento de turno petista com os demais que o antecederam e, também, deste seu temeroso sucessor? Nenhuma diferença, pois, os fundamentos do apodrecido sistema político brasileiro estão dados pelo seu caráter semifeudal e semicolonial. Condição que o PT e seus congêneres oportunistas eleitoreiros aceitam e reproduzem. Condição que não pode ser quebrada pelo oportunismo, porque para fazê-lo pressupõe uma revolução a qual eles renegam por desfraldarem a bandeira da burguesia, com seus mitos de “democracia como valor universal” e “Estado democrático de direito”.
MATRIZ IDEOLÓGICA
A natureza do Estado de uma sociedade define sua matriz ideológica, pois, estando sob o domínio de determinadas classes, a sua ideologia reflete a ideologia das classes que o dominam. Assim, na medida em que durante os últimos 13 anos e meio o “Partido dos Trabalhadores” prestou inestimáveis serviços ao latifúndio, à grande burguesia e ao imperialismo, como poderia haver uma virada ideológica ou, como sugerem os petistas, um “golpe de Estado” se, sob o gerenciamento de turno de Temer, a natureza do Estado não sofreu e nem sofrerá qualquer mudança, como não sofreu quando Cardoso passou a faixa presidencial a Luiz Inácio?
A IDEOLOGIA BURGUESA DO PT
Sinceramente, fazendo uma análise concreta da situação concreta, como propunha Lenin, responda, caro leitor: tirante algumas propostas aprovadas em congressos “pra inglês ver”, as quais jamais foram postas em prática nos gerenciamentos petistas, o que teve, na prática petista, de ideologia proletária ou popular?
Ao usar e abusar de termos como “republicano”, “democrático e popular” etc., os oportunistas do PT, pecedobê e assemelhados, na verdade, encobrem sua ideologia burguesa com fraseologia oca.
REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA E NOVA DEMOCRACIA
A ideologia proletária, ao contrário da ideologia burguesa com seus mitos, é verdadeira por ser científica, e é científica por ser ancorada no materialismo histórico e dialético. Colocando a prática como critério da verdade, ela aponta para o fato de que só através da Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista, a Nova Democracia, as nações oprimidas e exploradas pelo imperialismo, como o Brasil, poderão se libertar, completando a própria formação nacional, alcançando a soberania enquanto Nação e a verdadeira democracia. Seu programa propõe revolver os fundamentos da velha sociedade e do apodrecido Estado, liquidando os privilégios seculares das classes dominantes, alocando os recursos provenientes da produção nacional em favor do melhoramento geral e imediato da vida do povo massacrado na velha ordem semicolonial/semifeudal de exploração e opressão.