USUFRUIR A VIDA É NECESSÁRIO

À diferença do homem moderno, a chamada pós-modernidade trouxe o cultivo do efêmero. Efêmero não apenas pelo pouco substancial, mas principalmente pela tentativa em romper o tempo, em se destruir a história que os homens criam através de suas experiências.

Vive-se aquilo que muitos chamam de os tempos da violência. Agressões que eclodem sem razões conhecidas, mortes que se perpetuam sem qualquer história prévia que nos fizesse entender o desenvolvimento de um drama. Afinal a morte era, antes, um ato absurdo perante encruzilhadas na vida, perante extremos que escapavam à razão. Hoje são mortes por acaso, assassinatos por bala perdida, quando um corpo se acha num lugar onde o acaso fez questão de encontrar.


Golconda
Golconda, R. Magritte

O mundo atual necessita articular, promover relações, descobrir injunções para que possamos ultrapassar uma séria questão em nossas vidas: sofre-se em função de um excesso, excesso de elementos imaginários, da grandiosidade das imagens, da sedução dos espetáculos, dos fogos de artifício. De tudo que nos espanta! A atualidade está marcada por tais extremos que o meio da linguagem fica aquém a um dizer sobre essa realidade. Perante tal impacto as respostas são imediatas e violentas. Não tem havido tempo para pensar. Menos ainda para amar e todas as injunções implicadas no que se chama de condutas amorosas, o que implica numa disponibilidade de tempo.
Encontrar a Psicanálise nesse contexto é abrir-se ao pensar, colocar-se numa outra direção que venha a possibilitar construções de sentidos, re-significações, fazendo-se, desta forma, com que o psiquismo funcione a favor do humano e a favor da vida.

Ora, estamos vivendo um mundo onde aspectos destrutivos ressaltam sobre aqueles que seriam mobilizadores a uniões, a reconhecimentos e entendimentos. As guerras têm flagelado o mundo e trazido a desesperança a muitos povos, por outro lado rompido com a liberdade, fator que favorece e fortalece as descobertas, a ênfase da verdade sobre a hipocrisia. Em tais condições nada favoráveis ao ato de viver o homem se entrega à angústia e corre, ainda, mais um risco, o de ser apanhado nas malhas dos laboratórios ou seitas prometedoras da felicidade, do encontro com a paz e uma vida plena.

Psicanálise, ferramenta que Freud colocou à disposição não unicamente para tratar dos males das histórias pessoais mal construídas, dos sofrimentos e desentendimentos desse estar no mundo, mas também para falar acerca desse grande mal estar na civilização.

Estou certo de que a Psicanálise tem o vigor e se oferece a desvendar as tramas que se colocam como obstáculos à vida. A questão do pensar tem sido pouco trabalhado pelos psicanalistas. Freud abriu uma porta que foi retomada por Wilfred Bion, que ampliou a noção de inconsciente. É nessas tramas que nos enredamos e acabamos por aceitar como “naturais”, tornando-as paisagens corriqueiras com linguagem própria, que precisamos investir através do pensar, redescobrindo a humanidade e a singularidade de nossas existências.

Pensar com a Psicanálise é utilizar-se de todo um instrumental libertador para a convivência amorosa, no encontro de caminhos éticos onde a vida reflita a magia do artista que a cria e recria, artista esse que somos nós mesmos, conscientes do papel de autores na existência.

Dizia antes que o excesso domina o mundo atual, excesso também de desconhecimento, de um estar interessado em saber. Ora, todo saber gera diferenças. É próprio do conhecimento o rompimento com verdades estabelecidas, é próprio aquele que busca o conhecimento desobedecer às ordens, às determinações que impõem uma cultura homogênea. Aquilo que se denomina por democracia estaria justamente pretendendo uma realidade de convivência de verdades, o que significa dizer uma sociedade altamente transgressiva, na medida em que o saber é esse contínuo ultrapassar de limites.

Mas, vemos nossa sociedade presa num contexto de poucas aberturas, de pouca criatividade, debatendo-se num interior que, em última instância, é construído de negações. Esse extremo de liberdade, ou melhor, essa aparente liberdade de aceitações, oculta uma extrema dificuldade em marcar diferenças. Temos vivido a aparência como uma verdade que ganha proporções de tal forma gerais, que ganha direitos de naturalidade.

A violência tornou-se um convívio necessário, e não uma ética de frustração e impotência perante a vida, o que realmente é. Fortalece-se a perversão por temermos ser, pelo temor da diferença.

Assim é que pensar com a Psicanálise mobiliza olhares diferenciadores e necessários ao prazer de se usufruir a vida.

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