Durante anos fui tripulante de vôo, o que me confere algum conhecimento sobre o assunto em maior evidência no país – a queda do Airbus da TAM.
Apesar da evolução tecnológica, um avião sempre será um avião; um carro será sempre um carro. Independente das modificações técnicas que venham a ocorrer, quem guiou um modelo 1950 consegue guiar um veículo atual.
As regras serão sempre as mesmas.
Remetendo ao reverso do Airbus da TAM ou qualquer outro que tem a função de reverter potência usando o empuxo da aceleração para reduzir a velocidade do avião e ajudar a frear o mesmo: se os freios estiverem funcionando apenas em um lado do veículo, o que acontecerá?
Ele vai dar um “cavalo de pau” para o lado que funcionar!
O reverso é um item imprescindível à segurança dos aviões, não devemos banalizar. Longe de ser um detalhe “dispensável” ao vôo, conforme recomenda o manual da empresa fabricante e de acordo com algumas notas veiculadas na mídia. Com um dos reversos “pinado” (termo técnico que indica o reverso lacrado, sem uso na desaceleração e na frenagem) o pouso do aparelho estará perigosamente comprometido. Foi o que ocorreu...
Sabemos todos, e as empresas de aviação estrangeiras também o sabem, que o Brasil é um país continental que decola aceleradamente na ampliação do transporte aéreo. Significa dizer que algumas centenas de aeronaves, senão milhares serão necessárias para a expansão aérea que deverá ocorrer em tempo relativamente breve, dez anos, se tanto.
Bilhões de dólares serão investidos e disputados pelas duas empresas mundiais - a Boeing e a Airbus, as mais prováveis concorrentes capazes de atender pedidos em escala global. Coincidentemente, foram exatamente as duas empresas que sofreram perdas significativas: o Boeing da Gol caiu primeiro; em seguida, o Airbus da TAM: por quê?
Por mais incrível que a sugestão possa parecer, não pairariam outras probabilidades nos dois trágicos eventos?
Voltando ao reverso das aeronaves, o equipamento é tão importante quanto o trem de pouso ou os freios dos aviões. Igualmente são indispensáveis para a segurança do vôo, nos pousos e nas decolagens, a qualidade da pista e os chamados “growings”, aquelas ranhuras que facilitam a frenagem e o escoamento das águas pluviais. Principalmente com pista encharcada, conforme é habitual ocorrer no aeroporto de Congonhas.
Pretender induzir o raciocínio da opinião pública para a não importância do funcionamento do reverso no inaceitável acidente com o Airbus da TAM, sugere despreparo e falta de caráter dos envolvidos com a aviação comercial brasileira.
Toni Marins, jornalista
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