FILME "TROPA DE ELITE" VAI MUITO ALÉM DA FICÇÃO

   "O BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) não foi preparado para enfrentar os desafios da segurança pública. Foi concebido e adestrado para ser máquina de guerra. Não foi treinado para lidar com cidadãos e controlar infratores, mas para invadir territórios inimigos. Tropas similares servem-se de profissionais maduros. O BOPE acelerava meninos de 20 e poucos anos até a velocidade de cruzeiro do combate bélico. Vamos cobrar a loucura da guerra a quem foi treinado para matar"?

   O trecho acima foi transcrito do livro "Elite da Tropa", escrito pelo cientista político e antropólogo Luiz Eduardo Soares e pelos ex-policiais do BOPE, André Batista e Rodrigo Pimentel. Lançado em 2006, o livro apresenta a conduta prática do BOPE, que é retratada pelas descrições das atuações do Batalhão em diversas favelas do Rio. A tensão, as "técnicas" de tortura, a honestidade inegável do BOPE, os tiroteios, e o delírio psicológico fazem parte das páginas de "Elite da Tropa", que mostra o BOPE pela visão de dois de seus ex-policiais.

   O livro também apresenta o BOPE como a melhor tropa de guerra urbana do mundo, pois em nenhum outro lugar do planeta Terra é possível treinar guerra urbana em situações reais todos os dias, como no Rio de Janeiro. Policiais norte-americanos e israelenses são treinados pelo BOPE. Outros que possuem projeção internacional são os médicos brasileiros que se especializaram em atendimento às pessoas atingidas por armas de fogo no RJ. No início, os brasileiros eram instruídos pelos médicos americanos que atuaram na Guerra do Vietnã. Hoje, são os americanos que aprendem com nossos médicos.

   O livro inspirou a produção do filme que, mesmo antes de ter sua película projetada para o público nas "telonas" do Brasil, já é considerado um dos grandes sucessos do Cinema Nacional. O longa "Tropa de Elite" foi produzido pelo diretor e roteirista José Padilha, junto com o ex capitão do BOPE, Rodrigo Pimentel, repetindo a parceria do documentário "Ônibus 174", e por Bráulio Mantovani, que também produziu o filme "Cidade de Deus".

   Várias características isoladas presentes nas histórias contadas nos capítulos do livro foram unidas para compor o roteiro do filme e formar o perfil dos personagens principais: Capitão Nascimento, interpretado de forma impecável e enérgica pelo ator Wagner Moura, e os aspirantes Neto e Matias, vividos por Caio Junqueira e André Ramiro.

   O ator Wagner Moura chegou a fazer um estágio no BOPE para ficar ambientado com a representação da rotina do Batalhão. Durante o curso, sob intensa pressão psicológica, o ator revidou as provocações com um soco no nariz do ex integrante do BOPE, capitão Paulo Storani. O instrutor ficou satisfeito por ter conseguido despertar o sentimento de revolta no ator.

   "Tropa de Elite" se passa em 1997 e foi filmado entre setembro e dezembro de 2006. A tensão presente em vários momentos do filme é conseguida pela trilha sonora formada pelo funk e pelo rock, pelo contraste sombrio entre o claro e o escuro das imagens em vários momentos, pelas filmagens panorâmicas que descortinam horizontes e acompanham os movimentos, pela câmera que vai de um personagem a outro nos momentos de conversação, e pelos efeitos especiais produzidos pelo norte-americano Phil Neilson, que também participou da produção dos efeitos de "Falcão Negro em Perigo". Aliás, Hollywood investiu quase 4 milhões de reais dos R$ 10 milhões gastos na produção de "Tropa de Elite". R$ 800 mil foram financiados pelo BNDS.

   O longa brasileiro ficou famoso de forma prematura, quando técnicos que trabalhavam na produção da legenda em inglês entregaram, por R$ 5 mil, uma cópia digital a representantes da industria da pirataria, que logo reproduziram milhares de unidades do filme — O técnico de edição Marcelo dos Santos Lima foi detido em 29 de setembro, acusado de ter produzido a cópia que originou os DVDs piratas, e responderá em liberdade por violação dos direitos autorais.

   Hoje, mesmo com a estréia prevista para 12 de outubro nos cinemas, "Tropa de Elite" pode ser comprado em DVD, por cerca de 10 reais, em São Paulo, Belo Horizonte, Bahia, Paraíba e Brasília, além do Rio de Janeiro, onde os camelôs até já anunciam o "Tropa de Elite 2", que na verdade é uma cópia do documentário "Notícias de Uma Guerra Particular", realizado por João Moreira Sales e Kátia Lund, em 1998.

   O secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual, Luiz Paulo Barreto, afirma que a reprodução pirata de "Tropa de Elite" é inédita com relação a venda das cópias três meses antes da estréia do filme, prevista inicialmente para novembro, e que será antecipada para outubro, a fim de reduzir os prejuízos da bilheteria.

   Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, um dos autores do livro "Elite da Tropa", o brasileiro não considera a pirataria um crime, ainda que o ato produza um prejuízo de 2 bilhões de dólares por ano à indústria cinematográfica. A queda do movimento das bilheterias nos últimos três anos foi de 10%.

   O diretor José Padilha diz que a cópia de "Tropa de Elite" que circula atualmente é o terceiro corte. Porém, a versão que chegará aos cinemas em 12 de outubro passou por 16 cortes e terá mais trinta minutos de duração, graças a um investimento adicional de R$ 1 milhão. Para ele, o movimento da bilheteria não será ameaçado, pois o público do DVD pirata difere daquele do cinema. Apesar disso, o diretor afirmou estar chateado com a divulgação de sua obra inacabada: "É como se você fosse um escritor e as pessoas estivessem lendo o rascunho de seu livro", disse o diretor para um grande site brasileiro em agosto.

   O filme foi exibido para o público em sessão única na sexta, 21 de setembro, durante o Festival de Cinema do RJ. Os ingressos foram todos vendidos em uma hora.

   Tanto o filme quanto o livro que o originou mostram uma instituição de repressão do Estado em ação prática e objetiva. Um dos relatos mais impressionantes do livro está no capítulo que fala sobre um suposto plano do BOPE para executar, no início da década de 1990, o então governador do Rio, Leonel Brizola, que defendia uma política de restrição das incursões da polícia nos morros e favelas cariocas. O livro conta que Brizola só foi poupado porque a mãe de um dos integrantes do BOPE ficou sabendo sobre o plano, comprometendo o sigilo da operação.

   A funcionamento da sociedade brasileira obedece ao modelo do sistema capitalista, que possui suas bases estruturais no Positivismo do francês Auguste Comte (1798 – 1857), considerado o pai da ciência social denominada Sociologia.

   A Positivismo surgiu no início do século 19 e sua fórmula é: AMOR por Princípio e a ORDEM por base; o PROGRESSO por fim. A expressão ORDEM e PROGRESSO, presente na bandeira brasileira, foi idéia dos positivista Benjamim Constant, na ocasião da Proclamação da República, em 1889.

   Para Comte, os seres vivos devem ser estudados sob uma dimensão estática, o hoje, e outra dinâmica, pois uma situação qualquer, em um momento qualquer da história, diz Comte, é sempre resultado de tudo quanto a precedeu.

   Esta afirmação da filosofia positiva é aplicada a qualquer país e em qualquer fase da civilização, e independe da raça, do clima, da religião ou do aspecto geral da natureza, segundo a teoria positivista em curso na sociedade brasileira hoje.

   Depois do fim da Escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888, tão defendido pelos positivistas republicanos, os negros não foram absorvidos, em termos de igualdade de condições sociais dignas, como cidadãos. Subiram os morros e deram origem às favelas como autênticas expressões habitacionais urbanas dos marginalizados e excluídos já no século 19. O nome favela teve origem nas favas que eram usadas como cobertura das humildes casas.

   O descontrole social gerado pelas desigualdades do sistema capitalista fez necessário a criação de algo que pudesse trazer as rédeas do controle público novamente para o modelo de Estado que reprime quase que exclusivamente os pobres e protege os indivíduos das classes sociais mais favorecidas.

   Seja pelo apelo do "cada um por si", ou pelo imperativo da guerra, o maior perigo é quando as ferramentas de promoção do controle passam a adotar ações e direções próprias, regidas pela sua própria natureza como instituição, e não pela legalidade constitucional.

   O longa metragem "Tropa de Elite" já é um sucesso do Cinema Nacional e merece ser visto, revisto, pensado e repensado em termos de essência social, de conduta do povo, de conduta do Estado e sua polícia, e com relação aquilo que é aceito como corriqueiro, normal e comum numa relação de causa e efeito que acaba gerando, nos mais variados aspectos, problemas percebidos facilmente no funcionamento de nossa sociedade.

Cássio Ribeiro. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

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