Os meninos, que tinham entre 13 e 17 anos eram ministrados pelas maõs hábeis de Maximiliano Lima, o bom Marquezinho. Quase todos estes jovens se formaram nesta Escola de O Rebate e se embrenharam em dezenas de Tipografias, Gráficas e diversos Jornais.
Dentre estes meninos se sobressaia a presença alegre de Ika Esteves. Filho de José Esteves e Marlene, Ika se destacava pelo afeto que sempre tinha com os mais velhos. Cresceu na Rua do Meio, onde Zé Tenório, apelido carinhoso de José Esteves, transmita a ele e aos demais filhos a educação que recebeu de seus pais e avós, vinda dos Sertões de Carapebus.
Iza cresceu também no ramo de empresa. Lutando por um lugar que soube conquista na sociedade da região ele se dedicou com denodo e perspicácia ao ramo de Antiguidades.
Sabia valorizar seu trabalho de pesquisador de arte e fez, de um velho ponto abandonado na Rua Visconde de Quissama, um lindo local que sempre estava ornado com as belas e desejadas artes da antiguidade.
Era feliz o meu Velho Menino dos Anos 70. Na última vez que o vi, passava pela Rua da Estação com meu filho Luis Cláudio. Ao olhar para a esquina, Luis Cláudio parou o carro e, sorrindo se dirigou a mim dizendo: "Pai, olhe ali o Ika". Em questão de segundos, se aproximou do carro, e num abraço longo e fraterno, meu deu dois beijos na face. Acho qu Ika estava se despedindo de mim. Perguntei por Zé Tenório, por Marlene e ele foi falando dos pais e, ainda sorrindo se despediu de Luis Cláudio e me acenou com alegria. Confesso que revi ele aos 13 anos nas Oficinas de O REBATE...
Soube depois que estava lutando contra uma terrivel doença. Foi o próprio Zé Tenório, na fortaleza de um pai que sofria, que me deu a notícia desta doença.
Em nome de O REBATE e de toda comunidade de meninos dos Anos 70, que deu inicio na Região ao Jovem Aprendiz, quero publicar texto de OS GRAFICOS DE NOSSA HISTÓRIA numa imorredoura homenagem de todos que são citados ao amigo IKA ESTEVES, filho de Zé Twnório e Marlene...
José Milbs de Lacerda Gama editor. Segue o Texto:
O trabalho da imprensa era totalmente artesanal neste dourado tempo de sol e lua em uma Cidade ainda Pura. O REBATE e a GAZETA DE MACAÉ faziam a historia que era contada por dezenas de articulistas, poetas e focas que davam o toque jornalístico como amadores e fazedores de opiniões mais diretas.
JOVEM APRENDIZ DE "O REBATE"
Nas oficinas os gráficos manipulavam caixas grande de tipos de todos os formatos que eram apanhados um a um e colocados nos componidores e depois de amarrados iam para as bolandeiras para uma prova revisional antes de ser levada, pesada e com carinho, para a grande impressora tocada a mão ou por um motor velho e lento.
Nestas oficinas se formavam os autodidatas . Eram jovens pinçados em nosso meio social que sabiam que a profissão era uma maneira fácil e rápida de estarem perto dos grandes valores da intelectualidade neste final de século.
Assim o REBATE fez a cabeça de dezenas de gráficos e aprendizes que pelas suas oficinas passaram .
Lembro-me, e do esquecimento peço desculpas, de alguns destes pilares da vida jornalística e gráfica,. Enilton, Elias, Alfredo Ávila Filho, o bom Surdinho, Roberto, um dos maiores compositores que iniciou se como menino nas oficinas do " O REBATE " , assim Jorge Babá, Kiko, Josias Pires, o filósofo, Pedro Paulo Almeida e Chico, o meigo Caturra, que sempre gostou de uma ramazinha, Ivair de Souza, Ciri, , Sapo, Eulálio, Bidoda e Izaac que formavam o melhor de nossas inteligências no ramo. David , Acílio, Argeu, Amildes, Aramis, e Odalcyr Motta que com suas experiências no trato com as letras formaram os suportes deste mundo belo que é uma oficina de jornal com seus cheiros de chumbo, tinta e papel. Odalcy Motta , “Lorinho” , já tinha experiências no mundo gráfico. Desde menino era visto com seu olhar esverdeado e cabelos encaracolados aos 12 anos no balcão da livraria “O REBATE” do Milton Madureira. Ele me afirmava rindo que era parente longe de Mota Coqueiro. Ceil e Ilce , seus irmãos não negam nem afirmam. Olham de banda. Num piscar concordativo.
Era uma época onde o conhecimento vinha, assim, como a Brisa do Sol. Entrava sem que a gente pedisse ou quisesse. Era um conhecimento que penetrava na cabeça e fluía para os dedos. Foi assim que nasceram o Poeta Marquesinho, o escritor Newton Carlos o Amarelinho do JB, Eraldo e Nelson Mussi, Alfenbake Olive, Milton Madureira, Miguel Ângelo Santos e o Pai de Newton Carvalho e o Allan Birosca em suas crônicas “desfolhando a Margarido”. Crônicas na “Gazeta” e no “O Rebate”.Eles foram forjados nas oficinas e delas apreendiam, nas composições noturnas, o que não se ensinava nas ruas nem nos colégios.
As oficinas “de “ “O REBATE “, de “ A NOTÍCIA “ em Campos de Hervê Salgado, do " CORREIO DE CAMPOS " de propriedade do jornalista Waldemar, onde Hélio Cordeiro aprendeu seus primeiros passos, tinham o valor de faculdades.
Eram celeiros de gente que, nas silenciosas noites, formavam longas filas de composições que seriam lidas nos fins de semana. Campos e Macaé têm suas raízes de histórias cimentadas nestas figuras humanas que pouco são lembradas. Os gráficos foram à mola mais importante no impulsionamento dos grandes jornais e escritores.
Depois, devagar, devagarzinho foram chegando às linotipos modelos 31. Era o progresso no mundo gráfico. Primeiro em Campos no MONITOR CAMPISTA e muito tempo depois em Macaé no O REBATE. Esta era da linotipo criava ciumeiras nos valores empoeirados de nossas oficinas. Não era para menos. Uma grande máquina, com chumbo quente e teclas fazia em horas o trabalho de uma dezena de compositores .
Querendo ou não a linotipo foi bem chegada e se podia fazer nela a rapidez de composições mais longas. Itagiba adorava o invento e nele viu seus artigos serem impressos e lidos. A beleza da criatividade das composições de componidores cedeu lugar à frieza desta máquina quente.
Os contornos de letras, poeticamente criadas pelo mestre “Marquesinho” e pelo criador Izaac, não foram mais vistos e lidos. Mas ficou com a gente a certeza de que seus trabalhos não foram em vão. O pioneirismo desta gama de trabalhadores em oficinas de jornais quero homenagear nestes 75 anos de O REBATE, através do www.jornalorebate.com
Eles cimentaram a estrada dando passagem para as linotipos e estas para este computador que faz de tudo até corrige meus milhares de erros. Este computador é o bicho, reconheço. Ele, no entanto não cria, não se arrepia, nem imagina o quanto foi feito para que ele existisse e reinasse.
II
A vida é uma eterna sucessão de fatos. Sua acumulação forma o que chamam de caráter. O forjamento deste caráter dá, a quem vivencia, a certeza do conhecimento que nos legam nossos antepassados. Feliz em escrever estas memórias e poder citar os pilares do jornalismo de Macaé e sua gente. É como se estivesse com a missão de dizer as gerações do ano 2010 que a coisa não foi bem assim como está sendo contada.
Imprensa em Macaé não é acocoramento ao poder. Temos que deixar na história que “gráfico não é este moleque de recado de patrão que vive as suas expensas e se fazendo de capitão - do - mato entregando companheiros” . Gráfico era, é, e deveria ser sempre, um apanhado de gente irmanado num só pensamento de fraternidade e união.
Eles eram autodidatas, um revisor nativo, que sabia revisar textos de Upiano, de Euzébio ou de Osmar Sardenberg com o mesmo carinho com que compunham seus próprios textos que eram espalhados em bolandeiras e pinçados um a um nos corpos 8 ,l0 e l2 negritos.
A vibração que brotava de “Magrinho” , Luiz Carlos Oliveira, Elton, Luis Cláudio, meu filho, e Emerson filho do” Magrinho” ao verem o jornal na rua, não se media com as medidas materiais. Era a medida dimensionada na alma criativa e fertilizada pelo amor.
Era a medida do próprio simbolismo do coração. A fita que dimensionava o espaço entre o coração e a alma, tinha o brilho que contaminava. Tinha o sabor do doce e o conteúdo do amor. Era lindo ver o sorriso de menino de dezenas destes pilares quando o jornal estava , ainda quente, saindo da impressora para ir para a rua. Eu, Cláudio Upiano, Izaac, Euzébio, Armando e Luiz Pinheiro cheirávamos a página. Era o nosso ópio. Era a certeza de uma obra que ia para a rua onde todos tinham dado a sua parte.
Jornal era assim. Gráficos e gráficas eram assim no final dos anos 60 . Se vocês querem saber mais perguntem a tantos quantos foram gráficos no final do Século que eles dirão muito mais e com maior conhecimento de causa.
III
Moisés de Barros lembra ainda do dia em que, numa das madrugadas frias de agosto, fecharam o jornal sem a última revisão. Dormia, entre resmas de papel e restos de páginas revisadas, o nosso Cláudio Upiano . Neste dia, , eu, Euzébio, Aurelino, Izaac, Josias, Armando, “Surdinho” e” Marquezinho” tínhamos saído de fininho para não despertar o amigo,
O sono não deixou nosso mestre e filósofo ir amanhecer sob o Sol do “Imperatriz” e o fez dormir. Rodaram o jornal depois de varias revisões dele. Quando já estávamos de volta à Redação, e, Lea Chapeta Matoso, nossa secretária, já colava os endereços para os assinantes, eis que Cláudio vê, sob seu olhar de Lynce e de Saber um erro para ele gritante: devia ser uma vírgula mal colocada ou um corpo 10 misturado no 12 novo ou negrito.
Eram 9 horas de uma manhã de Sol ainda frio e ele, com sua caneta sem tampa, com seu cigarro amassado e seu cafezinho vindo do Silvic, ia revisando, na mão, jornal por jornal tentando, nas minúcias de uma letra bem forjada, imitar a correção que só foi para a banca e para os assinantes depois de um a um todos os exemplares terem recebido sua emenda.
Foi, creio, o primeiro e único jornal do mundo e receber uma revisão assim.
À noite a gente ria muito quando alguém vinha reclamar das emendas feitas com caneta. Cláudio, sempre com seu humor aflorado dizia: Na que França estava sendo usada esta técnica nos jornais da Sorbonne”. A mistura de inteligência com a malandragem das noites macaenses saia da fala do filósofo de uma maneira simples e amena.
Uma Araponga de um quintal da Rua do Imperador avisava que ia ter chuva na tarde meio morna deste Domingo.
Acho que era no quintal do pai de Marquinho Brochado ou no de Antonio Alvarez Parada.Fato é que seu canto era um alerta .À tarde os pingos já molhavam as beiradas das calçadas dando vida às sorrateiras plantas que seriam covardemente banidas pelos homens da prefeitura na 2ª. Feira.
AMIGA MARILENA GARCIA E ATUAL VICE PREFEITA FALA SOBRE IKA ESTEVES EM CARTA AO EDITOR
Amigo e companheiro Jose Milbs
Mais uma vez agradeço as informações carinhosas e fraternas.
Soube através das paginas de O REBATE da passagem de IKA ESTEVES.Ele se foi, como todos nós um dia também iremos.
Filho de Zé Esteves e da minha companheira e amiga Marlene: professora , educadora, macaense, lutadora e acima de tudo MÃE. Vivemos muitos momentos especiais das nossas vidas no magistério.Marlene foi uma educadora que através da sua ousadia e honestidade, apresentou na década de 70|80 a ideologia do Colegio Cinecista Caetano Dias( escola comunitária), com dona Izabel Damasceno Simão enfrentando as dificuldades para matricular e formar milhares de macaenses.
Lá se foi esse tempo.............................Djalminha continuou um bom período e depois acabou.
Algum tempo depois tive a alegria de ser professora de Josi, irmã de Ika e uma das mais interessantes alunas que tive em tanto tempo de magistério. Também o tempo passou. Mas não apaga. Lembro-me dela no Parque Aeroporto, há algum tempo atrás, militando em alguma causa comunitária.
Lembrando de IKA é lembrar a Macaé da Imbetiba das ruas tranquilas aonde os nossos meninos e meninas passeavam , namoravam e sonharam o que desejavam para as suas vidas.
Há algum tempo atrás procurei no seu lindo comércio de antiguidades uma fechadura para um móvel que foi da minha família. Queria recuperá-lo.
Ika já não estava mais trabalhando , por motivos de saúde, mas conseguiu aquela pequena peça que me enviou e que hoje guardo com um respeito e carinho muito profundos.
Lá se foi, como todos nós iremos.
Deixa saudades, lembranças e a certeza de que a nossa tribo macaense marcará para sempre as nossas histórias.
Beijos
Marilena