CONSUELO GARRIDO DAS HISTÓRIAS DE MACAÉ E NOSSA GENTE

Das saudades de nossas ruas empoeiradas

Talvez a voz se tenha calado no corpo frágil que o peso dos anos fazia quedar-se um pouco. O olhar ainda mantinha a doçura que sempre se fazia presente quando alguém se aproximava para uma conversa. Consuelo era como se diz na sabedoria que brota da sabedoria popular: "possuidora do olhar que desnuda o ser na mais linda de suas profundezas". Nasceu em Macaé, filha do ferroviário Roberto Garrido de Souza e de Ignezita, cresceu nas nossas ruas empoeiradas numa infância comum a todos que sabem o significado de um social igualitário que toda criança de interior representa na beleza de seu viver livre e alegre. 

Acostumou-se ao trabalho social que os pais faziam na Estrada de Ferro Leopoldina e sendo que daí iniciou sua formação social e sua busca pelo conhecimento das belas coisas de uma Macaé bucólica nos anos 40. As transformações na cidade, como em todas do interior do Brasil, seguiam lentas como lentos eram as passadas dos simpáticos moradores que iam e vinham nas caminhadas do dia a dia interiorano e puro. Uma ida ali na avenida Ruy Barbosa, afetivamente apelidada de rua Direita, levava Consuelo até o Foto Sólon. Era uma feliz rotina em seu Cotidiano passeio matinal. Alegres afagos com os tios Floriano, Armandinho, Sá, Luiz e Carmem e tomava ciência da cultura macaense que este pilar dos Sólons eram os legítimos sabedores. A arte e a sabedoria das artimanhas do saber ela ia colocando na sua cabeça e que a acompanharia até os seus últimos momentos de vida.

A menina/moça nascida deste pilar genético crescia e se tornava adulta e cimentava um vasto circulo de amizades que ia da cidade e se espraiava em todas as periferias. Abria seu horizonte de amizades e carinhosos afagos em todas as camadas da vida macaense. A sutileza de seus gestos e fala ia marcando presença constante nos moradores de Macaé ao ponto de se fazer presença constante em todas as comemorações populares.

Macaé era uma só família. Para Consuelo estar na Aroeira, nos Cajueiros, na Barra do Rio Macaé, na Imbetiba ou mesmo nas distantes Praias dos Cavaleiros e Campista era como se estivesse no centro. Todos tinham nela a presença alegre da menina feliz que sabia se fazer respeitar sem que "ousadia" tivesse lugar em quem a cumprimentava.Consuelo fazia parte de uma cidade inocente e pura. Os anos fez com que a cidade perdesse sua pureza e inocência. Consuelo não perdeu. Conservava até os últimos momentos de vida o olhar de menina que brotava em cada piscar e punha à vista toda a beleza que irradiava para todos os lados de seu balançar ameno corpóreo. Nem os sofrimentos físicos que lhe foram colocados à prova, conseguiram cambalear a menina Consuelo.

Nos traços de suas pinturas, capitaneados pelas mestras Sonia Rocha e Ana tália Asp ela expunha suas obras em tela que eram sempre expostas em lugar de destaque pela velha amiga e incentivadora Carmem Lygia Ferraz Tavares. Sentadinha no seu canto eu a revi numa de suas ultimas aparições na terra. Apontou-me seus trabalhos e deixou ser sonorizado no ar, em harmonia com a natureza, sua voz. Tinha o mesmo timbre dos anos de sua juventude. Nada tinha conseguido balançar sua altivez a beleza desta mulher guerreira que a vida teimava em querer tombar. Lutava contra as tempestades que vida lhe impunha como a mesma força que um menino luta contra o vento na vitória que sente ao ver-se vencedor.

Sua presença no mundo se fazia necessário para provar a todos que a viam que nada pode dobrar a resistência de quem sabe da imortalidade do vital. Macaé perdeu mais um de seus pilares. Talvez muitos que tenham pouca vivencia na historicidade local não façam sentido destas perdas humanas. Nem sei se algum órgão de comunicação, muitos preocupados apenas na bajulação dos poderes constituídos, tenham aberto espaço para perpetuar esta ausência tão linda. O REBATE, no entanto, que esta na Historia de Macaé desde 1932, caindo ali, levantando acolá, mais nunca se acocorando aos poderosos lhe presta esta homenagem no Ponto com mundialmente acessado. Quem sabe se, viajando pelo belo e instigante mundo virtual as pessoas possam, em suas cidades e vilas se tocarem e homenageasse seus vultos simples e belos como o que faz aqui O REBATE on-line.

Que os filhos e amigos de Consuelo Garrido saibam o quanto ela foi importante para a comunidade que viveu. Isto é o que esta imprensa livre e soberana deseja.

Perdeu a cultura macaense e as artes uma das mais incentivas e puras presenças. Perdeu a cidade um vulto alegre e descontraído. O REBATE perdeu uma grande leitora e amiga. Sua voz ainda esta presente em tantos quanto eu, editor deste jornal on-line tive o privilegio de ouvir e admirar. Que todos espalhem este site www.jornalorebate.com e peçam que leiam para perpetuação da vida desta cândida CONSUELO GARRIDO...

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