AS ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA

A língua falada é a principal ferramenta da expressão cultural de um povo. Nossa língua portuguesa possui uma origem bastante curiosa e, para conhecê-la, é necessário compreender a história da formação de Portugal.

O Império Romano chegou a dominar todo o mundo conhecido no século 3; era dito que desde onde o Sol nascia até onde ele se punha pertencia a Roma. Todas as terras em volta do Mar Mediterrâneo eram controladas pelos soldados romanos ou centuriões, como eram chamados aqueles guerreiros.

A Península Ibérica, onde hoje está Portugal e Espanha, era ocupada originalmente pelos povos iberos, que falavam uma variedade de dialetos locais. Com a ocupação romana, muita gente das camadas sociais mais simples de Roma migrou para à Península Ibérica. Eram operários, comerciantes e soldados, que falavam o latim mais vulgar, diferente daquele falado pela aristocracia e pelos literatos romanos.

Toda cultura mais forte impõe naturalmente certo grau de influência sobre as expressões culturais de um povo menos poderoso em força bélica e dominado, como aconteceu entre brancos e índios, e ainda acontece entre o Brasil e os EUA, pelo menos no campo da dominação econômica e da dependência científica e tecnológica.

Sendo assim, o latim vulgar foi amplamente imposto e difundido por toda Península Ibérica, e é a base principal da formação do português falado hoje. A palavra vírgula, por exemplo, é uma união do termo latino "VIRG", que quer dizer vara e, seguido do sufixo "ULA", equivalente ao nosso diminutivo inha, forma a expressão "VARINHA" ao pé da letra. Eis um lote das conhecidas varinhas:

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Outra palavra da língua portuguesa com origem curiosa no latim vulgar é pílula. Formada pela união entre o termo "PIL", que representa bola, e o diminutivo "ULA", a palavra nomeou nossas "BOLINHAS" tão ingeridas no dia-a-dia como vitaminas, remédios e anticoncepcionais.

Em 300 anos após a invasão romana, a Península Ibérica quase inteira falava uma derivação local do latim vulgar, chamada de Romanço. A única exceção ocorreu numa região montanhosa ao norte da Espanha, chamada de Vascongada, perto da divisa com o sul da França. Ali, até hoje vive o povo original ibérico chamado de basco.

Os bascos conseguiram manter sua cultura geral e sua língua preservadas da tão forte influência romana, tendo inclusive, influenciado de forma significativa o vocabulário da língua portuguesa com algumas palavras: cama, esquerdo, bizarro e modorra por exemplo.

Ainda hoje, em pleno século 21, os bascos usam seu braço armado, o grupo separatista basco ETA, com atividades de ação terrorista em muitos casos, para reivindicarem sua separação da Espanha.

Embora o latim falado pelo povo tenha sido a principal base de formação do idioma português, nossa língua recebeu, em sua formação, a influência lingüistica de outras etnias além dos romanos.

No século 5, os bárbaros germânicos ou escandinavos invadiram a Península vindos do norte. Os germânicos originaram hoje o que é o povo alemão e seus vizinhos no norte da Europa. Suas atividades principais naquela época eram a guerra e a pilhagem dos bens de outros povos.

O germânicos ocuparam toda a Península Ibérica por quase 300 anos e, embora as raízes das influências romanas tenham prevalecido, o vocabulário dos bárbaros contribuiu com muitas palavras que falamos em português hoje: guerra, brandir, gastar, esgrimir, luva, banir, bradar, escaramuça, franco, galope, roubar e trepar são alguns exemplos que mostram, quase sempre por meio da presença rascante do "r" ou "rr", a expressão da natureza violenta e selvagem das raízes germânicas no vocabulário daquele povo.

No século 8, os árabes chegaram à Península Ibérica depois de cruzarem os 14 quilômetros e meio do Estreito de Gibraltar, que separa o sul da Espanha do norte do Marrocos. Sua ocupação dominou quase toda Península e só não exerceu influência sobre as regiões montanhosas da Cantábria e das Astúrias, no extremo norte da Península, onde um pequenino reino católico de resistência se estabeleceu.

Nas Astúrias, uma caverna abrigava o rei e servia como templo de Cristo. Os cristãos desciam as montanhas de repente para atacarem os acampamentos árabes nas planícies. Esses ataques deram origem a Guerra da Reconquista e foram empurrando os árabes de volta para o sul até a expulsão total, no século 15.

Foram quase 7 séculos de ocupação árabe, período em que muçulmanos e cristãos conviveram juntos, mas não se misturaram, principalmente por causa da diferença religiosa. O Romanço permaneceu falado pelos cristãos, embora os árabes tenham influenciado na formação da língua portuguesa com muitas palavras: alambique, álcool, alfaiate, azul, armazém, fatia garrafa e xarope são algumas delas.

Outro sinal marcante da cultura árabe presente na Península pode ser observado nos tradicionais panos que as portuguesas usam sobre a cabeça durante suas danças folclóricas lusitanas. A viola e o pandeiro trazidos pelos portugueses e tão abrasileirados por aqui posteriormente, também têm origem na presença da cultura árabe na Península Ibérica.

O francês Henrique de Borgonha atuou de forma intensa na Reconquista, liderando a expulsão dos árabes do Reino da Galiza, que tinha o norte de Portugal em suas terras. Por isso, o rei de Leão e Castela, Afonso VI, presenteou o infante francês com a mão de sua filha Catarina de Aragão e as terras do Condado de Portucale, que deu origem ao território atual de Portugal.

Falado por grupos étnicos com tradições e costumes tão diferentes dentro da Península, o Romanço sofreu variações e adaptações distintas em muitas regiões, dando origem ao galego-português, onde hoje é Portugal, e ao castelhano em toda Espanha, com exceção do nordeste daquele país, onde se fala o catalão, que é bem parecido com o castelhano, mas definido como uma expressão lingüística à parte.

A expansão marítima portuguesa em busca de novos pólos para comércio teve início no século 15, e difundiu a língua falada em Portugal por países de todo o mundo como Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissal e até Macau, na China.

No Brasil, a língua portuguesa ainda recebeu a influência dos dialetos falados pelos escravos africanos, de onde derivam palavras como moleque e quitanda, entre outras.

O tupi-guarani, falado pelos índios que aqui viviam, foi outro dialeto que contribuiu com palavras para o vocabulário português brasileiro: mandioca, mingau, guri e abacaxi são alguns exemplos.

O português falado no Brasil recebeu muitas influencias não observadas em Portugal. Mesmo assim, nossa pronúncia hoje ainda é mais parecida com aquela falada nos tempos de Cabral, há cinco séculos.

Outras diferença está no uso do nosso gerúndio (saindo, andando e subindo), que não é aplicado em Portugal, onde é dito estou a sair, estou a andar e estou a subir. Nós brasileiros costumamos dizer que vamos entrar no fim da fila; já os lusitanos caminham até o rabo da bicha, onde entram.

Nossa identidade, nossos costumes, nosso folclore, nossa culinária, nossa religião, nossos valores e nossa cultura em geral só existem graças a nossa rica língua portuguesa, que é o principal agente unificador, promotor e propagador de tudo o que é nosso, ou seja, nossas mais variadas expressões do dia-a-dia através dos tempos.

 

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