Como tão bem definiu o jovem cientista social Décio Vieira da Rocha a manhã do dia dois de junho de 2014 amanheceu mais cinzenta do que de costume em Campos e em Macaé. O motivo de tristeza na Princesinha do Atlântico e na planicie goitacá era um só: a morte do jovem José Bittencourt Paes.
Nascido em Macaé no ano de 1948 o menino peralta que aprendeu as primeiras letras no Colégio Estadual Matias Neto soube honrar muito bem o nome herdado do avô Archidêmio Bittencourt, comerciante reconhecido por sua seriedade nos tratos do negócio, e do pai José Paes, honrado operário da Leopoldina. José formou-se pelo SENAI, rumou para o Rio de Janeiro e ao lado de Vera Serra, sua companheira por mais de quarenta anos, formou uma pequena, porém, bela e digna família.
Aos sessenta e dois anos, já aposentado e vivendo com achatada pensão do INSS, não se intimidou. Matriculou-se no pré-vestibular da Prefeitura de Macaé e prestou vestibular para o curso de ciências sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro- UENF. Obteve o primeiro lugar na classificação geral e pôs-se a deslocar todos os dias invariavelmente às 05h45 minutos para o campus da UENF em Campos.
Com seu jeito extrovertido e sua alegria irradiante José de cara conquistou a todos os usuários do TSU, serviço da prefeitura destinado ao deslocamento estudantil. Se sentia em casa mesmo estando em meio a jovens trinta, quarenta anos mais moços que ele e com seu "savoir faire" passava grandes lições a todos. No âmbito acadêmico também não ficou para trás, venceu todos os desafios e jamais deixou se abater por qualquer desdém a sua capacidade. Ao lado da Profª Drª Marinete Santos Silva exerceu papel de grande valia durante os trabalhos ainda incipientes de uma pesquisa sobre o caso de homofobia ocorrido na Macaé dos anos 1960 envolvendo a cassação do ex-prefeito Eduardo Serrano.
Cursando o último ano de faculdade e com expectativas de em fins de 2014 tornar-se um cientista social José passou a ser acometido por fortes dores que cria serem estomacais. Mas, era um infarto que começava a atacar o coração flamenguista. No dia primeiro de junho o último suspiro e o início de uma dolorosa saudade para todos aqueles que obtiveram de Deus o privilégio de contar com sua agradável e alegre companhia.
Mesmo em seus quase últimos momentos de vida mostrava-se entusiasmado em concluir os estudos e preocupado com a situação do Sistema Único de Saúde - SUS, querendo fazer um trabalho sobre o sistema. Era o homem, cidadão e mesmo sexagenário, estudante, que deixa um exemplo admirável e para a municipalidade a dica de homenageá-lo intitulando o hoje Colégio de Aplicação com seu nome.
Diante da perda de uma figura assim tão especial o desânimo pode até parecer inevitável, mas logo a recordação da garra e das idéias de José dão forças para que todos nós sigamos trilhando nossas trajetórias individuais sem, contudo, esquecer da coletividade e suas mazelas. Esse era o sonho de José e esse é o dever de todos nós que aqui ficamos junto a Dona Vera e família na expectativa de um dia, quiçá, podermos com ele gargalhar novamente em outras paragens. Valeu, Zé Carango.