Atualmente, parece que o mundo inteiro se dedica à exaltação da
República Popular da China. Por conta do espetáculo da Abertura dos
Jogos Olímpicos o mundo concentra o olhar no país que mais cresce no
Universo, como se isso fosse alguma coisa excepcional, se não fosse
trágica.
Ambientalistas experientes não poupam denúncias de inconseqüência. Os
economistas, que só sabem medir através de cifras que trazem lucros e
aumentam investimentos, aplaudem a alta do PIB chinês. Porém, a que
trágico custo para o mundo...
O alerta foi acionado pelo evento olímpico que abriu janelas ao olhar universal, expondo feridas cruéis, deixando à flor da pele os efeitos de uma ditadura tatuada na massa que é retratada nos noticiários: o estilo marcial e a truculência policial, um ato isolado de terrorismo, raras declarações que escapam ao controle ditatorial dos governantes. Pequenos eventos que resvalam na fantasia dos painéis coloridos que vislumbram o olhar, deixando antever a leitura das entrelinhas, apesar do aparato espetacular, diríamos, à chinesa, como convém.
Assisti a um documentário da National Geographic que registra a ação
dos ventos sobre um terço das áreas desertas que afligem o território
chinês. Gente simples de pele esturricada, clamando socorro;
tempestades de areia que espantam agricultores e invadem capitais
chinesas. Um humilde lavrador, indagado sobre os culpados da tragédia,
afirmou enfático:
- Culpa dos seres humanos. Eles nunca se satisfazem com aquilo que têm e sempre querem mais...
Com a abertura promovida pelos Jogos Olímpicos nos deslumbramos e nos
assustamos com o modo de vida de boa parte da população. Amor e
espanto. Cidadãos comendo insetos e acúleos como pitéu gastronômico;
trabalhadores sobrevivendo com míseros três dólares diários; trânsito
infernal, poluição descomunal. Indivíduos sem opinião que não concedem
entrevistas porque tudo é controlado, inclusive fotografar a famosa
Muralha sem autorização da ditadura militar que dirige, com mão de
ferro, o “campeão mundial do PIB”.
Apesar da tragédia ambiental que caminha velozmente com o milagre
econômico que faz da China o maior comprador do mundo, todos queimam
incensos ao país. Abrem créditos, exportam produtos em milhões de
toneladas – aço, carne, petróleo, grãos. Tudo para manter negócios em
alta e bem alimentar governantes chineses que, além de estimularem o
aumento da miséria dos concidadãos em troca do progresso a qualquer
preço, promovem o comprometimento dos sistemas que asseguram a vida no
Planeta Terra.
Passados mais alguns anos, alentada pelo sistema econômico selvagem que
faz a alegria dos centros financeiros, dos oportunistas e, muito mais
poderosa que antes, o que será da China quando formar exércitos e
produzir mísseis atômicos em série?
Após a destruição de sistemas naturais próprios em troca das chaminés
industriais que estimulam a massa - que até recentemente só andava de
bicicleta - da poluição ambiental que exporta para países como o Japão,
destinatário das tempestades de areia do deserto chinês, da natalidade
descontrolada que eleva níveis populacionais do país, o que será dos
brasileiros?
Prejudicados pelo efeito cascata das tragédias ambientais chinesas que
serão exportadas e vão nos atingir, mais cedo ou mais tarde,
acolheremos mais sobreviventes de uma tragédia anunciada e vamos lotar
as esquinas brasileiras com pastelarias! Para alimentar os nacionais
de baixo escalão com pastel e caldo de cana, gratuitamente, através de
mais um vale distribuído pelo governo popular do Brasil...
Voltando ao desastre ecológico que se desenha no horizonte do Universo,
a culpa deverá ser creditada à ganância dos sistemas
econômico-financeiros que empurram as nações emergentes para o fosso
ambiental. No afã de fazer parte destes grupos, que dominam emergentes
e controlam mercados mundiais, o governo do Brasil será exercido a
bordo de uma aeronave que transporta em suas asas a representação de um
povo com índice cultural sofrível, que tem conta bancária e carro do
ano importado na garagem.
Toni Marins, jornalista